Vendedores de pipoca e coca-cola
Muito barulho por nada
Publicado em 09 de fevereiro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Como povoar uma sala de cinema em plena era do streaming? A indústria que parecia exaurida, indisposta com as possibilidades que conquistaram a simpatia do teórico italiano Ricciotto Canudo (que em 1911 redigiu o Manifesto das Sete Artes), invocou Santa Tecnologia e varreu a poeira para baixo do tapete, garantindo a sobrevida de um modelo de produção que teima em ignorar o necessário questionamento de suas verdades.
A novidade demorou a fatigar a gurizada, anunciando outra crise. A projeção em 3D e a Alta Definição, no entanto, já não garantem o descanso milionário dosjudeus sustentados pelo mercado exibidor tupiniquim. Aqui, como no resto do mundo, uma nova crise se pronuncia.
Observo o esforço realizado pelo Cinemark e coro de vergonha.Se o Cine Vitória, a sala de exibição mantida com a cara e a coragem por Rosângela Rocha, jamais se furtou a investir na cinefilia embrionária da aldeia, apostando tudo no eventual interesse de improváveis gatos pingados atraídos pela força da narrativa audiovisual, o todo poderoso complexo multiplex especializou-se no comércio de pipoca. Deu no que deu. Hoje, o monopólio mantido por força dos poderes extraordinários dos heróis uniformizados da Marvel sucumbe ante a inanição. Vale dizer: sem as piruetas de um herói com os ovos esmagados pelo colante colorido, o povo do Cinemark morre de fome.
Peco por simplismo, eu sei. De fato, oargumento aqui apresentado talvez soe divertido, como se pretende. Mas tem a profundidade pouca de um pires. Raso,raso. Mas um passatempo vulgar, evocando de novo o escritor que esnobou o Nobel, não merece mesmo mergulho mais fundo do que quatro parágrafos de galhofa. No mais, os verdadeiros autores seguirão fazendo das tripas coração, enquanto a indústria se dispõe a vender coca-cola.