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As eleições de 2024 em Aracaju, as pesquisas induzidas, alguns números e fatos da pré-campanha


Publicado em 24 de setembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


* Cleverton Costa Silva
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Quando se trata a respeito de processos eleitorais, um dos aspectos que mais desperta o interesse do público é o conjunto de resultados das pesquisas de intenções de votos, pois esta é uma forma de representar em números cada momento em que se desenrolam os fatos definidores da dinâmica que desenha a conjuntura política. Ao serem divulgadas, as pesquisas pré-eleitorais e eleitorais vêm a público mostrando números predominantemente voltados para intenções de votos: espontâneas, onde os números revelam quem das(os) candidatas(os) estão “nos corações e mentes”, ou “na ponta da língua” de cada pessoa consultada; ou estimuladas / induzidas, onde quem pesquisa diz os nomes das(os) candidatas(os), facilitando a tarefa da escolha e diminuindo respostas como “não sabe / não respondeu”.
Habita o senso comum entre quem opina sobre a política que “existem pesquisas para todos os gostos”, o que vem se revelando como uma verdade desde sempre, sendo perceptível por quem acompanhou mais de uma eleição na vida. Em 2024 esta percepção não é diferente. Nesta mesma página de Opinião, nas edições dos dias 12 de julho e 13 de setembro, tive a oportunidade de apresentar de forma sistemática um conjunto de pesquisas pré-eleitorais (fevereiro a julho) e eleitorais (apenas de agosto) enfatizando, porém, as informações básicas apresentadas ao sistema de registros de pesquisas  do TSE (PesqEle), seus custos, metodologias, conteúdos dos questionários, alguns dados divulgados, mas em especial muitos outros dados não divulgados pelos meios de informação, mas que constam nos relatórios dos institutos, em poder de seus contratantes, que ainda não têm obrigação de publicar seus resultados na íntegra.
Uma consequência prática da informação não liberada, talvez por conveniência de alguns grupos políticos, foi o de não sabermos o quanto até a fase das Convenções (de 20 de julho a 5 de agosto) a amostra da população aracajuana consultada desejava votar em candidatas. Por forte intuição, senso de oportunidade e força de vontade, 5 entre 6 pré-candidatas tiveram forças para registrarem suas candidaturas ao cargo majoritário de Prefeita, referendadas por seus partidos / federações partidárias, sendo elas: Candisse de Lula (PT/PCdoB/PV), única a ter outra mulher como vice; Danielle Garcia (MDB), Emília Corrêa (PL), Niully Campos (PSOL/REDE) e Yandra Moura (UB).
Katarina Feitoza (PSD), que despontava com interessante pontuação quando tinha seu nome incluso em pesquisas de pré-campanha, decidiu se retirar da disputa em favor do favorito do Prefeito Edvaldo Nogueira, Luiz Roberto (PDT), optando pela unidade governista, ao contrário de Danielle e Yandra. Quanto custará a opção do PDT, do NOVO e do PCO por candidatos do gênero masculino, é o que as urnas responderão.
Indo ao que mais interessa, os resultados das pesquisas induzidas, foram compiladas quase todas que vieram a público pela televisão e/ou sites desde meados do ano, organizando-as numa espécie de agregador na forma de gráficos de barras horizontais, com seu eixo horizontal (x) demarcando a porcentagem de intenção de votos, e com seu eixo vertical (y) relacionando as(os) candidatas(os). Será apresentado aqui um gráfico da pré-campanha (maio a julho), em outro artigo futuro novo gráfico referente a agosto, e outro referente a setembro, a serem escritos antes do 1º turno (6 de outubro).
A leitura dos dados se norteia por algumas regras simples, para fácil compreensão, sendo que: pode-se, e até se deve desconfiar de toda pesquisa, já que elas consultam apenas uma amostra dos votantes, embora não se possa as considerar falsas sem provas, visto que a Justiça Eleitoral as legitima em seu sistema; os resultados das pesquisas induzidas aqui comentados seguem normas básicas de estatística, embora não muito rigorosas, como arredondamento (Ex: de 0,5 para 1, ou de 0,4 para 0), para simplificação, aceitando-se que a porcentagem total seja de 99, 100 ou 101%. Tal imprecisão é tolerável em função de limitações do assistente utilizado para gerar o gráfico.
Outras duas regras: as pesquisas sem detalhamento por bairros ou regiões dois dias após divulgadas são consideradas “não registradas” pelo PesqEle/TSE, e portanto, desprezadas aqui, aplicando-se tal regra com total rigor nas pesquisas de setembro; cada barra horizontal corresponde a uma pesquisa respectiva, pontuando cada um dos nomes, sem desconsiderar as porcentagem de brancos/nulos e não sabe/não respondeu, pois é incorreto desprezar os votos que podem mudar, e ainda mais errado se utilizar da noção de “votos válidos” em pesquisa eleitoral, aumentando artificialmente as intenções de voto, que são mera fotografia do momento.
