Uma roleta russa(Divulgação)
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A casa sempre ganha
Publicado em 27 de setembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Cultivo sonhos absurdos. Tenho, por exemplo, a pretensão de completar cem anos, firme e forte, os bolsos forrados com merecida aposentadoria.
Sim, eu deliro. Imagino a mim mesmo na pele murcha de um senhor magro, com a espinha tão reta como jamais a mantive, um neto no colo, em pé desde as primeiras horas do dia, sem preocupações, sem assuntos pendentes com os outros, vivos ou mortos, íntimo do mar, em paz comigo mesmo.
Sonho alto, eu sei. Mas, ao contrário do brasileiro médio, não acredito em deus, não acredito em Papai Noel. Não jogo no bicho, nem aposto na Mega. Jamais concebi ficar rico.
Os jornalões do sul maravilha, mais o primeiro escalão da República, de repente se deram conta de uma verdade pronunciada em todos os filmes de gângster: a casa sempre ganha.
Mensurado, finalmente, o mercado das bets surpreendeu o comércio varejista. E preocupa o governo. Ganha fôlego a tese de que o avanço sem regulação destes verdadeiros cassinos cibernéticos desvia renda para a roleta russa das apostas.
Segundo o Banco Central, os brasileiros destinaram cerca de R$ 21 bilhões por mês às empresas de apostas, entre janeiro e agosto. O volume do prejuízo, no entanto, deve ser muito maior. Nesta conta, entraram somente as apostas realizadas via PIX.
Não acredito em milagres. Os cinquenta anos em cinco de JK, aprendi na escola, cobraram um preço muito alto da brava gente. É amparado em números, não em um testemunho de fé, que defendo a estratégia dos programas de renda como o Bolsa Família. Trata-se simplesmente de estimular o consumo, não há coelho na cartola. No andor da carruagem, contudo, o dinheiro devido à vendinha da esquina vai parar no carteado de bytes.