Madeiras, cordas, metais (Divulgação)
As vastidões do espírito
Publicado em 09 de novembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Miro o espelho e vislumbro o mais sofisticado dos homens. Enquanto a cidade inteira se esbalda com os Paracatu da Bahia, pego o caminho inverso, vou à Catedral Metropolitana de Aracaju, a fim de conferir um concerto da Orquestra Sinfônica de Sergipe. Estou me achando. Programa e evento finíssimos!
Isso de manter um conjunto sinfônico profissional com agenda regular, público cativo e diálogo constante com a cena nacional, como faz o Governo de Sergipe, ainda está em vias de ser devidamente aproveitado pela inteligência do lugar.
Não sou o único filho da terra com a manha de enfileirar rock, jazz, macumbagens e latinidades, lado a lado, junto às sonatas de Bach e Beethoven, estou ciente. Ainda assim, não é raro, para mim, ir aos concertos da ORSSE e voltar pra casa sem avistar um único rosto conhecido, sentindo-me o mais solitário dos falsos eruditos, completamente sozinho.
Sim, convém evitar o drama, deixar os tímpanos com a munheca do percussionista James Bertisch e a eventual grandiloquência dos grandes compositores. Mas os esforços realizados no sentido de convencer mais e mais gente do proveito de dispor alguns tostões furados com a maravilha impalpável produzida por madeiras, cordas, metais, refiro-me a tempo e também a dinheiro, precisam reverberar com mais força, anunciados aos quatro ventos.
Verdade seja dita: O teatro Tobias Barreto, casa da ORSSE, nunca teve as portas abertas para qualquer um. As igrejas que abrigam a série Sons da Catedral, uma das poucas incursões da Orquestra em ambientes efetivamente populares, são espaços próprios para os convertidos. Escolas, praças, parques, esquinas, semáforos, precisam entrar no roteiro da música de concerto, uma iniciativa civilizatória, urgente.
Sábado, às 17h30, a ORSSE retoma a série Sons da Catedral, justamente na Catedral Metropolitana de Aracaju, com livre acesso para crentes e pagãos, cristãos e hereges convictos, como este que vos escreve, leitor compassivo. Ali, onde a arquitetura adverte o homem do seu pouco tamanho, a música há de nos lembrar a todos da vastidão do espírito.