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Falsa rebeldia neofascista


Publicado em 04 de dezembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


O discurso anti-establishment é uma componente do fascismo. Retorna nessa terceira década do século 21 com a mesma essência, embora a roupagem possa ter traços peculiares de agora

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* Luciano Siqueira

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O discurso anti-establishment é uma componente do fascismo, sempre.

Fez parte do ideário de Hitler e Mussolini e seus assemelhados no século passado.
Retorna nessa terceira década do século 21 com a mesma essência, embora a roupagem possa ter traços peculiares de agora.
Trata-se de condenar em regra o que está estabelecido e atrair multidões de incautos, especialmente numa faixa da população entre 40 e 55 anos (segundo algumas pesquisas) frustrada em seus planos de vida.
E assim passar a impressão de que algo poderá substituir a ordem estabelecida, inclusive negando em regra a prática política vigente, para passar o conto do vigário de que o inteiramente novo está por acontecer.
É a falsa rebeldia neofascista, cuja essência está na manutenção do status quo por regime ditatorial, sob hegemonia militar ou não.
O governo Bolsonaro foi um ensaio dessa lorota. Propunha-se erradicar a denominada “velha política” e substituí-la por uma “nova política”, porém na prática assumiu todas as características do que há de mais retrógrado na sociedade brasileira.
Não é à toa que o então presidente praticamente transferiu as rédeas do governo ao núcleo dirigente do “centrão” dominante na Câmara dos Deputados e no Senado e relegou a condução da economia nas mãos de um operador do mercado financeiro, ministro Paulo Guedes.
É nesse contexto ilusionista que o próprio Bolsonaro, agora mergulhado em poço de areia movediça enlameada e o ex-coach Pablo Marçal, o emergente candidato derrotado à prefeitura da capital paulista, disputam espaço.
Ambos primam pelo uso inescrupuloso do que se tem chamado guerra cultural e discurso do ódio, nas redes sociais e através de estamentos razoavelmente disciplinados que se prestam a difundir seu ideário, tais como policiais militares e civis, evangélicos neopentecostais e parcelas das Forças Armadas.
Entrementes, as próprias contradições na corrente neofascista, que tendem a se acirrar na perspectiva da eleição presidencial de 2026, contribuem para revelar abertamente a essência do neofascismo brasileiro, tornando-o mais vulnerável à crítica sistemática do pensamento progressista e de esquerda.
Este é um embate que, em parte, se fez presente nas eleições municipais e tende a se acirrar, inclusive sob o impacto das revelações da trama golpista na peça de indiciamento do ex-presidente e de cerca de 70 asseclas, produzida pela Polícia Federal.

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* Luciano Siqueira, médico, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.

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