Quarta, 22 De Janeiro De 2025
       
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O calendário das pedras


Publicado em 05 de julho de 2023
Por Jornal Do Dia Se


Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
 
Não sou, nunca fui apaixonado por bola. 
Pouco antes de morrer, no entanto, meu pai me convidou para assistir um jogo do Confiança. Desde então, conto os dias para levar meu filho envolvido num manto azul e branco ao Batistão.
Há algo de belo no ego diluído em corpo coletivo de torcida. Ali, o contrato social é outro, diverso. No contexto de um estádio, o palavrão aproxima, fortifica laços. A mãe do juiz, coitada, assume o papel elevado de uma entidade sem feição, sem forma, sem identidade, sem passado, sem história. O filho da puta, ao contrário, homem de carne e osso, convive com a promessa sempre renovada de atentados e agressões.
O Batistão completou 54 anos. Meu pai morreu batendo à porta dos 70. Comparo a idade dos dois e me dou conta do paradoxo inerente à percepção do tempo. A grande arena erguida a poucos passos do Rio Sergipe resiste à voragem dos anos há mais de cinco décadas. Mas uma vida inteira é mero suspiro no calendário das pedras. Uma tarde de sábado num estádio de futebol, entretanto, 90 minutos apenas, pode durar para sempre.
Ainda há tempo para o governo de Sergipe celebrar o Batistão como o estádio merece. Ano que vem, talvez, uma data redonda, como pede a efeméride. Ao fazer assim, honraria a memória Serigy, torcedores dos times locais, profissionais da bola, superando em prática a lorota cartorial da tal sergipanidade.
Celebrar o Batistão contemplaria boleiros e pernas de pau, como eu mesmo, meu pai e até meu filho, que nunca chutou uma pelota. Aos três meses, no entanto, proletário até segundo aviso, Inácio não perde por esperar, já tem cores e camisa para vestir em sua primeira partida de futebol.
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