Quarta, 08 De Maio De 2024
       
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A PROCURADORA EUNICE, PÉ DE PATO MONGOLÔ 3 VEZES


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Publicado em 17 de junho de 2018
Por Jornal Do Dia


 

Avançando pelo estuário encolhido do São Francisco em agonia, penetra o mar, as águas salgadas do oceano. Agora, onde existiam várzeas ocupadas pelo cultivo  do arroz, surgem criatórios de camarões.  O camarão tem  alto valor agregado, e é produto avidamente procurado pelo mercado, com margem  ilimitada de demanda, desde que bem prospectadas as oportunidades. Ou seja,  trata-se de um bom negócio,  e na região, definida como a mais pobre do estado, é uma perspectiva nova que se abre na acanhada economia do baixo São  Francisco, que ainda mais capengou desde que o autoritarismo dominante ( década dos setenta )  decidiu enfiar goela  abaixo  da sofrida e paupérrima população ribeirinha um ambicioso projeto de irrigação, destinado à rizicultura. O projeto nunca alcançou pleno sucesso, e se  desmancha ainda mais com a precária e rotativa  gerência da estatal CODEVASF, palco ambicionado para a encenação sempre calamitosa de variados grupos políticos que  ali se revezam.
O camarão é uma esperança de dinamização para uma economia quase estagnada, também em consequência da deterioração das águas do Velho Chico, antes psicosas,  agora  quase sem vida.
A carcinocultura, nome horroroso para uma atividade tão promissora, começou antes  de ter sido reduzida a vazão do rio. Em Brejo Grande existiam muitas salinas, aquela forma primitiva, todavia quase a única para a obtenção do sal com o represamento da água salgada do mar, formando a ¨água mãe¨ que evaporando-se ao sol tropical vai deixando depósitos de sal, que são recolhidos e amontoados, numa faina que era, além do mais, uma agressão ao ser humano trabalhando em condições tão precárias. Ao que se diz na região, as salinas desapareceram durante o governo do general presidente Garrastazu Médici, por força de uma determinação  férrea e sem remédio. Foram então os imensos tanques inservíveis, transformadas pelos seus proprietários em viveiros para a criação de peixes. Esses viveiros que só permitem uma despesca por ano, durante a Semana Santa, se tornaram antieconômicos, e um politico e advogado da região, o ex-prefeito de Brejo Grande, Carlos Augusto Ferreira – Carlinhos – foi ao Rio Grande do Norte verificar como ali se produzia camarão em cativeiro. Voltou com a ideia de transformar os viveiros e salinas que existiam numa das propriedades do pai, em criatórios de camarão. Usou  as técnicas recomendadas,  e teve sucesso. O que fez então foi incentivar outros proprietários a seguirem o mesmo caminho, e a carcinocultura se expandiu , ganhou estatura, importância, e poderá crescer muito mais.
O governador Belivaldo já visitou várias vezes a região, dialogou com os camaroneiros e já tem um projeto para incentivar a produção ,e ampliá-la por outros estuários de Sergipe. Sergipe com  estuários de águas organicamente ricas, em virtude dos manguezais, temperatura ideal, e baixa poluição, poderá transformar-se   num grande polo camaroneiro.
A criação de ostras é outra atividade que começa a se expandir. Na região de Pacatuba principalmente. Ao contrário do camarão, a ostra não precisa ser alimentada com ração especial, e isso reduz  consideravelmente os custos. Mas a ostra faz grandes exigências. Requer águas limpas, ou seja, sem poluição, e também ricas em matéria orgânica, e a temperatura que exatamente é a que temos. Existem águas assim, ainda limpas, ao longo do  canal do Pomonga, em partes do rio Sergipe  em Santo Amaro, ou Socorro, em áreas do amplo estuário da Barra da Estancia, e também onde já se pratica, nas proximidades da foz do São Francisco.
Camarão e ostra, um bom cardápio para alimentar a nossa economia.

A procuradora federal Eunice Dantas certamente não acredita na força que têm as mandingas. Não é certamente daquelas pessoas que tremem diante dos patuás que vão encontrando pelo caminho, e repetem como mantra protetor, frases assim, espécie de manto providencial de amparo ou ¨descarrego¨: ¨Pé de Pato Mongolô três vezes¨.

A doutora Eunice é pessoa tranquila, descrente, quase com certeza, de tudo o que possa ocorrer no mundo dos bruxos ou das bruxarias. Por isso, vai levando em frente uma empreitada que pareceria difícil ou improvável para uma procuradora federal, que nasceu em Sergipe, e aqui vive. Afinal, Sergipe, como tanto repete o doutor Albano, é terra pequena onde todos se conhecem. Ou seja, somos quase uma família grande, onde se cruzam laços de sangue, de amizades, ou de múltiplos interesses. Assim, quase todos, mesmo as autoridades mais poderosas,  sempre são susceptíveis aos argumentos reforçados pela  proximidade do espaço onde todos nos movemos. Sempre se encontra uma fórmula de aliviar ou amaciar decisões e atitudes que tenham reflexo sobre o cotidiano da nossa convivência.

