A fé dos homens públicos

 

As festas do homem abadá poderiam ser mais generosas com os artistas da aldeia. Sem palco, no entanto, gente como o cantor e compositor Lula Ribeiro precisa recorrer a espaços privados, os bares da vida, a fim de manter algum contato com o prezado público e cumprir o mandamento sagrado de ir sempre aonde o povo está.

Lula Ribeiro tem história, serviços prestados e inserção pronunciada no cenário da música nacional, notável em parcerias com nomes de peso na Música Popular Brasileira .Para celebrar os 169 anos de Aracaju, entretanto, ele precisará se apresentar entre as quatro paredes de um restaurante. Os espaços públicos da capital sergipana foram tomados por louvores comerciais e aleluias bancados pelo contribuinte – cristãos, macumbeiros, budistas,ateus convictos e agnósticos reticentes.

Público para aplaudir e pagar pela arte realizada em Sergipe não falta, os empresários da mesa posta já perceberam. Bares, restaurantes e bistrôs, como A Casa do Mangue comandada pela chefe Roberta Nascimento, se transformaram em espaços de inflexão da sensibilidade nativa. Este é um dado positivo. Lamentável é que o poder público vire as costas para os tambores comunais de nossa gente, como o governador de plantão deixa claro, um evento após o outro, com as exceções manjadas de praxe.

Fabio Mitidieri, o governador que ignorou solenemente o Festival de Artes de São Cristóvão ao mesmo tempo em que injetou uma verdadeira fortuna na micareta de Fabiano Oliveira, empenha agora as burras do estado em proselitismo religioso sob o pretexto de celebrar um feriado cristão. Refiro-me mais uma vez à Vila da Páscoa Iluminada – uma festa orientada por um escancarado proselitismo religioso.

Neste particular, aliás, o prefeito Edvaldo Nogueira não será passado para trás, como ocorreu no pleito em que Fabio Mitidieri foi eleito governador de Sergipe. Além de bancar um show evangélico, o prefeito de Aracaju fez questão de pousar para foto na tal vila da Páscoa, em pose contrita.

Essa não é uma questão de fé, não é uma questão de foro íntimo. Ali, naquele espaço, em evento promovido pelo estado, o gesto de Edvaldo Nogueira e Fabio Mitidieri envergonha o credo no estado laico, um pilar fundamental da República.