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O protagonismo político feminino em livro de Afonso Nascimento (2)


Publicado em 08 de janeiro de 2025
Por Jornal Do Dia Se


* Célia Cardoso

 

Outro protagonismo feminino sergipano, explicitado na obra de Afonso Nascimento, foi a atuação política combativa de Ana Lúcia, uma liderança sindical e parlamentar, que foi deputada estadual por quatro vezes (entre 2002 e 2018) pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e reconhecida pela luta docente na educação básica e nos movimentos sociais sergipanos. Oriunda da classe média alta sergipana (p. 133), Ana Lúcia, graduada em Pedagogia pela UFS, engajou-se na luta pela melhoria da carreira docente no estado, bem como apoiou reivindicações de grupos sociais marginalizados. Para falar sobre ela, em tom de admiração e respeito com algumas intervenções críticas, o autor recorreu a dez entrevistas e a outras fontes documentais oficiais, como projetos legislativos.
Com a filiação de Ana ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese), logo veio a sua integração ao grupo de intelectuais ativistas de esquerda do próprio sindicato, denominado de Centro dos Profissionais de Ensino de Sergipe (CEPES, entre 1986 e 1992), entidade atuante na política partidária vinculada ao PT. Ana não somente atuou no CEPES, como também presidiu o sindicato em duas gestões. A partir de 1992, o Sintese ampliou muito o número de filiados em seus quadros, e isso em parte se deve, segundo o autor, ao emprego de um sindicalismo combativo liderado pelo grupo de Ana Lúcia. Ela mesma chegou a fazer uma greve de fome na paralisação dos professores da rede pública de ensino, para pressionar as autoridades a melhorarem a carreira docente municipal. Essa luta foi vista como essencial para a sua ascensão político-partidária e a conquista do cargo de deputada. Após o seu último mandato de deputada estadual, em 2018, retirou-se da vida político-parlamentar para cuidar de sua saúde, sem transferir, porém, o seu capital político aos herdeiros diretos. O deputado estadual Iran Barbosa (PT) foi agraciado com o seu legado e representa a continuidade do seu projeto na Assembleia Legislativa na atualidade (p. 133- 138). Para Afonso Nascimento, “A sua ausência já faz muita falta nas lutas de classes e dos movimentos populares, dentro e fora do Parlamento estadual” (p. 138).
Durante o primeiro mandato de Marcelo Déda [SD1] (ex-líder estudantil da UFS), Ana Lúcia assumiu a Secretaria de Educação do município de Aracaju (2001) e algum tempo depois, quando Déda conquistou a chefia do Executivo estadual, ela ficou responsável pela pasta da Secretaria de Estado da Inclusão, Assistência e do Desenvolvimento Social (2007), mas por um breve período. No transcorrer das lutas políticas internas do PT, Ana aguçou a sua visão crítica em relação ao modo de administrar do governo Déda, mostrando distanciamentos e conflitos. No entanto, ela também não escapou das duras críticas do professor Afonso a respeito da ausência de projetos significativos em suas gestões (p. 137); para ele, o seu perfil é de líder sindical (p. 149). Ela, que nunca foi comunista, recebeu influências do seu irmão, o poeta Mário Jorge Vieira de Menezes, militante do PCB, preso e processado pela Justiça Militar de Salvador (p. 140).
Em síntese, a obra do professor é bem atual e necessária nesse momento de crise das democracias mundiais, nos faz refletir sobre as lutas e os atores compromissados com conquistas democráticas e populares, bem como apresenta categorias analíticas ao entendimento do processo de institucionalização do Estado autoritário brasileiro, com sua legislação repressiva e política de ameaças ao inimigo interno e confinamento social. A sua leitura torna-se imprescindível não somente para os pesquisadores da área de História do Tempo Presente, mas, principalmente, aos estudantes e ao público em geral interessados em conhecer ações oposicionistas ao poder discricionário. E por considerar importante lembrar em tempos de negacionismos, recomendo a sua leitura aos cidadãos que desejam se reconhecer no passado, em busca de encontrar o seu espaço, a sua luta e a sua força nesta breve existência e, ainda, aos que pensam no coletivo e se propõem a disseminar ideias e valores democráticos.

 

* Célia Cardoso, Professora e Pesquisadora do Departamento de História da UFS

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