Merecedora de todos os aplausos.
Nos bares da vida
Publicado em 13 de maio de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
Sabe Deus quantas colunas já dediquei ao cantor de barzinho, os maneirismos, os cacoetes notáveis em falsetes forçados, o repertório manjado de voz e violão.
Operário da música, obrigado a realizar todo tipo de concessão artística, o intérprete com agenda limitada aos bares da vida, onde quem paga quase sempre fala pelos cotovelos antes de se importar em ouvir, é um dos profissionais mais maltratados por gente metida a besta, como eu.
Ao sentar à mesa de um bar, quero saber de cerveja gelada, acepipes e lorota. Os amigos reunidos sob os mesmos pretextos contam sempre as mesmas histórias. Ainda assim, mais das vezes, merecem mais atenção do que os trinados exagerados, os apelos carentes de um cantor enfastiado com o próprio ofício, mal pago, cansado demais para tomar outro rumo profissional.
É raro um cantor de bar chamar a minha atenção. Quinta-feira, no entanto, surpreendi-me com os olhos e os ouvidos inteiramente voltados para Ana Luiza. O burburinho no Bar do Mine Golf lotado não foi capaz de sufocar a beleza e a precisão de sua voz.
Um ponto fora da curva, exceção que confirma a regra, a excelente apresentação de Ana Luiza não há de me converter em um notívago inveterado, um bêbado insone à cata de trinados. Nada disso. Com um copo à mão, admito, entretanto: cantoras como ela, tão raras, estejam onde estiverem, são merecedoras de todos os aplausos e brindes comovidos.