A PRESERVAÇÃO DO CONHECIMENTO TRADICIONAL
Publicado em 22 de junho de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Os Estados Membros da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) aprovaram em maio deste ano, um novo Tratado relacionado com a propriedade intelectual, abordando os recursos genéticos e o conhecimento tradicional associado. Assim, neste artigo irei discorrer sobre a importância da preservação, da identificação e do entendimento sobre o conhecimento tradicional, especialmente no estado de Sergipe.
De acordo com a entidade internacional OMPI, muitos povos indígenas, comunidades locais e governos procuram obter proteção da propriedade intelectual para o conhecimento tradicional e as expressões culturais tradicionais sob a forma de ativos intangíveis. São bens que vão desde a medicina tradicional e o conhecimento ambiental até à arte, aos símbolos e à música.
O Brasil foi um dos países de destaque na assinatura deste histórico tratado da OMPI que trata de forma especial dos conhecimentos tradicionais, pois o Presidente da referida conferência diplomática foi o Embaixador Guilherme de Aguiar Patriota, que também é representante permanente do Brasil junto à Organização Mundial do Comércio (OMC).
De acordo com a OMPI, este é o primeiro tratado da entidade a abordar a interface entre propriedade intelectual, recursos genéticos e conhecimentos tradicionais, sendo também o primeiro tratado da OPI a incluir disposições específicas para os povos indígenas, bem como para as comunidades locais.
Para exemplificar a importância deste novo tratado internacional da OMPI, ocorre que quando uma invenção reivindicada num pedido de patente se baseia em recursos genéticos, cada parte contratante exigirá que os requerentes divulguem o país de origem ou a fonte dos recursos genéticos. Já quando a invenção reivindicada em um pedido de patente for baseada em conhecimento tradicional associado a recursos genéticos, cada parte contratante exigirá que os requerentes divulguem os povos indígenas ou a comunidade local, conforme o caso, que forneceram o conhecimento tradicional.
Preservar os conhecimentos tradicionais é trazer o seu conhecimento para as atuais gerações e solicitar que elas continuem a sua preservação. Neste sentido, entendo que a presença dos museus sergipanos auxilia nesse quesito para o estado de Sergipe.
Destaco as inaugurações de dois museus em Aracaju que contribuem para a preservação dos conhecimentos tradicionais de Sergipe, o Museu da Gente Sergipana Governador Marcelo Déda e o Memorial de Sergipe.
O Museu da Gente Sergipana Governador Marcelo Déda foi inaugurado em 26 de novembro de 2011 e desde lá, vem sendo muito premiado pela sua atuação em prol da preservação da cultura e de forma especial do conhecimento tradicional dos sergipanos. Registre-se a importância da manutenção do referido museu por parte do Banco do Estado de Sergipe S/A – BANESE e as empresas do Grupo Banese, sendo, portanto, uma importante contribuição para a preservação da cultura sergipana.
No Museu da Gente Sergipana Governador Marcelo Déda o público tem a oportunidade de conhecer a literatura de cordel, através de uma biblioteca que inclui os folhetos escritos por autores sergipanos, além disso é possível tocar em uma tela e escolher um folheto e ler como se estivesse em um karaokê. Um conhecimento tradicional relevante para os sergipanos é o nosso falar, com as nossas expressões típicas e o Museu da Gente Sergipana apresenta vários vocábulos típicos de Sergipe, que não podem ser esquecidos pelas novas e futuras gerações, em face de outras influências naturais que são inseridas no sotaque local.
Entre diversos outros saberes tradicionais que o Museu da Gente Sergipana apresenta para a sociedade, destaca-se também, a apresentação das nossas festas que são celebradas ao longo dos anos como afirmação da identidade local, via manifestações religiosas, culturais e populares.
O outro Museu que foi inaugurado no ano passado em Sergipe e que preserva os saberes tradicionais do Estado é o Memorial de Sergipe. Trata-se de um presente que o Magnífico Reitor da Universidade Tiradentes, Jouberto Uchôa de Mendonça idealizou e conseguiu implementar, exatamente com o objetivo de preservar a memória sergipana, ou seja, apresentar e guardar para as atuais e futuras gerações o legado cultural de Sergipe, os nossos saberes tradicionais. Registre-se que o Memorial já existia desde 1998, porém com o constante acúmulo de novas peças que o Prof. Uchôa sempre acumulou, seja recebendo doações ou comprando, como foi a maioria, havia a necessidade de uma local mais adequado, moderno e de fácil acesso para a sociedade, assim, surgiram as novas instalações do Memorial de Sergipe na orla da Atalaia em Aracaju-SE.
Com o grande acervo bibliográfico, iconográfico e museológico que vão desde fósseis até documentos, fotos históricas, coleções únicas no mundo, como as pinturas em azulejo da artista Rosa Faria. Cabe também destacar que o Memorial de Sergipe Prof. Jouberto Uchôa tem uma importante exposição dos povos originários de Sergipe. Nessa exposição é possível ver instrumentos de caça, vestes, músicas e ritos dos povos originários de Sergipe.
Na lógica da itinerância que rege os mais modernos museus do mundo, o Memorial de Sergipe tem uma sala de exposições temporárias que viabiliza a apresentação dos artistas locais e da arte sergipana. Agora neste período de festejos juninos, o Memorial de Sergipe Prof. Jouberto Uchôa apresenta uma programação muito relevante para a preservação dos nossos saberes, pois os visitantes poderão apreciar a arte de artistas da terra com suas obras, os mesmos compartilham suas inspirações e processos criativos.
Que as futuras gerações busquem preservar os nossos saberes de ontem e de hoje, pois ao longo dos anos novos saberes são adicionados formando a nossa identidade própria, peculiar de um território e que não pode ser negada e nem apagada.