Sábado, 03 De Maio De 2025
       
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A estrela partida de Banksy


Publicado em 13 de maio de 2020
Por Jornal Do Dia


O mundo tomou um rumo perigoso

 

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Sem exibir as fuças, 
sem dizer uma pala-
vra, o artista visual conhecido pela assinatura de Banksy talvez seja dos sujeitos políticos mais assertivos do tempo presente. Não há questão sensível nos dias de hoje sobre a qual ele não tenha oferecido pitaco. Às vezes o lapso entre episódio e comentário se estende um pouco, sugerindo um esforço de compreensão indisposto ao calor apaixonado dos acontecimentos. De todo modo, o artista nunca abdica de um sentido visual para tomar partido e mandar o seu recado.
O enunciado mais recente, a imagem da criança que elege a boneca de uma enfermeira como heroína, circula por aí, uma justa homenagem aos profissionais na linha de frente do combate ao Covid-19.Um trabalho anterior, no entanto, traduz em imagem o esgarçamento terrível do tecido social hodierno, acentuado pela pandemia.
Eu me refiro às fraturas e erupções ferindo fronteiras indesejáveis no mapa europeu. O mural de Banksy, inspirado pelas baixas da União Européia, tomou a fachada de um prédio localizado justamente na divisa entre Reino Unido e França, duas nações cada vez mais distantes. A potência do trabalho explode em comunicação com a paisagem. 
A estrela partida de Banksy adverte que os ideais de unidade, solidariedade e harmonia entre os povos da Europa (e, por extensão, de toda a civilização) já não são ponto pacífico. Faz pensar sobre refugiados e diásporas, conquistadores e colonizados. Dialoga, inclusive, com os conflitos fundiários tupiniquins e o desterro criminoso dos nossos povos indígenas. O mundo tomou um rumo perigoso e caminha a passos largos para um estado de guerrilha e de exceção.
A palavra de um artista não vale nada, nem um tostão furado. Todo o pensamento de um ente criativo é pronunciado pelo seu trabalho. Embora a tara pela mão oculta do sujeito enunciador venha ganhando status de pesquisa – cortesia de curadores muito jovens, ansiosos por afirmar a própria influência no fluxo de um circuito completamente alheio ao grosso da realização em arte visual, mundo afora -, o impulso por trás de uma assinatura é digressão de pouca ou nenhuma serventia para a fruição da obra materializada na caligrafia do autor. Em todo o processo, interessa apenas o comunicado no resultado. Isso tudo, Banksy ensina. O resto é barulho.

Rian Santos

Sem exibir as fuças,  sem dizer uma pala- vra, o artista visual conhecido pela assinatura de Banksy talvez seja dos sujeitos políticos mais assertivos do tempo presente. Não há questão sensível nos dias de hoje sobre a qual ele não tenha oferecido pitaco. Às vezes o lapso entre episódio e comentário se estende um pouco, sugerindo um esforço de compreensão indisposto ao calor apaixonado dos acontecimentos. De todo modo, o artista nunca abdica de um sentido visual para tomar partido e mandar o seu recado.
O enunciado mais recente, a imagem da criança que elege a boneca de uma enfermeira como heroína, circula por aí, uma justa homenagem aos profissionais na linha de frente do combate ao Covid-19.Um trabalho anterior, no entanto, traduz em imagem o esgarçamento terrível do tecido social hodierno, acentuado pela pandemia.
Eu me refiro às fraturas e erupções ferindo fronteiras indesejáveis no mapa europeu. O mural de Banksy, inspirado pelas baixas da União Européia, tomou a fachada de um prédio localizado justamente na divisa entre Reino Unido e França, duas nações cada vez mais distantes. A potência do trabalho explode em comunicação com a paisagem. 
A estrela partida de Banksy adverte que os ideais de unidade, solidariedade e harmonia entre os povos da Europa (e, por extensão, de toda a civilização) já não são ponto pacífico. Faz pensar sobre refugiados e diásporas, conquistadores e colonizados. Dialoga, inclusive, com os conflitos fundiários tupiniquins e o desterro criminoso dos nossos povos indígenas. O mundo tomou um rumo perigoso e caminha a passos largos para um estado de guerrilha e de exceção.
A palavra de um artista não vale nada, nem um tostão furado. Todo o pensamento de um ente criativo é pronunciado pelo seu trabalho. Embora a tara pela mão oculta do sujeito enunciador venha ganhando status de pesquisa – cortesia de curadores muito jovens, ansiosos por afirmar a própria influência no fluxo de um circuito completamente alheio ao grosso da realização em arte visual, mundo afora -, o impulso por trás de uma assinatura é digressão de pouca ou nenhuma serventia para a fruição da obra materializada na caligrafia do autor. Em todo o processo, interessa apenas o comunicado no resultado. Isso tudo, Banksy ensina. O resto é barulho.

 

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