Domingo, 19 De Janeiro De 2025
       
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A GLOBO, DO TIME-LIFE AO "VIÉS COMUNISTOIDE"


Publicado em 02 de dezembro de 2018
Por Jornal Do Dia


 

Vai acontecer na Polônia um evento  que reunirá toda a indústria carvoeira e os seus apoiadores. O maior propagandista do conclave cinza-fumaça é o deslustrado presidente  Donald Trump. Ele está convocando céus e terras para que se façam presentes ao meeting polonês.
 Carvão e capitalismo têm uma base comum.  Um, viabilizou o outro, e se sustentaram mutuamente, desde o nascer da revolução industrial no século dezoito, até um momento em que se fez a inevitável separação, consequência do dinamismo inerente ao capitalismo, que o torna sempre renovado, e em simbiose com a evolução da ciência e da tecnologia.
Na Inglaterra, as cidades industriais onde estavam aciarias, usinas térmicas, trens pelos trilhos cada vez mais tentaculares,  seus navios cruzando os sete mares, fábricas têxteis, e tantas outras, o carvão era essencial,  o combustível que movia o mundo, que acelerava o progresso, a própria razão da montagem do Império Britânico,  ¨onde o sol nunca se punha.¨ Nas minas de carvão milhares de crianças, crianças mesmo, com menos de 14 anos, mourejavam, pela facilidade que tinham de moverem-se através do labirinto de tuneis, como se fossem caminhos de rato. O fumaceiro   cobria as cidades industriais, a mortalidade infantil era absurda, a tuberculose  dizimava os adultos.
Essa realidade social trágica, inspirou o pensamento socialista, baseado no respeito à pessoa humana, no fim da exploração selvagem do homem pelo homem,   então, Marx e Engels  escreveram, no Manifesto Comunista: ¨Um espectro ronda a Europa, é o espectro do comunismo. Tudo  o que é sólido dissolve-se no ar ¨. Eles esperariam que a revolução para instalar a ¨ditadura do proletariado ¨começasse pela Alemanha, a Inglaterra, países industrializados,  e onde fortalecia-se o movimento sindical.
O que fez o capitalismo ?  Foi aposentando o carvão, substituindo-o por um outro  combustível fóssil, o petróleo, menos poluente, e começou a por em prática uma legislação social, que não aquietou o descontentamento, mas arrefeceu o animo  radical revolucionário. As desigualdades, as divergências, passaram a caber no âmbito da politica, ampliada com a extensão maior da democracia social.
Agora, o questão ultrapassa o espaço social e relaciona-se mais intimamente com a calamidade climática que nos ameaça, ou melhor, já nos atinge, inviabilizando a longo prazo a vida no planeta. Surge uma nova economia, o capitalismo climático, contra o qual reagem os carvoeiros desesperados,  cujas minas na Inglaterra  estão sendo fechadas e nos Estados Unidos , Trump começa a reativá-las, dando sobrevida a uma indústria que espalha a pestilência pelos ares, e inviabiliza a vida em cidades chinesas, por exemplo, onde as pessoas não saem às ruas sem o uso de máscaras. Mas não é só o carvão, que está à frente desse movimento de volta ao passado ,  a ele se juntam petroleiras, a indústria automobilística ultrapassada pela tecnologia, todo o resquício da engrenagem econômica mundial que não se atualizou, não correu na vanguarda, num processo de adaptação que é essencial à sobrevivência do planeta, onde esperam viver os descendentes da nossa espécie, que causa a catástrofe, e dela se tornará vitima, também.
Uma visão  teológica, talvez, um disfarce cínico para recusar a mudança, cria a falsa e presunçosa ideia de que Deus acompanha a nossa desordem, e virá conserta – la no momento crucial em que a vida se inapropriar na terra, ou seja, quando as florestas estiverem todas devastadas, o  mar transformado numa cloaca gigantesca, o céu cinzento e as nuvens despejando  chuva ácida. O fim será postergado, e Deus viria em nosso socorro, fazendo o que deixamos de fazer: limpando os mares, clareando os céus, retirando a carga de carbono da atmosfera, e nos dando de presente algum combustível  limpíssimo, com o qual  viria a solução energética que não conseguimos criar para assegurar o futuro.
Mas o que se esperaria que Deus viesse fazer já está sendo feito, aqui mesmo, pelas suas próprias criaturas. As energias renováveis se expandem, a preservação de matas, de rios, de mares, se torna coisa prioritária em dezenas de países, a eletricidade começa a mover as frotas de veículos, tudo muda para melhor. Mas, surgem as resistências, os interesses contrariados, o desprezo da terra mãe  e do nosso futuro, em troca de um presente suicida, todavia, com mais lucros para uma elite desumanamente ególatra.
 Donald Trump e seus parceiros continuarão erguendo altares de intolerância ao atraso, à ignorância, ao criminoso descuido com a casa onde  vivemos, e da qual não temos sabido zelar adequadamente.
 A mudança climática é absolutamente real e visível. Está aqui perto, entre nós, sendo sentida e vivida dentro das nossas escassas fronteiras sergipanas. No sul, de Itaporanga, passando pelo Arauá, o Boquim, a Estancia, Umbaúba, Cristinápolis,  Indiaroba, de onde sumiu a exuberância da Mata Atlântica, riachos e rios , lagoas e brejos secaram, a pluviosidade média desabou para quase a metade do que era. No sertão, a capa protetora da terra, que é a caatinga, tendo virado carvão, desnudou o chão seco, sobre o qual, em alguns pontos, nesses últimos sete anos não chegou a cair uma media de chuva próxima do que aquela que se registrava anualmente.
É pena que o presidente eleito Jair Bolsonaro tenha  prometido nos retirar do Acordo de Paris e rejeitado a reunião de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, que, ao lado de cientistas, de representantes de populações já duramente afetadas pela catástrofe ambiental, renovariam, no Brasil, os compromissos com a responsabilidade ambiental.
Mas, felizmente, Bolsonaro parece ter ouvidos para as vozes da sensatez, e dá sinais de que poderá rever a anunciada decisão, como também parece, ter a tendência, agora, de  reconsiderar o desastre político-econômico que seria o gesto, para nos absolutamente irrelevante,  de transferir
 a Embaixada brasileira de Tel – Aviv para Jerusalém, imitando os Estados Unidos sob Trump,  e a Guatemala, sob um sabujo qualquer.
Qualquer argumento que se apresente contra a consciência ecológica, será puro disfarce, ou equivoco, para encobrir a realidade dos grandes e desumanos interesses que movem as engrenagens do atraso, como  por exemplo essa reunião dos carvoeiros na Polônia, onde não faltará o vozerio  desarrazoado de Donald Trump, o pregoeiro do obscurantismo. 
A defesa do meio ambiente não gera ameaças de ¨desnacionalização ¨ da Amazônia , não impede o crescimento racional do agro- negocio, a expansão da economia.
A ausência de sensibilidade, o desconhecimento, a desconexão com  os avanços tecnológicos e sociais,  é que nos farão reféns de interesses que não são os nossos, e nos desnacionalizam, e nos descaracterizam como Nação.

