A indesejada das gentes

 

Carrego um peso amarrado em meu calcanhar. A indesejada das gentes persegue os meus passos há anos, desde quando a minha fé no deus ingênuo da eternidade e da juventude tombou numa estrada. Hoje eu sei, a espinha quebrada me lembra todo dia: posso morrer a qualquer momento.

José Celso passou dessa pra melhor. Gente que jamais botou os pés num Teatro fez cara de espanto. Estes ainda acreditam na ilusão da matéria e da permanência, fazem de tudo para fincar os pés na lapso do presente- ballandchain.

Os vivos sempre perdem, agora eu sei. Todos os homens vivos serão enfim derrotados, sem choro nem vela. Amores acabam, entes queridos se vão.A vida não tem remédio, sucumbe à exaustão ou à agonia. Ponto final.

Penso em Zé Celso passando a vista sobre minhas digressões, às gargalhadas, morrendo de rir de experiência tão limitada, as minhas convicções. Desiludido, admito o mistério, contudo. O que me é desconhecido não cabe numa página de obituário.