A PONTE QUE CAIU E O TROPEL DE 30 CAVALOS
Publicado em 18 de maio de 2015
Por Jornal Do Dia
Eram mais de 30 cavalos que passavam em desabalado tropel pela octogenária ponte da Pedra Branca. E a ponte, como se sabe, caiu.
Uma curiosidade apenas: o que faziam tantos cavalos sobre a ponte quando se sabe que agora até vaqueiro campeia montado numa moto?
Seria um negociante que levava a sua tropa em busca de rarefeitos compradores. Mais da metade do rebanho de quadrúpedes afogou-se nas águas volumosas do salgado Sergipe. Houve bípedes feridos, mas deles, nenhum, felizmente, morreu. Na queda a estrutura da ponte arrastou a tubulação que conduz a água vinda do São Francisco. A adutora é resultado da ousadia de Augusto Franco, que conseguiu a decisiva participação da Petrobrás, contrariando pareceres presunçosamente técnicos que a consideravam inviável. A viabilidade plena da obra seria logo demonstrada pela equipe comandada pelo engenheiro-mecânico Daniel Monteiro, um carioca funcionário da PETROBRAS, que veio morar em Aracaju para executar a tarefa. Piloto e dono de um invejado Citábria, perfeita máquina de voar e fazer acrobacias, Daniel deu vida nova ao Aeroclube de Sergipe, estimulando tantos jovens, que se tornaram depois pilotos, entre eles, Fábio Moreira, hoje voando linhas internacionais, e Genisson Silva, este, do alto das suas 30 mil horas de comando, quase todas sobre as selvas da Amazônia, é o recordista sergipano na soma do tempo de voo. O engenheiro Daniel, que no rastro da sua passagem deixou tantas coisas boas em Sergipe, faleceu há alguns anos no Rio. Algum vereador aracajuano poderia lembrar-se de dar o seu nome a uma rua da nossa cidade. Engenheiro competente ele fez dar certo o que diziam que daria errado, executando a obra que, se Augusto Franco não insistisse na sua necessidade, a Grande Aracaju não seria o que é hoje. A ponte, para os nossos padrões, estava muito velha, por isso, não teria agüentado o tropel. Na Europa, quando os romanos andaram a alargar seu colossal império, construíram pontes, hoje milenares, e ainda firmes. Por elas, através dos séculos, cruzaram exércitos; nas as suas pedras bateram forte os cascos de milhares de cavalos.
No sábado em que a ponte esfarelou-se, o secretário da Saúde Zezinho Sobral postou na Internet a informação sobre a obra arrojada para a nossa indigência provinciana. Foi pedida ao presidente Vargas pelo ¨tenente¨ Augusto Maynard, posto a governar Sergipe como poderoso Interventor após a revolução de 30. Getúlio, muito amigo do militar revolucionário, veio a Sergipe para inaugurar a obra. Tinha arcos que a embelezavam, diferenciando-a das pontes comuns, era algo a merecer admiração. Neste JORNAL DO DIA o primoroso memorialista Raimundo Melo publicou uma crônica sobre a festa que foi a inauguração da ponte. Outro memorialista, Murilo Mellins, conta que ele, ainda criança, assistiu à inauguração. Já o guardador de um valioso baú de reminiscências, o professor e radialista Vilder Santos começou a remexer suas preciosidades em busca de registros, textos sobre a ponte, fotos da ponte.
Rompida a adutora, veio o colapso no abastecimento de água que, imaginávamos, nunca sofreríamos, porque temos outros sistemas em operação, um deles, a portentosa barragem do rio Pitanga. Talvez problemas de interligação da rede tenham impedido o pleno uso das águas daquela barragem. Mas a DESO esbanjou competência. Juntando-se com a engenharia da PETROBRAS os técnicos da empresa de águas concluíram o trecho provisório da adutora em 5 dias, como havia garantido o presidente da empresa engenheiro Carlos Melo, quase sufocado pela pressa que exigia o governador Jackson Barreto. A questão da manutenção da ponte, que servia apenas para a passagem da adutora, isso, é outra estória.