Bicho político, devoto da causa comunista, o poeta chileno viveu no olho do furacão (Arquivo)
Neruda, urgente!
Publicado em 22 de fevereiro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Leio em O Globo: A Justiça chilena ordenou a retomada de investigação sobre a morte de Pablo Neruda. Oficialmente, o poeta teria morrido de câncer de próstata em 1973, 12 dias após o golpe militar de Augusto Pinochet.
A família de Neruda acusa Pinochet de tê-lo envenenado. Um estudo recente apontou a presença da bactéria ‘Clostridium botulinum’ em grande quantidade no organismo do vencedor do Prêmio Nobel, também detectada em um dente exumado em 2017, indicando um possível envenenamento.
O peso da desconfiança repousa sobre essa página infeliz da História e da Literatura, desde sempre. Há dez anos, um juiz determinou a exumação dos restos mortais de Neruda, amparado em depoimento de seu motorista. Segundo este, o poeta lhe procurou, tomado por grande inquietação, alegando que tinha recebido uma injeção enquanto dormia. Horas depois, Neruda estava morto.
Eu, de minha parte, faço coro ao poder judiciário chileno. E vou além: É urgente saber de Neruda. Vida e obra, sobretudo.
A biografia de Pablo Neruda, redigida de próprio punho, uma confissão realizada em primeira pessoa, é dos depoimentos capazes de iluminar os caminhos percorridos por povos inteiros. Bicho político, devoto da causa comunista, o poeta chileno viveu no olho do furacão, obrigado a testemunhar os tristes intervalos entre os fins e os meios adotados pelas imperfeitas revoluções socialistas – uma distância imensa.
É urgente, repito, saber de Neruda. Para nos reconhecermos. Para entender de uma vez por todas como a burocracia atrasa, desde sempre, o destino fraterno dos subjugados.