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A Fragmentação Geoeconômica
Publicado em 18 de fevereiro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), estamos vivendo a era da “desaceleração” que é caracterizada por uma desaceleração prolongada no ritmo da reforma comercial e pelo enfraquecimento do apoio político ao comércio aberto em meio às crescentes tensões geopolíticas.
Para o FMI, a desaceleração econômica global e as mudanças climáticas, juntamente com a crise do custo de vida e os altos níveis de endividamento contribuem para o agravamento das tensões geopolíticas que tornaram ainda mais difícil abordar questões globais vitais. Vivemos um momento em que mais cooperação internacional em várias frentes é necessária para o enfrentamento do espectro de uma nova Guerra Fria que, conforme o FMI, pode levar o mundo a se fragmentar em blocos econômicos rivais. E para o FMI, isso seria um erro de política coletiva que deixaria todos mais pobres e menos seguros.
A entidade internacional aponta que a integração econômica ajudou bilhões de pessoas a se tornarem mais ricas, saudáveis e com melhor educação. O FMI destaca que desde o fim da Guerra Fria, o tamanho da economia global praticamente triplicou e quase 1,5 bilhão de pessoas saíram da pobreza extrema. Este legado precisa ser mantido.
Mas a questão na visão do FMI é que nem todos se beneficiaram da integração global. Os deslocamentos do comércio e da mudança tecnológica prejudicaram algumas comunidades. O apoio público à abertura econômica diminuiu em vários países. E desde a crise financeira global, os fluxos transfronteiriços de bens e capital têm se estabilizado.
Temos vistos que as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo aumentaram em meio a uma elevação global de novas restrições comerciais. E adicionalmente, a invasão da Ucrânia pela Rússia causou não apenas sofrimento humano, mas também enormes interrupções nos fluxos financeiros, de alimentos e de energia em todo o mundo.
O perigo de tudo isso é uma nova onda de fragmentação geoeconômica sem controle, ampliando-se os custos de transações. Além disso, teríamos restrições à migração fronteiriça, fluxos de capital reduzidos e um declínio acentuado na cooperação internacional que nos deixaria incapazes de enfrentar os desafios de um mundo mais propenso a choques.
O FMI entende que isso seria especialmente desafiador para aqueles que são mais afetados pela fragmentação. Os consumidores de baixa renda nas economias avançadas perderiam o acesso a produtos importados mais baratos. Economias pequenas e de mercado aberto seriam duramente atingidas. A maior parte da Ásia sofreria devido à sua forte dependência do comércio aberto.
A conta que vem para o Brasil de uma possível fragmentação é a redução dos ganhos que tivemos em desenvolvimento dos transbordamentos de tecnologia que impulsionaram o crescimento da produtividade e os padrões de vida. Em vez de alcançar os níveis de renda das economias avançadas, o mundo em desenvolvimento ficaria ainda mais para trás. E isto ocorreria com o Brasil.
Diante desta real possibilidade de fragmentação a orientação é o país concentrar-se na ampliação do comércio, controle da dívida e cuidado com as ações climáticas.
Eu entendo que o comércio tem um importante papel na economia global e conta com um importante organismo internacional que vem buscando referido incremento, trata-se da Organização Mundial do Comércio (OMC) que tem ampliado a conclusão de acordos de abertura de mercado.
Ressalto no quesito de cuidado com as ações climáticas, um informe recente divulgado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), informando que 73% dos jovens da Eslováquia acham que a humanidade falhou em cuidar do nosso planeta. Dois terços consideram decepcionantes as ações dos políticos para lidar com a crise climática. Ainda segundo o BIS, existe um estudo recente realizado em vários outros países mostrando que 40% dos jovens estão pensando em não ter filhos por causa da crise climática. É claro: a próxima geração sabe que estamos ficando sem tempo.
Neste mesmo relatório do BIS é apontado que a crise climática é uma crise que envolve tudo e que já prevíamos há muito tempo. É isso que separa esta crise, este desafio, de outros desafios que enfrentamos: poderíamos ter previsto, mas sentamos em nossas mãos e olhamos um para o outro em vez de agir. E agora estamos ficando sem tempo. Dessa forma, devemos redobrar os nossos esforços para mitigar o impacto da crise climática para reverter a devastação do nosso planeta, ação mais emergente diante da fragmentação geoeconômica.
Eu sou adepto do pensamento geopolítico de Saul Bernard Cohen (1925-2021), ele foi um geógrafo americano que entendia que o mundo estava dividido em dois tipos de domínios: as regiões geoestratégicas e as regiões geopolíticas.
Esta fragmentação geoeconômica que silenciosamente ocorre no mundo trará consequências fortes para os países menos desenvolvidos e poderá acirrar os abismos existentes entre nações e povos.
Cuidar da consolidação do Brasil como um importante país no cenário do comércio internacional será fundamental para a nossa competitividade, dentro de um conceito que isto se dá através das relações geopolíticas, inserindo-se importantes organizações internacionais das quais o país é membro associado.