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Futebol: mandingas x ciência


Publicado em 13 de novembro de 2021
Por Jornal Do Dia


* Vânia Azevedo

À medida que a ciência avança no meio esportivo, novos elementos vão sendo introduzidos na comissão técnica, viabilizando um melhor aproveitamento,não somente do ponto de vista físico, como na manutenção da saúde mental. Como atividade de maior evidência no cenário esportivo mundial, o futebol implica em grandes investimentos, cobra um alto preço aos seus profissionais, gerando profundo estresse em razão da constante cobrança de resultados, razão pela qual o treinamento mental passa a ser uma realidade, senão, uma necessidade.

Acreditar que a preparação físico-técnico-tática é suficiente para enfrentar as exigências do futebol, decididamente é se negar a enxergar o futebol moderno, onde a velocidade das jogadas demanda raciocínio rápido e decisões precisas, condições que são efetivamente afetadas pela imensa carga de estresse sofrida pelo atleta a todo instante; um ambiente onde as relações interpessoais são complexas, exigindo do atleta uma lucidez mental que nem sempre é possível sem o acompanhamento profissional de um Psicólogo ou do Mental Coach, suporte imprescindível nos tempos atuais.

No momento em que se aproxima o final dos campeonatos nacionais – com destaque para o futebol -, é chegada a hora de buscar nos detalhes o diferencial para obtenção das metas, senão, na pior das hipóteses, tentar manter-se onde está. Não é de hoje que percebemos a resistência que o futebol sempre ofereceu à preparação psicológica, como recurso para estabilizar o equilíbrio emocional dos jogadores, quando as pressões (interna e externa) se fazem presentes. Essa resistência descabida já nos rendeu fiascos memoráveis. Em várias situações, quando se acreditava possuir o favoritismo, vimos o Brasil se descompensar após se ver atrás no placar. Quem não lembra do Brasil, totalmente desestruturado, desmoronar diante da Alemanha no histórico 7×1 (Rio/2016), sem emitir qualquer reação diante de um resultado adverso?

Há pouco mais de dois meses, ao ser indagado, no rádio, se não seria o caso de submeter os jogadores do São Paulo a um trabalho psicológico (na tentativa de resgatar o equilíbrio do grupo), Muricy, coordenador de futebol,respondeu que o clube tinha psicólogo, mas a equipe possuía qualidade técnica e o que se passava não era nada que o técnico não pudesse resolver – sendo demitido posteriormente. Pelo visto, o técnico, Hernán Crespo, não solucionou o problema.O curioso é que esse mesmo Muricy, quando no Santos (2011), levou a psicóloga Juliane Fechio a subir para o time principal (até então na base), sendo responsável pela boa recuperação dos Argentinos Miralles e Vecchio, ambos com problemas próprios da profissão, resposta que impactou positivamente em todo grupo.

Foi necessário Simone Biles (ginasta americana) gritar ao mundo a sua dor para a imprensa levantar a questão e o assunto ganhar a atenção do mundo esportivo. Nos últimos anos foram muitos os jogadores brasileiros que passaram pelo drama da depressão, mas nada se ouve a respeito porque o tema, para o mundo do esporte, não é relevante. A atitude do atleta é sempre de omissão, por medo da discriminação, da incompreensão e das críticas que surgem em razão da queda de rendimento, problemas que naturalmente acabam impactando na vida pessoal e profissional do atleta.

Nessa perspectiva é que o treinamento mental cumpre o seu papel de treinar a mente do atleta no fortalecimento da atitude, imprimindo disciplina mental, além de trabalhar a concentração, foco, ajudando o indivíduo a lidar com as situações adversas, como as derrotas e as frustrações inerentes a vida, bem com a autoestima.

Entender a presença do treinador mental, ou mesmo do psicólogo, na comissão técnica como irrelevante sempre caracterizou o futebol brasileiro. Ignorar os problemas pessoais do jogador brasileiro sempre foi lugar comum, como se um esporte coletivo como o futebol pudesse render efetivamente sem que haja uma condição equânime do ponto de vista físico-técnico e mental de todo o grupo. Raros são os clubes que tomam a iniciativa de contratar um Coaching Esportivo, e quando o fazem, é como bombeiro, apaga o incêndio para logo em seguida ser dispensado.

Conceber as causas que motivam essa rejeição ao novo, ao necessário, seja do profissional da psicologia, seja do Coaching Esportivo, nunca me pareceu uma questão de recursos insuficientes, mas da própria cultura do futebol – com suas peculiaridades e conveniências -superdimensionando a importância do técnico, em detrimento dos demais profissionais que compõem a comissão técnica – é soberano e tem a palavra final. Já o técnico, deixa de ganhar um grande aliado no momento em que recusa o que seria o ponto de equilíbrio da preparação do jogador.

A lamentar, a crença e a relevância concedida pela imprensa ao misticismo que sempre predominou no futebol – como espalhar sal na área do goleiro e outras crendices do gênero – em detrimento da ciência que, comprovadamente, tem demonstrado que o empirismo do futebol é coisa do passado.

* Vânia Azevedo é professora

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