A TV-GLOBO surgiu sob as bênçãos do regime autoritário instalado no país em abril de 1964.

Tudo foi facilitado para que se concretizasse  uma meta empresarial traçada pelo jornalista Roberto Marinho. Ele antevia o fascinante espaço que se abria para um  canal de TV  batizado sob as águas lustrais esparzidas  pelos sacerdotes  da República fardada, que casavam o novo veículo com a ideia de ¨integração nacional ¨. Essa ideia, um coronel engenheiro, Euclides Quandt de Oliveira, começara a por na prancheta. O que Rondon iniciara, o que os aviadores do Correio Aéreo Nacional, o trem de ferro, o caminhão, e a navegação de cabotagem tentavam fazer para cobrir as distancias brasileiras,  Euclides Quandt  faria, depois, como Ministro das Comunicações, espalhando torres de micro-ondas de 50 em 50 quilômetros, por quase todo o país gigantesco.

O país   iria integrar-se pela comunicação simultânea, e à Rede Globo foi atribuído esse papel.

Em 1966 entrava em operação a TV – Globo. Foi beneficiada com favores generosos, entre eles a isenção das taxas de importação, e o acesso a um câmbio privilegiado.

As suas principais concorrentes capengavam, por incompetência empresarial, ou retaliações que sofriam por serem vistas com desconfiança pelos militares.

