Domingo, 12 De Janeiro De 2025
       
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A hedionda epidemia de sadismo


Publicado em 11 de abril de 2018
Por Jornal Do Dia


 

Miguel dos Santos Cerqueira
Nesse momento espantoso de regressão social, em que a grande maioria parece sentir espasmos lancinante de prazer orgástico com a exposição humilhante do outro, com a exibição impiedosa de seres humanos alquebrados, prostrados pelas doenças que carcome o final dos seus dias, que mais se parecem com cadáveres ambulantes, nada melhor do que revistar o Marquês de Sade, pois, sem dúvida, estamos mergulhando na terrível noite da epidemia de sadismo.
Em suas obras, principalmente em Justine, A Filosofia na Alcova, 120 Dias de Sodoma e A Crueldade Fraternal, Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, que era sobretudo um filósofo, utilizava-se das perversões e parafilias para tecer acusações e críticas morais à sociedade urbana. Sade era um indivíduo verdadeiro em uma época de hipocrisia, onde havia uma falsa moral e uma falsa religiosidade. Tudo semelhantemente a nossa época atual.
De fato, contrariamente ao que acredita o senso comum, causar sofrimento e sentir prazer, até mesmo orgástico, com a tortura, a humilhação e ao sofrimento alheio não é um desvio da personalidade exclusiva dos assassinos em série ou dos tarados sexuais. Parece que tal patologia se dissemina enormemente no nosso meio social, com o adjutório providencial das mídias e da grande imprensa, que cada vez mais exibe os episódios de personagens políticos alquebrados e decrépitos, quase cadavéricos, como, por exemplo, a figura do Deputado Paulo Maluf, aquele mesmo que sempre afirmava que "bandido bom é bandido morto", que se encontra acometido de metástase e trombose,  tudo para o deleite e o gozo do populacho ávido por sangue, pelo aviltamento do outro e episódios de humilhação.
E não se fale dos episódios de linchamentos de pessoas envolvidas no cometimento de pequenos delitos. A prodigalidade da mídia na exibição de espetáculos dantescos de cabeças decepadas, crânios fendidos e corpos estraçalhados tem crescido desmedidamente.
Inquestionavelmente estamos mergulhando numa epidemia de sadismo que não se compadece nem mesmo do âmbito judicial. Os processos criminais, sejam aqueles que envolvem políticos, sejam aqueles cujos supostos criminosos são arraia miúda, os que trafegam à margem da estrutura social, não se pode absolutamente confiar na administração imparcial da justiça, posto que ela é quebrada todos os dias.
A cada dia e cada vez mais parece que as ações policiais e as decisões judiciais são uma fonte de prazer, que somente almejam como resultado das aberrações concebidas no calor de desvios e desequilíbrios emocionais ou psicológicos, o prazer orgástico que é próprio e natural das perversões do sadismo.
A gravidade da epidemia de sadismo contemporâneo é que ele não limita ou se restringe àqueles que exercem poderes de estado, sem prestarem atenção aos efeitos perniciosos de suas ações, por acreditarem-se em senhores da vida e do destino daqueles que são alvo de persecução, mas trasborda e se espraia por toda a sociedade difusa e indiscriminadamente.
O sadismo atual, que guarda semelhança em tudo àquele retratado pelo Marques de Sade, na sua obra catártica e visceral, 120 Dias de Sodoma,  contamina e está incrustado na estrutura do próprio Estado, a ponto de se exacerbar em punições daqueles indivíduos que se sabem que não merecem, mas que têm que ser punidos por serem desafetos e se situarem no âmbito de outro espectro ideológico. Sem dúvida que tem que ser um sádico para agir movido pelas paixões baixas e magna crueldade contra adversários e desafetos no espectro político ideológico.
Sem dúvida, a vida dos sádicos, sejam aqueles situados nos aparelhos de estado, sejam aqueles disseminados na população em geral, sem a existência quase que diuturna de políticos presos, sob a acusação de cometimento de crimes comuns, seria triste, enfadonha, aberração e sem prazer. Porque o prazer sentido por qualquer do povo com a exibição pública de um político em desgraça ou o linchamento de um pequeno delinquente, que surrupiou um pão ou uma lata de leite em pó não é menor do que prazer que um juiz sente com uma condenação injusta ou com uma prisão provisória indefinida sem perspectiva ou data para julgamento.
Repita-se, estamos sob a égide de uma epidemia de sadismo, quando na falta de outras fontes de prazer só se sente prazer obtido infligindo dor ao outro, seja dor física, seja dor moral.
O grande problema dessas conjunturas históricas onde viceja o sadismo, as baixas paixões e toda espécie de crueldade, semelhantemente àquela que grassou no período da Revolução Francesa, que vivenciou o Marques de Sade, é que nem mesmo os inventores da guilhotina e os higienizadores estão protegidos da sanha dos que anseiam por sangue e justiçamentos e, mesmo que bem intencionados, incorruptíveis  ou equivocados, quase sempre têm o mesmo fim de Maximilien Robespierre, que promovendo a guilhotina como um método de higienização, fez rolar as cabeças de Luís XVI de França, Georges Jacques Danton, Camille Desmoulins, Antoine Lavoisier, dentre outros, mas acabou por ter cortada sua própria cabeça, posto que a loucura da epidemia de sadismo, como caudal da higienização, não poupa nem mesmo aqueles que a deflagra.
* Miguel dos Santos Cerqueira, Defensor Público e militante de Direitos Humanos, titular da Primeira Defensoria Pública Especial Cível do Estado de Sergipe.