Por todas essas circunstancias,  ninguém acreditaria, mesmo em época marcada por um forte ativismo judicial, que chegasse a termo em desfavor de tantas pessoas influentes, e socialmente articuladas, uma ação que representaria o fim de muitas e vistosas carreiras políticas.  

 São mais de vinte deputados ou ex-deputados alcançados pela ação judicial que percorreu os nossos tribunais. Deles emanaram sentenças fortes, e chegou-se ao clímax com o julgamento derradeiro em Brasília, no Superior Tribunal Eleitoral. Conhecida a primeira etapa de um julgamento onde pesou o relatório incisivo do Ministro Luiz Fux, em todo o tramite do processo ficou marcado o protagonismo decisivo da Procuradora Federal Eunice Dantas.

Inconformada agora, com a perspectiva de alguns livrarem-se da cassação ou perda de direitos políticos, a Procuradora agiu com rapidez, reforçando a denúncia e reafirmando em emissoras de rádio, que, no momento, a inelegibilidade já  seria fato consumado, restando,  na continuação do julgamento já marcado para o dia 21, decidir-se sobre a perda de mandatos.

 Caso sejam confirmadas as punições,   altera-se substancialmente o panorama politico sergipano.  Ocorrerá uma espécie de clivagem separando duas épocas. Seria o antes e o depois da Procuradora  Eunice Dantas, e do ativismo dos nossos tribunais.

Em relação a ela dividem-se as opiniões. A maioria, em consonância com o clima agora dominante de aversão à classe política, estará a festejar   com entusiasmo, a proativa representante do Ministério Publico Federal; uma outra parte, de menor proporção, todavia influente, irá estigmatizá-la como impertinente algoz.

 Ninguém imaginaria ou sequer suspeitaria da possibilidade de vinditas. Não existe esse clima, nem poderia existir, dado que vivemos na plenitude do Estado de Direito e todos os personagens envolvidos, mesmo os que seriam mais afetados pelas medidas, são pessoas pacíficas e morigeradas.

Mas, daquilo que chamamos  mau olhado,  ninguém está livre. Dai, pelo sim pelo não, a Procuradora,  mesmo não acreditando, poderia ¨botar fé ¨em algum amuleto, e dele se mantendo bem próxima.

 

Como dizem os precavidos descrentes, todavia realistas espanhóis: ¨Yo no lo  creo en las brujas, pero que las hay, hay.¨

 

AS FESTAS JUNINAS E AS RASPADAS NA CULTURA

Em meio ao desastre a que nos conduz o periclitante presidente Temer, quando se perde até o entusiasmo com a seleção brasileira, anunciou-se que em Sergipe as festas juninas seriam irrigadas com uma boa dinheirama. Sairia   do Ministério da Cultura graças ao indiscutível prestigio do deputado André Moura, líder exatamente do devastador conluio ou contubérnio palaciano, que se intitula governo. Veio a Sergipe o Ministro da Cultura, tendo ao seu lado o prestigiado parlamentar. André é, sem duvidas, um político repleto de habilidades. Tornou-se solícito palafreneiro  do poderoso Eduardo Cunha, que saiu da presidência da Câmara Federal para continuar influente no Planalto, mesmo na condição de presidiário. André  ficou também poderoso, sendo representante de Eduardo Cunha junto ao presidente Temer, que o fez líder. Assim, André ganhou   transito livre pela República devastada.

Garantir a festa junina em Sergipe seria uma etapa vencida,  na tentativa  que faz André para eleger-se senador, tendo, contra ele, o peso de uma rejeição considerável,  e o sinete na testa, que o identifica como parceiro  de Temer,   com efeito, também associado ao que a  Procuradoria Geral da República classifica como ¨Organização Criminosa ¨.

André atendeu aos apelos do prefeito Edvaldo Nogueira que, ano passado, não teve outro remédio a não ser cancelar o Forro Caju , a nossa maior festança popular,  com   dimensão nacional, depois de modestamente iniciada por Jackson Barreto quando prefeito, nos anos oitenta.

 O Forró Caju está  garantido, o dinheiro chegou antes, a Prefeitura até deu uma contrapartida, todavia,  sobre a festa  no interior, pesa a ameaça de possíveis cortes de verbas, depois que,  do fundo do tacho miúdo do Ministério da Cultura rasparam o que ainda havia,  para que fosse tapado o rombo causado pelas concessões que Temer fez aos caminhoneiros  que acabaram de desfazer o equívoco sobre a existência de um eventual governo.

Os prefeitos,  sabedores do que ocorreu no Ministério de onde deverá ainda sair a disputada bufunfa, andam inquietos, nervosos, porque já contrataram bandas, armaram os palcos, os camarotes,  onde deverão estar com o deputado que viabilizou a festa, e quer votos para tornar-se senador da República. Praza aos céus que, se eleito, André   torne-se  senador de uma outra República, não contaminada pelos  Cunhas, os Temer, os  Geddeis, os Padilhas, os Moreiras,  os Rocha Loures, e tantos outros aos quais agora tão diligentemente  ele serve; e que apostam alto na sua eleição, para que possam contar, no Senado Federal, com um representante que os defenda, quando estiverem,  a partir de janeiro, esperando que às suas portas batam os indormidos  agentes da Federal.

