Quarta, 25 De Dezembro De 2024
       
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Mano Brown igual Camões


Publicado em 06 de dezembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


Com Mano Brown, o mundo real finalmente ingressou na Academia (Arquivo)

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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As instituições dedicadas à preservação e divulgação da sensibilidade brazuca atuam num mundo à parte, flutua a muitos palmos do chão.
Museus, galerias, universidades… Perdidas no tempo, carolas, com vocação para as cerimônias de fraque e cartola, pouco olham para o seu entorno, uma piada.
Leio sobre uma exposição celebrando os  35 anos do grupo Racionais MC’s e só depois entendo. A mostra será abrigada pelo Museu da Favela.
Trata-se aqui de sensibilidade de classes e a sua reverberacão nos afetos. Não admira, portanto, a música dos Racionais MC’s ter passado batido pelos ouvidos moucos daas instituições de ensino superior por longo tempo.Anos atrás, contudo, para espanto geral, quando o álbum ‘Sobrevivendo no inferno’ completou 21 anos, os doutores da Unicamp, com os títulos mais pomposos, reconhecem a sua força evidente.
Explica-se: A Unicamp incluiu, então, o disco ‘Sobrevivendo no inferno’ (1997) entre as referências sugeridas aos candidatos do concurso Vestibular 2020. Foi a primeira vez que a relação de obras literárias incluiu um trabalho musical.
“Nos chamou a atenção a questão da valorização da cultura da periferia proposta pelo disco. É uma obra que traz o olhar ácido e crítico dos Racionais e continua relevante. E ela mescla várias referências, o que é uma característica da literatura, trazer referências de outros discursos”, explicou o professor José Alves de Freitas Neto, coordenador executivo do Vestibular Unicamp, em declaração para o jornal O Globo.
A Unicamp descobriu a pólvora. À época do lançamento, o disco lançado por um selo independente (leia-se, sem a força da grana e a publicidade das gravadoras multinacionais), vendeu 1,5 milhão de cópias. ‘Sobrevivendo no inferno’ ocupa a 14ª posição na lista dos melhores discos da música brasileira publicada pela Revista Rolling Stone. Em 2015, o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, presenteou o Papa Francisco com o álbum, durante visita ao Vaticano. Isso, para não mencionar o espanto imediato de artistas com o faro e a envergadura de Caetano Veloso, em declaração reiterada, no calor do momento.
Bom seria se os doutores nos quatro cantos do Brasil tivessem olhos e ouvidos abertos para o discurso articulado da brava gente. Discos são lançados todos os anos. No fim das contas, as rimas de Mano Brown contam um tempo e um espaço, igual os versos escritos por Luís de Camões.
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