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DILEMAS DA ASSISTÊNCIA TÈCNICA DIGITAL NA AGRICULTURA


Publicado em 05 de novembro de 2021
Por Jornal Do Dia


* Manoel Moacir Costa Macêdo

No “normal e no novo normal” persistem os dilemas na trajetória da “produção ao consumo” de bens e mercadorias. Num país continental como o Brasil, predominam realidades sociais distintas entre regiões e dentro delas. As contradições são visíveis e não são recentes. A pandemia da Covid-19 apenas escancarou à persistente e antiga desigualdade, frente às retinas cegas e hipócritas. A pobreza, a doença e a miséria convivem vis-à-vis com a riqueza, o consumo e o luxo. A pujante produção de alimentos e a fome partilham o mesmo território.

O Brasil está assentado no cenário mundial como a “periferia do centro”. No passado eram os coronéis dos engenhos de açúcar e os latifúndios improdutivos do Nordeste. O modo de produção estava lastreado na mão-de-obra escrava. No presente predominam as commodities agropecuárias inseridas no mercado global, os latifúndios dos monocultivos, o desemprego e o trabalho precário. O antropólogo Darcy Ribeiro, qualificou o trabalhador brasileiro nesse contexto social como o “carvão” do processo de produção.

O Estado brasileiro, principal organização da sociedade, dominado pelas classes sociais estabelecidas no topo da pirâmide da desigualdade, recentemente anunciou pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA em parceria com o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA a consultoria agrícola digital aos agricultores familiares do Nordeste. O chamado PAD – Agricultura de Precisão para o Desenvolvimento. Programa formulado pelos acadêmicos oriundos da Universidade de Harvard nos Estados Unidos da América.Para o MAPA a “Ater Digital, irá oferecer novas ferramentas de assistência técnica digital para ampliar o atendimento aos agricultores familiares. Uma maneira inteligente de enfrentar os efeitos e as ameaças da pandemia sobre a segurança alimentar e de continuar inovando”.

O PAD foi experimentado pelos agricultores da África e da Ásia, a exemplo de Bangladesh, Etiópia, Índia, Quênia, Paquistão, Ruanda, Uganda e Zâmbia. O Brasil é o primeiro país da América Latina a implantar esse programa eo Nordeste a primeira região. De início, o programa propõe beneficiar os pequenos produtores rurais, entre eles os criadores de caprinos, ovinos, e os produtores de milho e feijão. O “agricultor familiar receberá as orientações por mensagens de celular, duas vezes por semana. Com linguagem simples, ele terá acesso aos dados meteorológicos, técnicas de plantio, manejo das culturas, informações sanitárias e rendimento das colheitas”.

O Censo Agropecuário Brasileiro de 2017, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, identificou que menos de dez por cento dos estabelecimentos agropecuários no Nordeste recebem assistência técnica e quase um quarto da população adulta residente no meio rural é analfabeta. Em 2020, o índice de insegurança alimentar no Nordeste, esteve acima dos 70%, enquanto o percentual nacional era de 55,2%. A fome afetou 9,0% da população brasileira e esteve presente em 13,8% do Nordeste. A insegurança alimentar grave atingiu 7,7 milhões de nordestinos e nordestinas. O Nordeste é a região mais afetada pela fome no Brasil.

Um enorme desafio a ser enfrentado pela “Ater Digital” nos dilemas e contradições nordestinas. As tecnologias digitais em sua complexidade não são facilmente assimiladas pelos agricultores pobres e com baixo nível de escolaridade. As inovações tecnologias não são neutras, mas transformadoras dos sistemas de produção em uso. A feição humana é insubstituível em situações de carências dos valores elementares da civilização. Em decisão as tradições versus os riscos e rupturas das tecnologias digitais nos sistemas de produção em uso pelos pequenos agricultores. Os dilemas estão postos. O tempo dirá qual o verdadeiro objetivo do PAD, o alcance das metas e os resultados concretos na melhoria de vida dos agricultores familiares nordestinos.

* Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo.

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