Entrevista Singular | Dr. Paulo Muzy

DKVS – Dr. Paulo Muzy, diga-nos qual o primeiro passo que as pessoas devem tomar para adquirir hábitos saudáveis, posto que o Brasil caminha para uma sociedade com sobrepeso?

PM – Assim como o mundo, o Brasil já tem uma grande parte da população de obesos e pessoas com sobrepeso. O objetivo é duplo: educar em nível escolar e informar na idade adulta. Se por um lado a maior prevenção é a informação, até porque a criança sai da escola sabendo multiplicar ângulos, porém, não faz ideia do que escolher comer no almoço ou ainda a diferença de um sanduíche e um prato de arroz feijão: o adulto precisa de incentivo e regulação. A Agência Regulatória Brasileira já tomou providências iniciais para retirar de circulação ativos que eram utilizados em alimentos hiperpalatáveis (biscoitos, bolachas e lanches rápidos) capazes de induzir doenças neoplásicas ou facilitar doenças crônico degenerativas não transmissíveis, contudo, há de se fazer um esforço para remodelar a cesta básica do brasileiro melhorando a qualidade dos alimentos que ela contém e barateando preços, para que jamais um prato de arroz com feijão, carne e salada seja mais caro que um sanduiche na rua. A outra parte é do indivíduo, que necessariamente precisa entrar numa fase de contemplação da melhora alimentar – e isso vem com informação – que deve ser maciçamente divulgada em meios de comunicação de massa já que a internet é terra de ninguém e qualquer influencer com mais de 10 mil seguidores é capaz de sugerir um produto em sua rede que não necessariamente está compromissado com o bem-estar de quem o segue. Segunda parte é a promoção de meios: intervalos para alimentação no trabalho, locais para reservar alimentos trazidos de casa a serem consumidos durante o regime de trabalho e finalmente, algo que somente acontece com o tempo, a aceitação social de comportamentos alimentares mais saudáveis como meios de melhora de qualidade de vida.

DKVS – Quando as pessoas buscam atividade física com o objetivo estético, muitas das vezes utilizam-se de artifícios, a exemplo os anabolizantes . São nocivos ou com acompanhamento correto podem quebrar esta visão negativa?

PM – O uso de testosterona em reposição hormonal para indivíduos que perderam a competência na produção do hormônio é uma história diferente do uso com finalidades estéticas, que fique bem claro. Hormônio baixo é tão prejudicial quanto hormônio alto: o corpo vive bem e de forma eficiente quando há equilíbrio – e por isso o trabalho do médico é tao difícil e contínuo… este equilíbrio muda de acordo com as condições de vida do paciente: sono, alimentação, exercício, stress físico e mental, mesmo nas menores modificações. Logo, mesmo em reposição hormonal, não existe uma dose ideal de hormônio: esta irá mudar conforme mudar a rotina e idade do paciente, e claro, o melhor médico para avaliar isso é o especialista em Endocrinologia e Metabologia.
Quanto aos esteroides anabolizantes, estes carregam efeitos colaterais que são inerentes da molécula a que são formados. O uso estético de 1 anabolizante esteroidal, por exemplo, requerirápelo menos o uso de 4 a 5 drogas diferentes para regular resistência a insulina, pressão arterial, lípides (colesterol e triglicerides) além do sono e , portanto, muitas vezes humor. E portanto, quando se fala em saúde, fica incoerente levantar a bandeira de saúde se o indivíduo começa a ter de tomar remédios para diabetes e colesterol, é ou não é?
Logo, o uso do esteróide anabolizante para finalidades estéticas é uma escolha que só cabe ao paciente fazer, mas cabe ao médico alertar sobre o outro lado da moeda que ninguém fala: a contrapartida do uso, os efeitos colaterais que são etapa obrigatória para quem decide por manter seu uso e finalmente, o risco dos efeitos adversos.
Vale lembrar que os esteroides anabolizantes têm aplicações médicas em doenças que levam à perda grande de tecido muscular, contudo, este não é um uso estético… grandes queimados, pós- cirurgia de extensos, demorados e complexos procedimentos são algumas causas plausíveis para o uso destes. Contudo, mesmo tal uso deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar onde endocrinologista, nutricionista, profissional de educação física e fisioterapeuta devem participar ativamente de todo o processo.

DKVS – Você é das referências mais sólidas para quem deseja mudanças concretas. Em sua Clínica, os trabalhos são feitos de forma multidisciplinar?

PM – Começamos a trabalhar de forma multidisciplinar em 2005, logo, temos muita experiência nesse tema, até porque muitos confundem multidisciplinaridade com transdisciplinaridade ou ainda com imperícia… transdisciplinaridade é quando profissionais atuam fora de sua área de atuação e a imperícia ocorre quando um profissional é incapaz de resolver algo que é de sua responsabilidade e ele passa o paciente, como se este fosse um problema, para que outro profissional resolva dentro de sua área de atuação algo que não lhe compete.
A verdadeira multidisciplinaridade acontece quando todos os profissionais – de diferentes formações – partem do mesmo conhecimento, contudo, agem dentro de sua área de atuação onde está seu mister. Vale reforçar que é necessário que este conhecimento seja compartilhado, do contrário , áreas de atuação diferentes não saberão indicar o trabalho do colega de forma precisa, inviabilizando a melhora do paciente e necessariamente caindo na prática imperita de sua profissão, já que encaminhar corretamente o paciente também faz parte do conhecimento necessário para que se exerça com eficiência e eficácia.

DKVS – Em suas palestras pelo Brasil, qual o tema indispensável para os que o seguem?

PM – Acredito que todos os temas que tiram as pessoas das escolhas fáceis e tentadoras que tentam vender soluções simples e sem esfoço para problemas complexos são importantes. As pessoas são suficientemente diferentes para que estes temas jamais esgotem… Contudo, faz parte lembrar que não existe performance sem saúde… que já teve um simples resfriado sabe o quando pernicioso é para o treinamento e a alimentação e , portanto , o resultado físico…

DKVS – Quais os elementos necessários para ganho de massa muscular com qualidade e segurança?

PM – Conhecimento e boa orientação.