Disposição para o diálogo (Divulgação)
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Papocos do tempo presente
Publicado em 13 de dezembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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A palavra de um artista não vale nada, nem um tostão furado. Todo o pensamento de um ente criativo é pronunciado pelo seu trabalho.
Embora a tara pela mão oculta do sujeito enunciador venha ganhando status de pesquisa – cortesia de curadores muito jovens, ansiosos por afirmar a própria influência no fluxo de um circuito completamente alheio ao grosso da realização em arte visual, mundo afora -, o impulso por trás de uma assinatura é digressão de pouca ou nenhuma serventia para a fruição da obra materializada na caligrafia do autor. Em todo o processo, interessa apenas o comunicado no resultado.
Entre intenção e gesto, uma consciência atravessada por propósitos erráticos e, mais das vezes, falhos. Os ruídos e desvios no caminho, contudo, são quase sempre tomados por doutrina a disposição dos interessados na vasta produção contemporânea. Explica, talvez, a irrelevância da mediação crítica na afronta ao consenso estabelecido no espaço protegido das galerias. Uma vez autorizado pelo cubo branco, sem nenhum ponto de referência estranho à própria experiência, cada um se coloca onde bem entende – E o lugar nenhum é assento democrático.
Poderia ser diferente. Leio sobre a exposição coletiva Akaiu, abrigada pelo Café da Gente, anexo ao Museu da Gente Sergipana. Durante a abertura da mostra, realizada ontem, artistas da estirpe de um Antônio da Cruz participaram de uma roda de conversa com Hortência Barreto e Nino Karvan, mais os jovens AdamM e Tathyana Santiago, integrantes da exposição.
Se a disposição para refletir sobre discurso e poética visual, evidente nas intenções do projeto, tem o potencial de redundar na proposição de pensamento mais consistente, só o tempo dirá. Para tanto, será necessário que novas coletivas sejam ali realizadas, novas conversas, muito diálogo. Por certo, resta o proveito criativo da inciativa. O Museu da Gente sempre ganha muito ao abrir as portas para os papocos do tempo presente.