DR. OSÓRIO DE ARAÚJO RAMOS
Publicado em 16 de março de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Manoel Moacir Costa Macêdo
A passagem humana na Terra para os crentes na pós-materialidade segue um roteiro divino livre de dogmas e determinismos. As reencarnações sucessivas aperfeiçoam a existência, numa combinação inseparável entre corpo e espírito, mediado por uma membrana onde grudam as ações e pensares da vivência terrena. Habita a Terra oito milhões de reencarnados, e aguardam as reencarnações advindos de outras moradas no cosmo, aproximados vinte e cinco bilhões de espíritos. Contabilidade que ultrapassa a ciência positivista, em limitados sentidos sensoriais.
Na perspectiva desse paradigma em construção, alguns cumprem missões de provas e expiações, em face do egoísmo, orgulho e consumismo, outros alcançam quefazeres luminares da solidariedade, caridade, aperfeiçoamento moral, servir ao outro e desprendimento material. Uns são trabalhadores em resgate, outros, seres angelicais que seguem a rota mais curta para alcançar o que se chama de felicidade.
Nas devidas proporções e métricas no tempo e espaço, o Dr. Osório, sergipano de Aracaju, nascido em 1918, situa-se na geografia da reencarnação, como um ser diferenciado na escala evolutiva. Não o conheci pessoalmente e nem partilhei relacionamentos, somos de reencarnações distintas. Adentrei em sua história pelos livros, depoimentos e feitos.Não mereceu uma longa vida terrena, apenas sessenta e oito anos, o suficiente para cumprir os seus deveres, no caminho da eternidade. Um sopro para os que acreditam na “vida após a vida”. A sua pequena estatura “decorrida da hipercifose, doença adquirida na infância, quando menino, nas travessuras de criança”, realçou o gigantismo do seu espírito nas labutas memoráveis que lhe foram confiadas. Primeiro, como contador, guardião do “Tesouro do Estado de Sergipe”, e adiante como, humanista, professor, advogado, juiz de direito e desembargador -, a completude da carreira jurídica.
Entre as tarefas profissionais que a vida lhe desafiou, o Dr. Osório, desempenhou um rol de nobres misteres. Professor de francês, português e matemática, domínio fluente desse idioma estrangeiro e competências em distintas disciplinas da ciência formal. Diretor do Colégio Comercial Laudelino Freire em Lagarto, “escola de orientação cenecista, à época Campanha Nacional de Educandários Gratuitos”, oportunidade para os nascidos em berços modestos, serem educados. Dizia que o “conhecimento é cumulativo” -, uma habilidade indestrutível. Destacado membro da OAB – Ordem dos Advogados de Sergipe, em funções diversas, a exemplo de Presidente, e representante no Conselho Federal. Incansável no servir, foi ainda membro da fraterna Ordem Maçônica.
Merece destaque e júbilo entre todas as pelejas, a mais corajosa foi servir à causa política, como militante e dirigente do PCB – Partido Comunista Brasileiro. Organização ideológica marxista, que privilegiava uma estrutura estatal vinculada às “necessidades e possibilidades”de mulheres e homens. Entre os sentidos do seu manifesto, rezava a utopia de uma sociedade justa e igualitária. Opção política que exigia firmes convicções ideológicas e resistência aos preconceitos, sacrifícios e perseguições -, registro à causa coletiva. Versão cristã de “amar ao próximo com a si mesmo”. Dr. Osório, com o seu pequeno porte físico, desempenhou como gigante encargos nas várias dimensões da sociedade. Foi reconhecido pelos seus pares, conterrâneos, amigos e familiares. Escreveu o engenheiro agrônomo José Lavres: “um homem exemplar de senso ético, humano e justo nas relações com as pessoas. Era muito generoso, principalmente com os mais humildades”.
Contadoria, política, docência, advocacia, magistratura e filantropia, renderam louvores e bem dizeres, sem vinculações materiais e pecuniárias, mas, o compromisso com a transformação e justiça social.Em depoimento, escreveu a professora Ádria Lavres: o Dr. Osório, sofreu dores e ranger de dentes, “por acreditar em uma sociedade mais justa, igualitária, democrática e cidadã, foi preso político na ditadura de Getúlio Vargas por nove meses, dois dos quais incomunicável, sem a sua família saber o seu destino, se vivo ou morto”.
Os despotas não apreenderam que ideias e utopias não se encarceram, elas se reproduzem e multiplicam pelos milagres dos deuses. Elas nunca morrem.
Aos que desejam conhecer o legado do Dr. Osório, leiam a recente obra: “Direito como ofício, vida como causa: Dr. Osório de Araújo Ramos. Aracaju: Criação Editora, 2024”, dos autores Sayonara Rodrigues Viana e Claudefranklin Monteiro.
* Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo e advogado.