A DESIGUALDADE SOCIAL É O RASTILHO DO FOGO [I]
Publicado em 05 de outubro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Manoel M.Tourinho; Gutemberg A. D. Guerra; Manoel Moacir C. Macêdo
O caos climático que domina o planeta parece não haver contestação sobre a sua veracidade, como acontecia há dez anos passados. No Brasil inúmeros personagens do mundo cientifico e acadêmico discursavam, a preço de ouro, para uma plateia pagante do que queria ouvir, ou seja, diziam: não existem dados confiáveis que assegurem as mudanças e os impactos climáticos anunciados. As evidência atuais acuaram os negacionistas no silêncio de seus abrigos.
Desde a revolução industrial no século XVIII que as mudanças e os impactos climáticos intensificaram e reduziram o tempo de ocorrência. Extrema relevância é o aumento da concentração de gases-de-efeito-estufa na atmosfera. Não resta dúvida das relações de causa-efeito entre eles e o aquecimento global. A ciência realista, não alarmista, afirma que nos milhões de anos do Holoceno a concentração desses gases estava em 280 partes por milhão. Hoje essa concentração atinge um patamar superior a 500 partes, ou seja, dobrou e a tendência é de crescimento exponencial a cada ano. As tecnologias geradas pelos nichos de ciência e tecnologia como as universidades, centros e empresas públicas de pesquisa trabalham para tornar o modo produtivista de produção mais eficiente às demandas do capital e não do trabalho. O meio ambiente, coitado, sempre fica para depois.
Nesse sentido, os efeitos climáticos à tona são secas sem precedentes, até na úmida Amazônia, calotas polares se derretendo, temperatura crescendo, o mar subindo de nível e ameaçando as cidades marítimas. Difícil de acreditar, mas a seca fez rios na maior bacia hidrográfica do mundo atingirem recordes históricos de baixa no armazenamento de água. Rios viraram igarapés. O igarapé do Solimões e o do Madeira, entre outros, dantes imensuráveis volumes de água, hoje são ameaças ao meio ambiente.
Os autores desse artigo em escritos recentes sobre o desastre climático do Rio Grande do Sul, o maior então visto na história do Brasil, argumentaram que as causas também estavam embutidas nas políticas públicas e no modelo de uso da terra. O Brasil era ufanado por ser quase um continente, sem desastres ambientais extremistas. Diziam que “Deus é brasileiro” e o Brasil um “país tropical e bonito por natureza”. Os crentes profetizavam como uma “benção dos céus”. Acontecia que o país tinha um enorme termostato regulador do clima – a floresta tropical úmida amazônica-, que até os anos 60 do século XX exerceu essa função equilibradora do ambiente. Coadjuvava esse processo equilibrador do Bioma Amazônico com os outros cinco biomas pátrios: Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa, espécies de “mini Amazônias” ajudatórias da regulação ambiental.
Como escrevem historiadores e geógrafos, a história humana não acontece no vácuo, mas em espaços definidos. Espaços que têm lógicas próprias, interativas e sistêmicas e não são apenas espaços físicos, mas terrenos biológicos, sociais, culturais e econômicos. Também não são “territórios de abestalhados” como pensam os ocupantes, europeus, norte-americanos e nacionais do Sul e Centro-oeste.
Nesses espaços existem experiências concretas, milenares, de sociedades humanas originárias e locais com interações cotidianas como a “natureza-existência-presença”. São territórios com dinamismos específicos e biostáticos. A chegança de “alienígenas” exige uma chegança sem aforisma de dominação.
Deve-se aceitar, por justiça com a Terra, que na Amazônia os aforismas devem ser de cooperação, simbiose, harmonia eco mensalismo; nunca de parasitismo e escravidão como sói acontecer.
* Manoel M. Tourinho; Gutemberg A. D. Guerra e Manoel Moacir C. Macêdo são engenheiros agrônomos e pós-graduados em ciências sociais.