O império dos Diários Associados começava a naufragar. Eram 18 emissoras de  televisão,         36  rádios,  34   jornais, o ultimo deles o Diário de Aracaju. A chegada a Sergipe de um elo da cadeia Associada,  trouxe alguma modernidade  à  capengante imprensa local, que misturava idealismo, fervor politico – partidário com

Ingênuo  desconhecimento das ¨regras do mercado ¨.  E Assis Chateaubriand, o criador do império,  ditava a sua regra sem escrúpulo ou hipocrisia: ¨ Veículo de comunicação vende espaço publicitário pela tabela , e a opinião ou o silêncio  a gente fixa o preço¨.

Roberto Marinho acrescentaria: ¨ O silêncio é mais importante do que a opinião .¨

Na ditadura essa era uma regra de ouro.

O paraibano Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, o Chatô,  montara seu complexo de empresas, entre elas indústrias, fazendas, com ousadia, genialidade, e também cafajestice. Mas ele era um cafajeste generoso, desprendido, capaz de esvaziar o próprio bolso e chantagear tantos outros mais recheados do que os dele, para que contribuíssem,  por exemplo, para  tornar possível a vanguardista  ideia do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MASP. 

Em 1950 ele inaugurou  em São Paulo a TV – Tupy,  a primeira do Brasil. Era um empreendimento caro, e inviável, segundo famosos economistas da época. Tudo foi importado, ou  melhor,  contrabandeado. Se fossem obedecidas as regras da burocracia brasileira, a coisa levaria  dez anos.

Dois anos depois,  o presidente Getúlio Vargas assistia  o primeiro programa de mais uma Tv- Tupy, agora, no Rio de Janeiro. O aparelho de TV  fora uma doação  ao Palácio do Catete, feita, cinco anos antes, por  Chateaubriand. O então ocupante do palácio, o presidente  Eurico Dutra, sabia que a TV fizera parte de um lote contrabandeado , porque as leis brasileiras não permitiam tal tipo de importação. E deixou guardado o trambolho inservível. 

Chateaubriand  não conseguiu impedir que a TV-Globo fechasse um acordo operacional com o grupo americano Time – Life, e já ciente de que Marinho vencera a parada, antes de morrer, em maio de 1966, raivoso com o marechal Castello Branco que não o atendera,  já repartira  o seu império entre os principais colaboradores,  que se tornaram condôminos.  

E os Associados morreram, pela rapinagem dos condôminos, e pela disposição revelada pelo governo em liquidá-lo, cobrando a montanha de impostos nunca antes recolhidos.

A TV – Excelsior,  que se atreveu a ter alguma independência, e fez a proeza da primeira  transmissão simultânea Rio-São Paulo, foi meticulosamente esmagada, junto com outras empresas do grupo,  a Panair do Brasil, o Banco Noroeste, e a COMAL, maior exportadora de café do mundo. O dono do grupo, Mário Wallace Simonsen matou-se num Hotel luxuoso da Riviera francesa. A conspiração civil- militar que o abateu,  deu mais fôlego à TV – Globo, que ficaria dona  quase exclusiva do mercado.

A Rede Globo mereceu do general -presidente Médici, o maior dos elogios. Disse ele: ¨ Toda noite quando assisto o Jornal Nacional, e vejo o que acontece pelo mundo, fico satisfeito porque o Brasil está em paz ¨.

Era o melhor premio para o silencio, a regra de ouro de Roberto Marinho.

Só um dos presidentes militares  fez cara feia para  Marinho. Foi o general Figueiredo, de quem o dono da   Globo ouviu : ¨Vou botar mais concorrentes na praça, a Globo está grande demais ¨. 

 Assim, Sílvio Santos ganhou o SBT de presente.

Depois de ser satanizada por uma parte da esquerda, que a classificava como  ¨instrumento do imperialismo americano¨, a Rede Globo agora desperta animosidades entre  amplos setores da sociedade que resolveram promover uma cruzada moralista em relação aos costumes, e enxergam, na emissora, um ¨um certo viés comunistóide  ¨, os efeitos deletérios da ¨doutrina de Gramisci ¨ , tudo convergindo para a dissolução moral das famílias brasileiras.

 Tratam de desenterrar cadáveres, e ficam amedrontados com  as suas caveiras.

 O presidente Bolsonaro, quando candidato, chegou a dizer que cortaria as verbas publicitárias para a Rede Globo.

Já existiriam negociações com a Televisa, mexicana, e se forem completadas,  haverá a desnacionalização completa da nossa maior e mais influente rede de comunicação. 

A rede Globo tem conceito internacional, acumula prêmios que deveriam nos orgulhar pela criatividade  dos artistas, dos escritores, dos técnicos brasileiros. Emprega dezenas de milhares de pessoas  e paga excelentes salários.

