Sexta, 07 De Fevereiro De 2025
       
**PUBLICIDADE
Publicidade

A biblioteca do presidente


Publicado em 21 de julho de 2022
Por Jornal Do Dia Se


A biblioteca de um homem reflete a sua personalidade.

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

O presidente Jair Bolsonaro tem um livro de cabeceira: ‘A verdade sufocada’, do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Trata-se aqui de um torturador condenado, o chefe da repressão nos anos sinistros da ditadura militar.
Embora não manifeste a menor preocupação com as frescuras das belas artes, o presidente faz questão de declarar os próprios hábitos de leitura na primeira oportunidade, crente de disparar um tiro certeiro. Pretende reforçar assim os laços presumidos com os generais linha dura e ainda se apresenta como uma alternativa de carne e osso às cirandas da esquerda progressista – ninguém sabe se mais esnobe ou letrada.
Sejamos francos, o personalismo é moeda corrente no presidencialismo à brasileira. Os planos de governo não passam de uma carta de intenções muito vaga, jamais tiveram peso expressivo na composição das alianças políticas e nas escolhas do eleitorado. Portanto, se é assim mesmo, se um nome próprio vale mais do que as siglas antipáticas dos partidos, todos os candidatos deveriam fazer como Bolsonaro e comunicar, junto à declaração de bens, uma exigência da legislação eleitoral, as páginas pelas quais passam a vista nas horas vagas.
A tese é muito simples: Diga-me o que lês, eu te direi quem és. Ou, por outra, a biblioteca de um homem reflete a sua personalidade. Longe de mim, julgar um livro pela capa. Mas, após a declaração reiterada de afeto tão escandaloso – as perversidades de um torturador sempre serão motivo de repulsa entre homens civilizados -, a participação de Bolsonaro em atos golpistas, como a “reunião” com embaixadores estrangeiros abrigada pelo Palácio da Alvorada, era perfeitamente previsível, favas contadas, a crônica de uma morte anunciada.
Eu tenho medo de quem conhece a bíblia de trás pra frente, de cor e salteado. Pior ainda, quando o sujeito destaca uma passagem qualquer e a cita sem nenhum rigor histórico, sem atenção ao contexto, como bem entende. Tosco e abjeto, Bolsonaro nunca demonstrou o mais breve pendor por sentimentos beatos, nem paciência para a infinidade de versículos que formam o livro sagrado dos cristãos, como dá a entender. De sua boca não saem verdades que libertam, mas uma baba viscosa, mentiras, bravatas.

**PUBLICIDADE



Capa do dia
Capa do dia



**PUBLICIDADE


**PUBLICIDADE
Publicidade