Quarta, 22 De Janeiro De 2025
       
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O caso Morrissey


Publicado em 22 de junho de 2023
Por Jornal Do Dia Se


Afrontoso todo!

Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
 
Ex-líder dos Smiths, uma das mais celebradas bandas dos anos 1980, o cantor inglês Morrissey anunciou duas apresentações no Brasil, como parte da turnê de seus 40 anos de carreira. Ele vai cantar em São Paulo e Brasília nos dias 27 e 30 de setembro, respectivamente.  
Militante vegano e LGBTQIA+, Morrisseyé também conhecido por dar com a língua nos dentes. Já resvalou em declarações racistas (“Obama é branco por dentro”), xenófobas (“Você não pode negar que os chineses são uma subespécie”) e misóginas (“Madonna é o mais próximo de prostituição organizada que existe”).
O caso Morrissey prova, artistas são homens de carne e osso. Há quem os julgue, ao contrário, sabedores de verdades estranhas ao comum das gentes, o populacho. A visão romântica do poeta coroado por um círculo de luz, feito um iluminado, talvez fizesse algum sentido quando a palavra escrita era privilégio de poucos. Hoje, em plena era do streaming, não passa de desatino, idolatria, produto da cabeça fraca dos desmiolados.
Vira e mexe, algum artista cai em desgraça, em função de declarações fracamente infelizes, carregadas de pré conceitos lamentáveis – a banda podre da cultura eurocêntrica, perpetuada mundo afora, desde sempre. Sinal dos tempos. ‘Errare humanum est’. Mas os justiceiros sociais de plantão não o reconhece, implacáveis.
 O clima é de inquisição, de caça às bruxas. O fio da guilhotina ameaça até os queridinhos de causas simpáticas. Morrissey, por exemplo, justamente a personalidade mais influente da música pop no século XX. Crítico da monarquia britânica e feroz defensor dos direitos animais, o eterno frontman da banda The Smiths teve a cabeça colocada a prêmio depois de tomar parte em um corporativismo completamente dissociado do curso dos acontecimentos. Já saiu em defesa de colegas acusados de assédio sexual e também ostentou o broche de um partido conservador, afrontoso todo. Caiu do cavalo.
Caiu, mas não aprende. Em um episódio cômico, Morrissey criticou duramente os produtores da série Os Simpsons, em função da caricatura pós-punk encarnada em um personagem. Lisa Simpson rouba dinheiro dos pais para ver um show de Quilloughby, da banda The Snuffs, apenas para descobrir que o sujeito se tornou um velho cínico. O cantor vestiu a carapuça, deu chilique.
Quem come prego conhece a costura das próprias calças. Convém mencionar, no entanto, que Morrissey vem lançando discos fantásticos, um depois do outro, discos que passam batido por conta da polêmica mais rasa, numa inversão escandalosa do valor notícia nas sociedades hiper conectadas. Nem o conjunto da obra, muito acima da média, poupou o seu trabalho de um adoecido relativismo de base moral. 
Eu sei,contudo, o leitor há de concordar comigo: o exercício artístico não é ofício de homens santos.
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