O compositor em pessoa.(Divulgação)
Mãe é mãe
Publicado em 21 de novembro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Gilton Lobo é mãe. Poeta e compositor, ele reuniu uma verdadeira prole de jovens artistas em torno de versos e melodias arrancadas a um violão velho de guerra. E trata a sua música com zelo de matriarca.
Com produção do maestro James Bertisch, ‘A peleja de Zé Florista contra o monstro da solidão’, o EP assinado pelo conjunto Marionéticos, recém lançado, registra e atesta o pendor de Gilton Lobo para a palavra mais simples, repleta de significado, o gosto do sujeito para as harmonias herdadas de rica e já antiga tradição, a tal da Música Popular Brasileira.
Os meninos e meninas de Gilton Lobo, artistas de origens e gerações diversas, conta com gente muito talentosa. Lygia Carvalho, Ewa Vieira, Mildes, Glória Costa, Marcos Galdino e Carlos Tampa integram uma “bandinha de sonhos”. O resultado, contudo, é de uma beleza tangível.
O batismo do projeto, aliás, remete a uma projeção um tanto onírica, uma fantasia já confessada por Gilton ao justificar o impulso por trás da abertura d’A Casa dos Marionéticos, um espaço reservado a todo tipo de manifestação artística, no Inácio Barbosa. Como um títere, ele confessa o apreço pela artesania e o bastidor, atua sempre em favor do espetáculo, uma alma sensível vocacionada para carregar pianos.
Ouço o EP dos Marionéticos, sinto uma pontada de nostalgia. Aqui, cada verso carrega um enunciado, uma preocupação incompatível com os beats e os bytes da música realizada hoje, sufocada pelos artifícios da produção e da tecnologia. Importa cantar, contar uma história. Antes dos memes e de bordões surrados.
“Cantamos pela ingenuidade de Zé Florista, que quer salvar o mundo, os invisíveis sociais e suas vidas suspensas no ar. Cantamos pelo coração de Lorca, pela inspiração que nos trazem as cores tropicalistas, os seus sentidos e os pijamas de Caetano. Alegria Alegria. Alegria e dor. A gente sempre por um triz, cantando”.
Isso tudo eu afirmoapós muita conversa jogada fora sob uma samambaia de plástico, no jardim de Gilton. Bastaria, no entanto, reproduzir o depoimento dele próprio, a mãe do projeto, o compositor em pessoa. Quem pariu Matheus que o balance, afinal. Mãe é mãe.