A guerra do São Francisco
Publicado em 22 de março de 2018
Por Jornal Do Dia
A relação entre a Companhia Hi drelétrica do São Francisco (Chesf) e os ribeirinhos situados às margens do Velho Chico é de franca beligerância. Não fosse a providencial interferência do Ministério Público Federal em Sergipe, a parte fraca em convivência de forças tão desiguais seria varrida em naufrágio, sepultada num leito repentinamente largo, uma comunidade trocada em cidade submersa.
Por incrível que pareça, não se fala aqui em hipótese ou fantasia. Não fosse a expressa recomendação do MPF, o aumento da vazão na Usina Hidrelétrica de Xingo se daria sem qualquer espécie de aviso às comunidades diretamente afetadas pela medida.
De acordo com as informações coletadas pelo MPF, a a vazão de Xingo será triplicada, dos atuais 550 m³/s para 1800 m³/s. A medida adotada em caráter se deve ao apagão ocorrido há dois dias e foi informada ao Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF) através de fax, cujo teor foi imediatamente informado às autoridades competentes, felizmente atentas ao perigo iminente.
O episódio é exemplar do extrativismo predatório cometido pelas hidrelétricas no Brasil. Embora a preocupação com a geração de energia seja perfeitamente legítima, é preciso considerar também a subsistência das populações ribeirinhas, a importância social do São Francisco e a preservação dos recursos naturais. A ausência de investimento em fontes alternativas de energia, associada ao projeto criminoso de transposição do Rio São Francisco, à revelia dos investimentos indispensáveis à sua revitalização, no entanto, subordinaram uma questão estritamente técnica a interesses econômicos e políticos. Por isso a guerra às margens do São Francisco.