Chutando
Piedade em Estância
Publicado em 28 de setembro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos – riansantos@jornaldodiase.com.br
É muito raro. Por vezes, no entanto, um ator sobe ao palco virado em outro. Eu mesmo só vi essa mágica acontecer duas vezes. A primeira, ainda menino, quando Isaac Galvão e Luiz Carlos Reis montaram ‘Esperando Godot’ no teatro do Cultart. Depois, quando Isabel Santos virou Piedade, uma senhora mortificada pela faina diária, importunada pelos servidores da ordem, bem na frente de meu nariz.
Foi no teatro João Costa, batizado com o nome de um professor muito querido, no Centro Cultural de Aracaju. ‘Pieadade, a seu dispô’ integrava um festival de eventos patrocinados pela Lei Aldir Blanc, com a chancela da Prefeitura.
Isabel era um retrato vivo da revolta resignada, não suportava mais nada. Sua voz rouca arranhava os ouvidos da plateia. Os ombros caídos atestavam, ela estava por um fio. Até a respiração da atriz, pesada, cansada, comunicava o seu desamparo. Sozinha sob os holofotes, no meio do mundo, pessoa e personagem era uma coisa só, o mesmo pedaço estragado de carne barata, à mercê da força de quem pode tudo, abandonada à própria sorte e o arbítrio dos homens.
Sobre o texto de Euler Lopes já não resta nada por dizer. Aqui, no entanto, transparece de modo muito saliente a empatia exigida aos escritores em dias de tumulto. A direção de Rita Maia, por sua vez, pode até abusar das interferências sonoras, mas dá a Isabel o controle necessário sobre a mis ènscene. Por fim, convém se ater à reação do prezado público: Naquela oportunidade, estivemos todos completamente absortos, na mão da atriz o tempo inteiro, do começo ao fim.
Esta semana, Isabel Santos apresenta o espetáculo em Estância, na programação do Festival de Artes Cênicas promovido pelo governo de Sergipe. Não se trata aqui de qualquer uma, mas de uma artista moldada por mais de 40 anos de Teatro. E ainda chutando.
Piedade, a seu dispô:
Local: Auditório do Senai, em Estância
Data: 29 de setembro
Hora: 19h
ENTRADA FRANCA