Um trabalho feito com as mãos (Divulgação)
A mágica doMamulengo
Publicado em 24 de dezembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Certa vez, dei uma de menino e despenquei até o Centro Cultural de Aracaju, só para ver os bonecos de Augusto Barreto. É fiado nessa única experiência que recomendo agora o espetáculoPresépio do Cheiroso, presente na programação de Teatro da Vila do Natal Iluminado.
‘Talco no salão’, o espetáculo do grupo Mamulengo de Cheiroso então apresentado no Teatro João Costa, Centro Cultural de Aracaju, foi pensado para o público infantil. O que mais se viu na plateia, contudo, foi macaco velho feito pinto no lixo, virado em pingo de gente, às gargalhadas.
A montagem, todo mundo sabe, revisa alguns dos marcos biográficos vividos pela cantora Clemilda, desde o nascimento até o sucesso, incontestável. Mas isso é o que menos importa. A graça que anima os bonecos confeccionados na sede do Mamulengo, a picardia de cada diálogo, faz mais do que uma simples e oportuna homenagem à cantora. ‘Talco no salão’ subverte a malícia no repertório de Clemilda em linguagem.
Sob a lona do Mamulengo, tudo é feito com as mãos, tudo é singelo e genuíno. Um trio pé de serra comandado por Mimi do Acordeon, afinadíssimo, conduz a montagem de uma ponta a outra, como uma ladainha. O cenário armado e desarmado a todo momento, na presença da plateia, o figurino e os adereços em cena, os recursos sonoros, tudo remete a certo ideal de infância, no qual a imaginação dá o tom, impõe o ritmo, aponta o curso.
Feliz de quem ainda se dispõe à maravilha de panos e inflexões da cultura popular, preservada aos trancos e barrancos por guerreiros como Augusto Barreto. Falo agora por experiência própria. Do artesanato, oficina de antepassados, o Mamulengo de Cheiroso faz mágica.