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RUDEZA DO PRECONCEITO


Publicado em 28 de outubro de 2023
Por Jornal Do Dia Se


* Manoel Moacir Costa Macêdo
 
O preconceito tem sido explorado em um amplo espectro conceitual. O comum é o racismo, abastecido por crueldade, discriminação e sadismo. Humanos apartados pela superficialidade da cor e raça. Segregados como dominantes os alvos, loiros, altos, bem-nascidos, bem-criados e situado no topo da pirâmide da desigualdade. Como inferiores, os negros, cabelos crespos, baixos e jogados na base da pirâmide da distribuição de riqueza. Acrescente a “aporofobia” -, rejeição aos pobres. Inteligência, sabedoria, humanismo e espiritualidade, são descartados da matriz do preconceito. Estamos encarnados igualmente como humanidade, em determinada geografia da reencarnação.
A história registra várias expressões de preconceitos. Alguns conhecidos, outros ofuscados em seus horrores. A perseguição nazista dos judeus. Humanos assassinados de forma cruel, somente por serem judeus. Para os nazistas, eram porcos e imundos. O apartheid na África do Sul de supremacia branca, sobreviveu até os anos noventa do século passado e derrotado formalmente, pela indignação mundial. Em visita ao campo de concentração de Auschwitz, um religioso do alto clero cristão, expressou: “onde Deus estava quando 1.5 milhão de pessoas, a maioria de judeus, foram mortas” pelos nazistas. Do outro lado do oceano, a escravidão negra dos africanos, pela ganância colonial portuguesa no Brasil, está registrada como preconceito e exploração humana de mais de quatro milhões de escravos. Humanos transformados em máquinas nos engenhos e latifúndios. Não eram judeus, mas pretos e africanos. A guerra continuada do extermínio dos indígenas -, os povos originários do Brasil.
O preconceito continua com disfarces e sutilezas. Uma deles é a “origem geográfica e de lugar” das pessoas. Não quer dizer a “indicação geográfica de produtos e selos comerciais”, distinguidos nos negócios com agregação de valor, como o presunto de Parma da Itália, o whisky da Escócia e os vinhos do Vale dos Vinhedos no Brasil. Em direção oposta da origem geográfica de bens, realça o preconceito de gente, pela geografia do nascer. Não são coisas, mas pessoas. Não são produtos, mas nordestinos. Os nascidos no Nordeste pátrio, são discriminados e estereotipados de “baiano” e “paraíba”. Separados de outros nacionais como bons e maus, bonitos e feios, pobres e ricos, trabalhadores e preguiçosos, apenas pela geografia do lugar. Não se escolhe onde nascer, são mereceres de reencarnações sucessivas.
Exemplos não faltam para exemplificar o preconceito dos nordestinos. Cabeça achatada, festeiros e acomodados. Também não é desconhecido o preconceito de “retirante, flagelado, migrante e pau-de-arara”. As secas, cercas, escravidão, engenhos e desigualdade, são formadores da inferioridade tatuada no imaginário da sociedade, sobre o significado de “ser nordestino”. Não são opiniões, mas “construções das elites tradicionais das atividades agrícolas, como a produção do açúcar, do algodão e da pecuária do final do Século XIX que formataram o Estado Nacional brasileiro”.
A polarização insana alimentada de dentro e de fora, estimula o preconceito dos nordestinos. O Nordeste acolheu o nascimento do Brasil, construiu a identidade pátria, gerou riquezas e pariu expoentes na arte, na ciência, na literatura, na política e na genialidade de famosos e anônimos. O nordestino continua apesar de tudo e de todos “um forte” em sua identidade nacional.  Não cultua o separatismo e nem o preconceito. Imaginem o Brasil, sem o Nordeste e os brasileiros, sem os nordestinos.
[ALBUQUERQUE JÚNIOR, D. M. de. Preconceito contra a origem geográfica e de lugar: as fronteiras da discórdia. São Paulo: Edições MMM Editora e Livraria Ltda. 2012, 136p.].
 
* Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado.
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