No éter
Os escaninhos da memória
Publicado em 01 de agosto de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
“O lado de lá” está mais interessante. A constatação do poeta Amaral Cavalcante, motivada pela partida de Luiz Melodia, dessa para melhor, há tantos anos, considerava perdas e ganhos sensíveis, a soma de gênio vertido em realização acumulada nos escaninhos dos colecionadores.
O poeta chorava por si mesmo, fiadona boa educação dos próprios ouvidos, saudoso de canções jamais ouvidas.De fato, considerando tudo, altos e baixos,a meninada na ativa ainda tem de comer muito feijão com arroz antes de anunciar uma revelação à altura do primeiro time da Música Popular Brasileira.
Os homens passam. No breve intervalo de uma vida, alguns escrevem versos, outros fazem música. Por vezes, o produto de inspiração tão diversa sobrevive aos ciúmes do autor. Os melhores versos, as melhores canções, pobre consolo, estas ficam.
Hoje, enquanto o poeta Amaral Cavalcante morre de tédio no outro lado, um vagabundo em pleno mistério, dissolvido no éter, a memória dos vivos rende homenagens. Eu lembro o amigo, o lirismo e a malícia eternizada na melhor crônica da terrinha. O cantor e compositor Lula Ribeiro resgata o registro de um número com Luiz Melodia (nesta página).
Os homens passam, fica a constatação de tantas baixas. Sem a necessária renovação dos quadros artísticos da brava gente, a tendência é a confirmação de uma falência ideal que já sentimos na pele.
Melodias se vão. E nos deixam a todos mais pobres.