Fogo fátuo

 

A verdade é como fumaça, sempre aparece. 

Seja o vapor barato das lombras adolescentes, seja um anúncio eclesiástico, a eleição ritual de um novo Papa caindo de velho, no Vaticano. Não há esboço de gesto realizado sobre a face da Terra livre de rastros alheio ao apetitedas chamas.

A homologação de um acordo de delação premiada lança sinais perturbadores na atmosfera rarefeita de Brasília. Azul e vermelho piscando, os pretos e os pobres concordam com o refrão da banda Reação, é sempre sinal de perigo.

O tenente coronel Mauro Cid resolveu abrir o bico e contar o que fez, relatar o que viu e ouviu a serviço do ex-presidente Jair Bolsonaro. Desde então, os prováveis implicados em comércio ilegal, delírios golpistas e falsificação de documentos trabalham para o desacreditar, manter o depoimento nas sombras.

Bolsonaristas de variada estirpe e até generais do exército têm razões nada republicanas para temer o feixe de luz aceso pela língua solta de Mauro Cid. Partidários do obscurantismo, os criminosos contavam com o silêncio cúmplice de todos os envolvidos. Agora tremem.

Fake news, orçamento secreto, sigilos de cem anos, os instrumentos adotados pelo projeto de poder bolsonarista lançaram a República num calabouço. Lá, sob um manto escuro, alguém ameaça riscar um fósforo.Fogo fátuo. Sabe-se lá o que há de nos ferir a vista.