Miguel dos Santos Cerqueira

Nesse momento espantoso de regressão social, em que a grande maioria parece sentir espasmos lancinante de prazer orgástico com a exposição humilhante do outro, com a exibição impiedosa de seres humanos alquebrados, prostrados pelas doenças que carcome o final dos seus dias, que mais se parecem com cadáveres ambulantes, nada melhor do que revistar o Marquês de Sade, pois, sem dúvida, estamos mergulhando na terrível noite da epidemia de sadismo.
Em suas obras, principalmente em Justine, A Filosofia na Alcova, 120 Dias de Sodoma e A Crueldade Fraternal, Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, que era sobretudo um filósofo, utilizava-se das perversões e parafilias para tecer acusações e críticas morais à sociedade urbana. Sade era um indivíduo verdadeiro em uma época de hipocrisia, onde havia uma falsa moral e uma falsa religiosidade. Tudo semelhantemente a nossa época atual.
De fato, contrariamente ao que acredita o senso comum, causar sofrimento e sentir prazer, até mesmo orgástico, com a tortura, a humilhação e ao sofrimento alheio não é um desvio da personalidade exclusiva dos assassinos em série ou dos tarados sexuais. Parece que tal patologia se dissemina enormemente no nosso meio social, com o adjutório providencial das mídias e da grande imprensa, que cada vez mais exibe os episódios de personagens políticos alquebrados e decrépitos, quase cadavéricos, como, por exemplo, a figura do Deputado Paulo Maluf, aquele mesmo que sempre afirmava que "bandido bom é bandido morto", que se encontra acometido de metástase e trombose,  tudo para o deleite e o gozo do populacho ávido por sangue, pelo aviltamento do outro e episódios de humilhação.
E não se fale dos episódios de linchamentos de pessoas envolvidas no cometimento de pequenos delitos. A prodigalidade da mídia na exibição de espetáculos dantescos de cabeças decepadas, crânios fendidos e corpos estraçalhados tem crescido desmedidamente.
Inquestionavelmente estamos mergulhando numa epidemia de sadismo que não se compadece nem mesmo do âmbito judicial. Os processos criminais, sejam aqueles que envolvem políticos, sejam aqueles cujos supostos criminosos são arraia miúda, os que trafegam à margem da estrutura social, não se pode absolutamente confiar na administração imparcial da justiça, posto que ela é quebrada todos os dias.
A cada dia e cada vez mais parece que as ações policiais e as decisões judiciais são uma fonte de prazer, que somente almejam como resultado das aberrações concebidas no calor de desvios e desequilíbrios emocionais ou psicológicos, o prazer orgástico que é próprio e natural das perversões do sadismo.
A gravidade da epidemia de sadismo contemporâneo é que ele não limita ou se restringe àqueles que exercem poderes de estado, sem prestarem atenção aos efeitos perniciosos de suas ações, por acreditarem-se em senhores da vida e do destino daqueles que são alvo de persecução, mas trasborda e se espraia por toda a sociedade difusa e indiscriminadamente.
O sadismo atual, que guarda semelhança em tudo àquele retratado pelo Marques de Sade, na sua obra catártica e visceral, 120 Dias de Sodoma,  contamina e está incrustado na estrutura do próprio Estado, a ponto de se exacerbar em punições daqueles indivíduos que se sabem que não merecem, mas que têm que ser punidos por serem desafetos e se situarem no âmbito de outro espectro ideológico. Sem dúvida que tem que ser um sádico para agir movido pelas paixões baixas e magna crueldade contra adversários e desafetos no espectro político ideológico.
Sem dúvida, a vida dos sádicos, sejam aqueles situados nos aparelhos de estado, sejam aqueles disseminados na população em geral, sem a existência quase que diuturna de políticos presos, sob a acusação de cometimento de crimes comuns, seria triste, enfadonha, aberração e sem prazer. Porque o prazer sentido por qualquer do povo com a exibição pública de um político em desgraça ou o linchamento de um pequeno delinquente, que surrupiou um pão ou uma lata de leite em pó não é menor do que prazer que um juiz sente com uma condenação injusta ou com uma prisão provisória indefinida sem perspectiva ou data para julgamento.
Repita-se, estamos sob a égide de uma epidemia de sadismo, quando na falta de outras fontes de prazer só se sente prazer obtido infligindo dor ao outro, seja dor física, seja dor moral.
O grande problema dessas conjunturas históricas onde viceja o sadismo, as baixas paixões e toda espécie de crueldade, semelhantemente àquela que grassou no período da Revolução Francesa, que vivenciou o Marques de Sade, é que nem mesmo os inventores da guilhotina e os higienizadores estão protegidos da sanha dos que anseiam por sangue e justiçamentos e, mesmo que bem intencionados, incorruptíveis  ou equivocados, quase sempre têm o mesmo fim de Maximilien Robespierre, que promovendo a guilhotina como um método de higienização, fez rolar as cabeças de Luís XVI de França, Georges Jacques Danton, Camille Desmoulins, Antoine Lavoisier, dentre outros, mas acabou por ter cortada sua própria cabeça, posto que a loucura da epidemia de sadismo, como caudal da higienização, não poupa nem mesmo aqueles que a deflagra.
* Miguel dos Santos Cerqueira, Defensor Público e militante de Direitos Humanos, titular da Primeira Defensoria Pública Especial Cível do Estado de Sergipe.

 

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