A OCTOBERFEST E AS CAJU-FESTS
Publicado em 12 de outubro de 2013
Por Jornal Do Dia
Blumenau, depois de uma devastadora enchente, procurava caminhos para reativar a economia da importante região catarinense de tempos em tempos afetada pelos transbordos do sempre imprevisível Itajaí. Área de colonização alemã, não demorou muito a surgir a ideia de reeditar na agradável Blumenau a Octoberfest, celebrizada em Munique, terra de excelentes cervejas e ótimas salsichas, e dos bávaros, povo que destoa um pouco do rígido padrão germânico, e é festeiro e musical. O modelo pronto e acabado que Blumenau trouxe da Bavária para fazer a festa de outubro, tornou-se um sucesso e um forte chamariz de turistas. A festa chega agora aos 30 anos, e para ser realizada congrega as energias do poder público e de toda a sociedade. Não há restrições à festa, uma só voz discordante em relação aos benefícios trazidos para a cidade. Ninguém se considera prejudicado, não se reclama do barulho, dos frenéticos e muito etílicos dezessete dias de fuzarca, por sinal ordeira, e com um índice irrelevante de violência. Blumenau, cidade fundada por alemães e predominantemente habitada por seus descendentes, fez bem em copiar um modelo que estava na alma da sua gente. Nada melhor e mais pragmático do que imitar o que faz sucesso.
O comércio, todas as demais atividades econômicas da cidade souberam tirar partido dos quase vinte dias de festa ininterrupta, e o seu povo diz orgulhosamente que a Blumenau Octoberfest é a segunda maior do mundo, só perdendo para a mãe generosa de todas, que é a de Munique.
Imitar, como dizíamos, não é demérito, pode ser uma proveitosa atitude desde que se saiba fazer a cópia exata do que produz resultados.
Aqui em Aracaju não tínhamos um grande festejo junino, e o carnaval era uma tristeza.
Enquanto isso, em várias cidades nordestinas o mês de junho era sinônimo de festa, alegria, muitos turistas e bons negócios.
Foi então que Jackson Barreto, quando prefeito de Aracaju no primeiro mandato, resolveu imitar o sucesso de Campina Grande, Caruaru, Salvador, e inventou o Forrocaju. No inicio era um arraial montado na praça Fausto Cardoso, bem em frente ao Palácio do Governo, hoje Palácio Museu. Nos primeiro dia a festa começou a partir das 22 horas e pouca gente apareceu. Os recursos da prefeitura eram escassos e por isso as grandes atrações estavam descartadas. Jackson, como sempre especialista em driblar dificuldades não desanimou, e lhe veio à cabeça a ideia de começar a festa bem mais cedo, às dezoito horas, para atrair as pessoas que saiam do trabalho. No primeiro dia da inovação o Forrocaju encheu, e seguiu reunindo mais gente a cada ano, até transformar-se hoje numa das cinco maiores festas juninas do país.
Já o Pré-caju foi também uma outra imitação, copia exata de festas pré-carnavalescas que existiam no país, principalmente no nordeste. Quem resolveu copiar e transplantar a ideia para Aracaju foi um jovem então quase menino, chamado Fabiano Oliveira. A coisa não foi tão simples assim como poderá parecer por tratar-se de uma imitação. Aracaju parecia uma cidade avessa a Momo. Os mais velhos falavam, saudosistas, sobre os ¨velhos carnavais¨, lembrando até que a festa não se resumia aos clubes e, coisa impensável, havia o carnaval de rua. Mas isso era passado, e quando Fabiano inventou o Pré-caju ninguém acreditava que o aracajuano ganhasse animo para pular nas ruas. Durante o período momesco que aqui eram alguns dias de absoluta tranquilidade, até houve quem sugerisse campanhas publicitárias na Bahia incentivando os baianos infensos ao contágio da alegria para que viessem passar em Aracaju quatro dias de absoluta tranquilidade.
O que foi feito para superar o desânimo aracajuano para micaretas e carnavais só o incansável Fabiano poderia contar em detalhes, de como se chegou agora ao grande evento pré-carnavalesco, a partir daquele primeiro, na década dos oitenta, um desenxabido desfile que reuniu menos de mil pessoas, desajeitados foliões da terra onde não havia carnaval.
As nossas duas Cajufests ganharam lugar no calendário turístico nacional e são os nossos dois maiores chamarizes de turistas. Mas aqui infelizmente as cajufests não são vistas por todos como eventos positivos para a economia, não havendo, de longe, a aceitação registrada em Blumenau em relação à Octoberfest. Acusa-se até a ambas de prejudicarem o comércio, de impactarem negativamente a economia estadual, e mais do que isso, existe o ¨olho grande¨, uma espécie de bruxaria que resulta do sentimento de frustração ou de inveja derrotista a tudo o que signifique sucesso.