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O Retorno da Geopolítica
Publicado em 15 de abril de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Saumíneo Nascimento – saumineon@gmail.com
O Fundo Monetário Internacional em análise recente aponta para preocupações com a fragmentação econômica e financeira do mundo que se intensificaram nos últimos anos em meio às crescentes tensões geopolíticas, laços tensos entre os Estados Unidos e a China e a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Para a entidade internacional, referida fragmentação financeira tem implicações importantes para a estabilidade financeira global, afetando o investimento transfronteiriço, os sistemas de pagamento internacionais e os preços dos ativos. Isso, por sua vez, alimenta a instabilidade ao aumentar os custos de financiamento dos bancos, diminuindo sua lucratividade e reduzindo seus empréstimos ao setor privado.
Este cenário sinaliza para a necessidade de retornarmos os estudos sobre o conhecimento que precisamos ter sobre a Geopolítica. Para abordar a disciplina irei referenciar três teóricos que trabalharam com o tema: Alfred Mahan (1940-1914), Halford Mackinder (19861-1947) e Nicholas Spykman (1893-1943), eles podem ser considerados os fundadores da Geopolítica.
Eles foram professores: Alfred Mahan no Colégio Naval dos EUA; Halford Mackinder em Oxford e na London School of Economics; e Nicholas Spykman em Yale -, a influência de suas ideias ultrapassou, em muito, as fronteiras da academia. Os três autores foram, a seu modo, conselheiros de líderes mundiais: Alfred Mahan dos EUA, em ascensão na virada do século XIX; Halford Mackinder do Império Britânico, que buscava preservar seus domínios e status no início do século XX; Nicholas Spykman dos EUA, que se afirmavam como potência mundial, diante de desafios em meados do século XX. Seus conselhos foram dados por meio de conceitos e mapas geopolíticos.
A Geopolítica é o estudo e a prática da política do poder internacional definida no espaço geográfico, é uma disciplina que analisa estratégias de poder. A Geopolítica tem por objeto a interação poder e do espaço na esfera internacional. Isto em minha opinião é o que ocorre mais fortemente nesta 3ª década do Século XXI, em que estamos vendo uma nova configuração do poder internacional e o acirramento da competição entre as maiores potências mundiais, que estruturam suas estratégias de ampliação do espaço de poder e do espaço geográfico.
Assim, conforme previsto pelo FMI, consolidam-se as tensões geopolíticas, medidas pela divergência no comportamento de votação dos países na Assembleia Geral das Nações Unidas, e isto também é repercutido na estabilidade financeira mundial.
De acordo com o FMI, um aumento nas tensões entre um país investidor e um receptor, como entre os Estados Unidos e a China desde 2016, reduz a alocação transfronteiriça bilateral geral de investimentos em carteira e créditos bancários em cerca de 15%. Isto ocorre porque os fundos de investimento são particularmente sensíveis a tensões geopolíticas e tendem a reduzir as alocações transfronteiriças, a países com perspectivas de política externa divergentes.
Este retorno da Geopolítica que vivenciamos, reacendeu o alerta para as tensões geopolíticas que efetivamente ameaçam a estabilidade financeira por meio das relações financeiras. A imposição de restrições financeiras, o aumento da incerteza e as saídas internacionais de crédito e investimento desencadeadas por uma escalada de tensões podem aumentar os riscos de rolagem da dívida dos bancos e os custos de financiamento. Também poderia aumentar as taxas de juros dos títulos do governo, reduzindo os valores dos ativos dos bancos e aumentando seus custos de financiamento.
O mundo já vem pagando uma elevação de custos por conta de referidas tensões geopolíticas que são transmitidas aos bancos através da economia real. Existe um termo de que o efeito das interrupções nas cadeias de suprimentos e nos mercados de commodities no crescimento doméstico e na inflação possa exacerbar as perdas de mercado e de crédito dos bancos, reduzindo ainda mais sua lucratividade e capitalização. É provável que o estresse diminua a capacidade de assumir riscos dos bancos, levando-os a cortar empréstimos, pesando ainda mais no crescimento econômico.
Um exemplo destas tensões é a recente decisão da Arábia Saudita e outros países produtores de petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP +) que informaram no dia 2 de abril cortes voluntários na produção de petróleo. Isto na visão do BrazilJournal é uma demonstração de que a Arábia Saudita e seus aliados do Cartel (OPEP) estão priorizando suas próprias demandas econômicas e planos de gastos de vários trilhões de dólares que dependem de preços altos do petróleo, em lugar de laços geopolíticos históricos. E isto trará consequências na inflação mundial e mais pressão para que os Bancos Centrais elevem as taxas de juros o que pode ocasionar mais recessão em determinadas economias.
Esta é mais uma variável que poderá contribuir para a ampliação da fragmentação financeira decorrente de tensões geopolíticas, podendo ainda, perturbar os fluxos de capital e os principais indicadores econômicos e financeiros do mundo, limitando as possibilidades de diversificação do risco internacional, como a redução do número de países nos quais os residentes domésticos podem investir.
Diante do apresentado entendo que compreender a Geopolítica e saber fazer uso adequado de suas teorias será essencial para este momento de necessidade de redução de riscos de novos conflitos mundiais que poderiam causar redução da nossa capacidade de alcançar os objetivos do Milênio apresentados nos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da chamada Agenda 2030. Não podemos perder a oportunidade de manter o pacto global dos 17 ODS que estão relacionados a aspectos ambientais, econômicos e sociais. Que as nações poderosas entendam que precisamos cuidar de proteger a vida na terra.