Terça, 08 De Abril De 2025
       
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Um poeta adolescente


Publicado em 02 de abril de 2025
Por Jornal Do Dia Se


Textura de garagem(Divulgação)

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Excelente cantor, compositor dotado de grande senso de oportunidade, Renato Russo faria 65 anos no último dia 27. Nunca o considerei um grande poeta, como o jornalismo entusiasmado da época o coroou, a fim de vender pôsteres.  Mas conheço os álbuns da Legião Urbana de cabo a rabo, como toda a geração Coca-Cola.
Sim, eu também já fui jovem, como todo mundo. Por incrível que pareça, em dado momento, a música da Legião Urbana ampliou, para mim, as dimensões do mundo.
Legião Urbana, a banda de apoio que acompanhou Renato Russo durante a ascensão e queda do rock aguado realizado em Terra Brasílis, lá pelos idos dos 80, foi liderada por um dos compositores mais bem informados sob a redoma de vidro que sufocava o País no período imediatamente anterior à abertura democrática.
Tido como uma espécie de poeta da geração perdida, um existencialista de meia tigela, Renato Russo não fez mais do que emular o pós punk em voga na velha Inglaterra. No ambiente claustrofóbico de uma indústria vedada ao diálogo com o mundo exterior, na outra margem do Atlântico, sob os trópicos, contudo, os quatro acordes com textura de garagem do registro homônimo, Legião Urbana (1985), ganharam ares de grande novidade.
Em plena era do streaming, quando o acesso a discografias inteiras está sempre ao alcance da simples curiosidade, talvez a Legião Urbana não tivesse tempo para se firmar sobre as pernas. Impossível negar, contudo, a força ainda hoje presente naquele primeiro impulso criativo. Se nos discos posteriores, sobretudo a partir do excessivamente produzido ‘As quatro estações’ (1989), o vigor da primeira hora seria colocado em segundo plano, em favor da massificação das canções, os primeiros registros exalam uma energia genuína, compreensível apenas para quem viveu o momento.
A Legião exerceu um papel fundamental na formação musical de minha geração. Foi através das “composições” de Renato Russo que a maior parte da informação ligada ao universo pop chegou a nossos ouvidos. Frustrante foi a descoberta do pastiche. The Cure, The Smiths, Joy Division, entre tantas outras, eram mais do que simples influência. Coube a Renato Russo, de qualquer modo, canalizar a eletricidade no ar do planalto brazuca. Merece, portanto, o sono dos justos. E o meu agradecimento.
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