Parece,  que o sucesso nos incomoda, e nos desperta ódios irracionais, nesses tempos de sensatez em desuso. 

A IDEIA DE PUNIR E O ERRO NA REELEIÇÃO

A procuradora Eunice Dantas se destaca por não hesitar em fazer as representações que considera pertinentes ao exercício pleno do seu cargo. Tem se envolvido em questões espinhosas, como o caso da denuncia contra dezoito representantes do povo na  Assembleia Legislativa de Sergipe. Foi, sem duvidas, o episódio mais constrangedor envolvendo políticos em toda a história sergipana, com proporções bem maiores do que um   outro caso envolvendo políticos e gestores públicos, que ficou conhecido pelo nome de batismo que a Policia  Federal lhe deu: ¨Operação Navalha¨. Tanto num episódio, como no outro, todos os envolvidos resultaram absolvidos, por falta de provas, ou  procedimentos entendidos por desembargadores federais como   efetuados de forma ilegal no decorrer da investigação, mas, que haviam sido aceitos pelo STJ. Isso no caso da Operação Navalha.

Agora, a Procuradora Federal Eunice Dantas provoca  algo próximo a um terremoto político, ao pedir, na Justiça Eleitoral a cassação da chapa vencedora de Belivaldo Chagas e Eliane Aquino.

A questão deverá ser analisada pelo colegiado do Tribunal Regional Eleitoral , e centraliza, hoje, as atenções do mundo politico. A procuradora foi bastante comedida na ação que moveu, onde não tipifica crimes, mas argumenta no sentido de demonstrar que a presença da máquina do Estado poderia ter influenciado no resultado da eleição, e assim, pede a cassação da chapa,  o que nos levaria, se vier a ocorrer,  a uma outra eleição, com todas as despesas e atribulações que isso implicaria, indo para o lixo a vontade expressa na manifestação popular, no caso, uma vitória que poderia ser classificada  parodiando toscamente o nosso Hino, como retumbante.

Aqui, a argumentação desenvolvida pela Doutora Eunice Dantas, nos remete ao cerne da questão, que é o complexo  e ao mesmo tempo frágil 

arcabouço   da  legislação eleitoral, quando aplicada aos casos da reeleição de prefeito, governador e presidente da República. Qualquer um dos titulares desses cargos, ao  movimentar-se politicamente, disputando a reeleição, carrega, com ele, todo o aparato da máquina administrativa, porque dela é o titular. Existe um calendário das restrições aplicáveis ao candidato durante a campanha, e também a pré-campanha, que, mesmo sendo rigorosamente obedecida, não isenta o postulante de ficar sujeito às interpretações sobre uso abusivo do poder que dispõe.

O candidato à reeleição, no caso, um governador, continua dotado de plenos poderes para exercer o comando do estado. Terá de adotar ações administrativas, já  adredemente   planejadas,  que estejam inseridas na rotina, ou, adotar outras, até em função de circunstancias fortuitas. Se houver uma seca, ou uma enchente, ele terá de tomar medidas rápidas de assistência à população, embora correndo o risco de que possam vir a ser entendidas como eleitoreiras.

Se o  governador cruzar os braços, e ficar esperando o transcurso do período eleitoral para voltar a governar, poderia ver-se livre da acusação de abuso do poder, mas, terá sido irresponsável, e ai se configuram outros crimes.

Não é fácil o transito de um prefeito, governador ou presidente candidatos à reeleição, como também não é cômoda a situação das autoridades encarregadas da fiscalização, para que a equidade no pleito não seja ofendida.

No caso de Belivaldo há o recorde antes não   alcançado dos mais de trezentos mil votos de vantagem, o que configura uma situação de apoio popular sem precedentes, que não poderia ter sido conquistado pelo uso de uma máquina estatal, aliás, tão empobrecida e frágil como a sergipana, que é mais um fator limitante,  do que uma vantagem a ser desfrutada.

Belivaldo assumiu o governo em abril, quando Jackson renunciou para disputar uma cadeira no Senado. Não tinha sequer a certeza de que se tornaria efetivamente  candidato à reeleição. Na primeira sondagem de votos que apareceu, ele tinha desprezíveis quatro por cento, mas havia o alento de uma rejeição  diminuta, inferior mesmo aos dois candidatos que lideravam as pesquisas, o senador Eduardo Amorim, e o deputado federal Valadares Filho. Num momento complicado da politica nacional, com os políticos pesadamente estigmatizados em decorrência da corrupção e da ineficiência, o momento, dizia-se, seria  plenamente favorável à oposição, representada por um nome novo.