Observado o primeiro gráfico, da pré-campanha, percebeu-se até antes das convenções que apenas as pré-candidaturas de Emília Corrêa e Yandra de André Moura se davam como certas e sólidas. As duas candidatas são as únicas com mandatos, respectivamente de Vereadora e de Deputada Federal, ambas também bastante projetadas com quadros na grade da TV aberta, àquela altura preocupadas apenas em definir seus vices, e uma busca pelos votos do bolsonarismo, embora de algum jeito envergonhado. Nas intenções de votos, Emília já cravava a liderança no patamar de 25 a 30%, divergindo apenas as pesquisas do final de maio, do IDPS, contratada pelo PL, partido da própria pré-candidata; e INOR, contratada por rádio local, ambas dando patamar de 41%.
Quem leu as notícias e colunas dos noticiosos locais, a exemplo da coluna Tribuna, deste Jornal do Dia, acompanhou Emília singrar em mar tranquilo, enquanto Luiz Roberto enfrentava o racha no governismo, com as pré-candidaturas de Katarina Feitoza, Danielle Garcia, Fabiano Oliveira e a própria Yandra. Em desempenho nas pesquisas, Yandra de André gravitava entre 10 e 15%; Danielle Garcia chegava a 10%, possivelmente promovida pelo recall com a 2ª colocação para a PMA em 2020; Luiz Roberto e Fabiano, que viriam a formar chapa, pontuavam acima dos 5%. Quando Katarina saiu de cena, por volta de junho, Valadares Filho decidiu testar seu nome, tentando ser vice de Luiz Roberto, sendo tirado de cena pelo Senador Laércio Oliveira e Fabiano.
Nas esquerdas, a Psolista Niully Campos se saiu melhor em prévia interna contra a Deputada Estadual Linda Brasil, campeã de votos para Vereadora em 2020, marcando de 1% a 2% nas pesquisas. A novata em eleições, Candisse Carvalho, por sua vez, enfrentou pressões de todos os lados, interna e externamente, ao buscar se legitimar no PT como um nome viável para candidatura própria, provando-se como uma militante qualificada, não apenas como esposa do Senador Rogério Carvalho. Assim, em sua caminhada, de 2023 até julho de 2024, internamente ela manteve sua pré-candidatura enfrentando boatos de que a candidata seria Eliane Aquino, com desmentidos constantes desta, que justificou motivos de saúde familiar; e embateu-se em prévia interna contra Clóvis Barbosa.
Ainda sobre a luta da pré-candidata Candisse, outro desafio foi carta conjunta das direções do PCdoB e PV, partidos que junto com o PT compõem a Federação Brasil da Esperança, defendendo a escolha de outro nome “de consenso”, sem o indicar; além dos acenos mútuos entre Márcio Macedo, Edvaldo e Mitidieri, que pareciam querer estender a parceria dos governos a uma aliança eleitoral, aparentemente alinhada com os pensamentos do PCdoB e PV. Diante de tanta resistência, o Diretório Municipal do PT fez firme enfrentamento, referendando Candisse em nível estadual, no Diretório Nacional, e no âmbito da Federação, venceu na instância nacional, mesmo diante da oposição dos outros partidos em âmbito municipal.
Cabe lembrar que esta eleição é a primeira onde partidos federados funcionam em muitas regras como um só, em alguns aspectos, e em outros como uma coligação. Assim como tem a federação PT/PV/PCdoB, há também a PSOL/REDE e o PSDB/Cidadania. Em termos de desempenho, apenas no período das convenções a anunciada candidata petista chegava a 5% em pesquisas, quando nas anteriores cravava 1 ou 2%. Assim, sua candidatura sobrevivia, apesar das tentativas para que este intento não se realizasse.
Outro revés enfrentado pela petista foi a negociação frustrada, ao propor que o PSOL fosse indicar a vice em sua chapa, pois as vozes psolistas tornaram pública a expectativa de que o PT fizesse um gesto semelhante ao que ocorreu em São Paulo, onde Guilherme Boulos (PSOL) encabeça a chapa, tendo a ex-Prefeita Marta Suplicy (PT) como vice. Sem acordo, esta união entre 5 partidos não ocorreu aqui. Porém, ao escolher como vice a Professora Rosângela Santana no próprio PT, a chapa puro sangue abalou o argumento da inexperiência administrativa da titular, já que a professora já foi vereadora e secretária municipal.
Dentre as demais intenções de votos, os brancos/nulos na pré-campanha flutuaram entre 5 e 17%, e dentre os que não sabiam ou não queriam responder, as pesquisas oscilavam entre 4 e 19%. Tais margens se mostraram muito instáveis, em especial as pesquisas IDPS e INOR, as que atribuíram as mais altas intenções de votos para a Vereadora Emília Corrêa. Assim, como escrito parágrafos acima, embora não se tenha elementos para desacreditar estes dois institutos, pode-se desconfiar de seus números, tão divergentes, quando comparados com os outros institutos no difícil período de pré-campanha.
Por fim, agora que foi desenhado em retrospecto um panorama da pré-campanha, nos próximos dias, antes do 1º turno, mais dois artigos darão conta das pesquisas de agosto e setembro, acompanhados de gráficos respectivos, e comentários pertinentes a estes.
* Cleverton Costa Silva é pesquisador
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