A mágica do Mamulengo
Publicado em 05 de abril de 2025
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Certa vez, dei uma de menino e despenquei até o Centro Cultural de Aracaju, só para ver os bonecos de Augusto Barreto. É fiado nessa única experiência que reconheço agora a feliz iniciativa do governo de Sergipe, ao oferecer palco para a trupe Serigy na Vila da Páscoa. O Mamulengo de Cheiroso foi a grande atração teatral na programação inaugurada ontem.
‘Talco no salão’, o espetáculo do grupo Mamulengo de Cheiroso apresentado naquela oportunidade, anos atras, no Teatro João Costa, Centro Cultural de Aracaju, foi pensado para o público infantil. O que mais se viu na plateia, contudo, foi macaco velho como eu feito pinto no lixo, virado em pingo de gente, às gargalhadas.
A montagem, todo mundo sabe, revisa alguns dos marcos biográficos vividos pela cantora Clemilda, desde o nascimento até o sucesso, incontestável. Mas isso é o que menos importa. A graça que anima os bonecos confeccionados na sede do Mamulengo, a picardia de cada diálogo, faz mais do que uma simples e oportuna homenagem à cantora. ‘Talco no salão’ subverte a malícia no repertório de Clemilda em linguagem.
Sob a lona do Mamulengo, tudo é feito com as mãos, tudo é singelo e genuíno. Um trio pé de serra comandado por Mimi do Acordeon, afinadíssimo, conduz a montagem de uma ponta a outra, como uma ladainha. O cenário armado e desarmado a todo momento, na presença da plateia, o figurino e os adereços em cena, os recursos sonoros, tudo remete a certo ideal de infância, no qual a imaginação dá o tom, impõe o ritmo, aponta o curso.
Feliz de quem ainda se dispõe à maravilha de panos e inflexões da cultura popular, preservada aos trancos e barrancos por guerreiros como Augusto Barreto. Falo agora por experiência própria. Do artesanato, oficina de antepassados, o Mamulengo de Cheiroso faz mágica.