A artista em carne e osso
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A mulher virada em bicho
Publicado em 28 de dezembro de 2019
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
Gabi Etinger resolveu sangrar em espaço público, alheia a qualquer inferência de ordem política, ideológica, moral. Ao assumir uma condição de gênero, o fez com o corpo inteiro. ‘Minha verdade é vermelha’, a mostra abrigada pela Galeria de Arte J Inácio, é o pronunciamento de uma mulher virada em bicho.
A forma feminina faz parte da poética alinhavada pela artista desde ‘Tramas’ (2010), a primeira mostra individual realizada por Gabi. O tema voltaria à baila, de uma maneira ou de outra, ao longo de toda a sua produção. Esta é a primeira vez, entretanto, que Gabi se atreve a ultrapassar a simples alusão para dar a própria cara a tapa. Agora, além do artifício e da idealização, a artista declara a própria verdade de corpo presente, em carne e osso.
Nem tudo salta à vista, entretanto. Além da aparência, antes da imagem e da forma, há também a ideia trançada em algodão manchado. Não por acaso, as palavras remetem a um ser biológico, estranho a tudo que é sagrado. A nódoa exposta pela artista tem valor objetivo.
Gabi Etinger declarou com todas as letras: "Minha verdade é vermelha". Uma afirmação que, dado o contexto hodierno, pode sim assumir contornos políticos, mas que aponta antes a sua relação visceral com a potência da sensibilidade feminina – uma oficina de novelos e tripas e sangue.
‘Minha verdade é vermelha’ foi selecionada no edital para Seleção de Projetos de Exposição para a Galeria J.Inácio e Palácio-Museu Olímpio Campos, e fica aberta para visitação de 30 de dezembro de 2019 até o dia 27 de janeiro de 2020, das 8h às 17h, na Galeria J.Inácio, 1º andar da Biblioteca Pública Epiphanio Dória.