O fenômeno do crescimento em proporção geométrica do candidato Belivaldo, está ainda a ser interpretado e entendido, sobretudo, pela  sua ascensão rápida, e o derretimento das outras candidaturas, apontadas como favoritas.

Houve uma debandada de aliados,  que Belivaldo assistiu até com uma certa fleugma,  e não se deu ao trabalho de insistentemente tentar evitar

a fuga, rumo ao que parecia muito mais viável.

Parece que ele saiu do espaço da inviabilidade, exatamente porque dedicou -se em tempo integral a governar, e foi revertendo expectativas.

Ai, se  poderá dizer que a presença no governo o beneficiou, por ter sido a oportunidade que esperaria para demonstrar, em serviço, a sua capacidade de administrar.

Por outro lado, em caso de fracasso administrativo, o aparato do governo lhe teria sido fatal.

Se o ato específico de governar for enquadrado no leque extenso das linhas que, segundo a Legislação eleitoral, não podem ser ultrapassadas, ai então, tanto Belivaldo como qualquer outro candidato  à reeleição estariam fritos, sairiam todos como preguiçosos e incompetentes.

Razão porque, o melhor mesmo que se poderia fazer seria acabar com a reeleição, e ampliar o mandato para cinco anos.

Políticos e aplicadores da lei, teriam então mais sossego.

Nesse sentido, a ação movida pela procuradora  Eunice Dantas, poderá servir como mais um elemento de reflexão sobre a impropriedade, no caso brasileiro, do instituto da reeleição.

NA POLÔNIA A ERA DO CARVÃO RESSUSCITA

Vai acontecer na Polônia um evento  que reunirá toda a indústria carvoeira e os seus apoiadores. O maior propagandista do conclave cinza-fumaça é o deslustrado presidente  Donald Trump. Ele está convocando céus e terras para que se façam presentes ao meeting polonês.
 Carvão e capitalismo têm uma base comum.  Um, viabilizou o outro, e se sustentaram mutuamente, desde o nascer da revolução industrial no século dezoito, até um momento em que se fez a inevitável separação, consequência do dinamismo inerente ao capitalismo, que o torna sempre renovado, e em simbiose com a evolução da ciência e da tecnologia.
Na Inglaterra, as cidades industriais onde estavam aciarias, usinas térmicas, trens pelos trilhos cada vez mais tentaculares,  seus navios cruzando os sete mares, fábricas têxteis, e tantas outras, o carvão era essencial,  o combustível que movia o mundo, que acelerava o progresso, a própria razão da montagem do Império Britânico,  ¨onde o sol nunca se punha.¨ Nas minas de carvão milhares de crianças, crianças mesmo, com menos de 14 anos, mourejavam, pela facilidade que tinham de moverem-se através do labirinto de tuneis, como se fossem caminhos de rato. O fumaceiro   cobria as cidades industriais, a mortalidade infantil era absurda, a tuberculose  dizimava os adultos.
Essa realidade social trágica, inspirou o pensamento socialista, baseado no respeito à pessoa humana, no fim da exploração selvagem do homem pelo homem,   então, Marx e Engels  escreveram, no Manifesto Comunista: ¨Um espectro ronda a Europa, é o espectro do comunismo. Tudo  o que é sólido dissolve-se no ar ¨. Eles esperariam que a revolução para instalar a ¨ditadura do proletariado ¨começasse pela Alemanha, a Inglaterra, países industrializados,  e onde fortalecia-se o movimento sindical.
O que fez o capitalismo ?  Foi aposentando o carvão, substituindo-o por um outro  combustível fóssil, o petróleo, menos poluente, e começou a por em prática uma legislação social, que não aquietou o descontentamento, mas arrefeceu o animo  radical revolucionário. As desigualdades, as divergências, passaram a caber no âmbito da politica, ampliada com a extensão maior da democracia social.
Agora, o questão ultrapassa o espaço social e relaciona-se mais intimamente com a calamidade climática que nos ameaça, ou melhor, já nos atinge, inviabilizando a longo prazo a vida no planeta. Surge uma nova economia, o capitalismo climático, contra o qual reagem os carvoeiros desesperados,  cujas minas na Inglaterra  estão sendo fechadas e nos Estados Unidos , Trump começa a reativá-las, dando sobrevida a uma indústria que espalha a pestilência pelos ares, e inviabiliza a vida em cidades chinesas, por exemplo, onde as pessoas não saem às ruas sem o uso de máscaras. Mas não é só o carvão, que está à frente desse movimento de volta ao passado ,  a ele se juntam petroleiras, a indústria automobilística ultrapassada pela tecnologia, todo o resquício da engrenagem econômica mundial que não se atualizou, não correu na vanguarda, num processo de adaptação que é essencial à sobrevivência do planeta, onde esperam viver os descendentes da nossa espécie, que causa a catástrofe, e dela se tornará vitima, também.
Uma visão  teológica, talvez, um disfarce cínico para recusar a mudança, cria a falsa e presunçosa ideia de que Deus acompanha a nossa desordem, e virá conserta – la no momento crucial em que a vida se inapropriar na terra, ou seja, quando as florestas estiverem todas devastadas, o  mar transformado numa cloaca gigantesca, o céu cinzento e as nuvens despejando  chuva ácida. O fim será postergado, e Deus viria em nosso socorro, fazendo o que deixamos de fazer: limpando os mares, clareando os céus, retirando a carga de carbono da atmosfera, e nos dando de presente algum combustível  limpíssimo, com o qual  viria a solução energética que não conseguimos criar para assegurar o futuro.
Mas o que se esperaria que Deus viesse fazer já está sendo feito, aqui mesmo, pelas suas próprias criaturas. As energias renováveis se expandem, a preservação de matas, de rios, de mares, se torna coisa prioritária em dezenas de países, a eletricidade começa a mover as frotas de veículos, tudo muda para melhor. Mas, surgem as resistências, os interesses contrariados, o desprezo da terra mãe  e do nosso futuro, em troca de um presente suicida, todavia, com mais lucros para uma elite desumanamente ególatra.
 Donald Trump e seus parceiros continuarão erguendo altares de intolerância ao atraso, à ignorância, ao criminoso descuido com a casa onde  vivemos, e da qual não temos sabido zelar adequadamente.
 A mudança climática é absolutamente real e visível. Está aqui perto, entre nós, sendo sentida e vivida dentro das nossas escassas fronteiras sergipanas. No sul, de Itaporanga, passando pelo Arauá, o Boquim, a Estancia, Umbaúba, Cristinápolis,  Indiaroba, de onde sumiu a exuberância da Mata Atlântica, riachos e rios , lagoas e brejos secaram, a pluviosidade média desabou para quase a metade do que era. No sertão, a capa protetora da terra, que é a caatinga, tendo virado carvão, desnudou o chão seco, sobre o qual, em alguns pontos, nesses últimos sete anos não chegou a cair uma media de chuva próxima do que aquela que se registrava anualmente.
É pena que o presidente eleito Jair Bolsonaro tenha  prometido nos retirar do Acordo de Paris e rejeitado a reunião de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, que, ao lado de cientistas, de representantes de populações já duramente afetadas pela catástrofe ambiental, renovariam, no Brasil, os compromissos com a responsabilidade ambiental.
Mas, felizmente, Bolsonaro parece ter ouvidos para as vozes da sensatez, e dá sinais de que poderá rever a anunciada decisão, como também parece, ter a tendência, agora, de  reconsiderar o desastre político-econômico que seria o gesto, para nos absolutamente irrelevante,  de transferir a Embaixada brasileira de Tel – Aviv para Jerusalém, imitando os Estados Unidos sob Trump,  e a Guatemala, sob um sabujo qualquer.
Qualquer argumento que se apresente contra a consciência ecológica, será puro disfarce, ou equivoco, para encobrir a realidade dos grandes e desumanos interesses que movem as engrenagens do atraso, como  por exemplo essa reunião dos carvoeiros na Polônia, onde não faltará o vozerio  desarrazoado de Donald Trump, o pregoeiro do obscurantismo. 
A defesa do meio ambiente não gera ameaças de ¨desnacionalização ¨ da Amazônia , não impede o crescimento racional do agro- negocio, a expansão da economia.
A ausência de sensibilidade, o desconhecimento, a desconexão com  os avanços tecnológicos e sociais,  é que nos farão reféns de interesses que não são os nossos, e nos desnacionalizam, e nos descaracterizam como Nação.

 

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