 

 O MILHO AMEAÇADO E E O QUE DIZ OVERLAND 

O milho é hoje a atividade agrícola que mais se expande em Sergipe, depende evidentemente das chuvas de inverno, que costumam cair entre março e agosto. Depois de cinco anos sucessivos de estiagens, tivemos, ano passado, um clima favorável, e nossa produção levou o estado a fixar-se como o  terceiro maior produtor do nordeste. Este ano as perspectivas iniciais eram muito boas, mas o discurso do meteorologista Overland Amaral, que é a nossa voz do clima, sofreu algumas modificações, e passou do otimismo pleno para uma cuidadosa mediana expectativa. É que as chuvas previstas para maio atrasaram, e houve até um veranico. As maquinas já haviam preparado a terra, desde Nossa Senhora Aparecida, passando por Dores, Gloria, Monte Alegre, Carira, Frei Paulo, Ribeirópolis, Pinhão , Simão Dias e Poço Verde, os maiores produtores, mas as chuvas não vieram como esperado, e no semiárido sequer chegaram ainda, nesse meado de junho. Overland faz previsões agora mais modestas, calcula chuvas em torno de 300 milimetros, de agora em diante, a até fins de agosto, mas isso para o agreste, com ressalvas para o alto sertão. Se o previsto acontecer, dará ainda para haver uma safra que, todavia, não deverá chegar aos dois terços do que foi a do ano passado.

 

UM PASTOR E A SUA DISCIPLINA DE MILITAR

Faleceu  o pastor Nonô, Jose Antônio dos Santos. Ele morreu em Aracaju durante uma reunião da sua congregação, a igreja Assembleia de Deus, da qual era um dos dirigentes em Sergipe. A vida do pastor transcorreu porém,  quase toda em Canindé do São  Francisco, onde deu sequencia à obra evangelizadora do seu pai , o Pastor Antônio Jose, A comunidade Nova Vida plantada no quase deserto dos confins do município, transformou-se numa referencia de gente dedicada, trabalhadora, onde a criminalidade quase não existe. O pastor Nanô que desceu ao tumulo ao som de uma corneta em toque de silencio  que por algum tempo substituiu as orações, teve a homenagem que merecia, partida das duas instituições às quais dedicou a vida: a Igreja Evangélica e o Exército Brasileiro. O exemplo de fé e disciplina que ele transmitia, foi muito além do âmbito da família, e percorreu a numerosa comunidade de fieis, a sua outra família, que a ele obedeciam, não só como pastor, mas também como conselheiro, que em muitas circunstancias fazia o papel de um pai.

 

LIMPANDO O LIXO QUE É POSSIVEL REMOVER

Nesse sábado (16), remadores com suas canoas, caiaques, pranchas,  skifs, percorrendo as águas, em alguns pontos fétidas, e desgraçadamente poluídas do rio Poxim, passam um exemplo para a comunidade, para os aracajuanos sobretudo, que em ultima analise são os responsáveis pela sujeira que  é lançada ao rio, pelos esgotos que nele criminosamente despejam. O exemplo dos remadores é também um grito de socorro do rio morrendo,  transmitido sobretudo às autoridades, e sugerindo que se juntem, Estado, prefeituras, governo federal, Ministério Publico federal e estadual para que se unam e desenvolvam um inadiável programa de salvação dos nossos rios. Comecem pelo Poxim, de cujas  cabeceiras ainda limpas recebemos parte da água que chega às nossas torneiras.

O prefeito Edvaldo Nogueira transmitiu ao presidente da EMSURB, a tarefa de juntar-se ao ato dos remadores. Acontece que o advogado Luiz Roberto Santana é  também ambientalista,  e entusiasmou-se. Providenciou o recolhimento do lixo que for coletado pelos caminhões da limpeza urbana, e prometeu transformar em projeto a sugestão que lhe foi levada para usar canoas ociosas, tanto de pescadores, como as que fazem o transporte Barra- Aracaju, num trabalho permanente de coleta do lixo nos rios que cortam Aracaju,  e são quatro: o Sergipe, o Sal, o Poxim e o Vaza Barris. Os demais prefeitos, no caso os da Barra, Socorro, Santo Amaro, São Cristovão e Itaporanga poderiam adotar a mesma providência. O da Barra dos Coqueiros  Airton Martins, assegurou que vai participar.

Com o lixo recolhido e até exposto a quem estiver no Parque dos Cajueiros, se planta uma semente de ativismo ecológico que deverá render frutos.

 

DA COLÔNIA À METRÓPOLE, O ROTEIRO SENDO REFEITO

Da colônia no além mar distante, chegavam à Corte da metrópole portuguesa raros brasileiros, todos eles filhos de ricos fazendeiros , comerciantes ou mineradores e traficantes de escravos, que se dirigiam à Coimbra almejando a conquista de um diploma de bacharel. Lá pelo século dezoito, a colônia enriquecida com os restos que lhe permitiam ficar, aumentava o fluxo  dos que garimpavam do outro lado do mar oceano o conhecimento, por meio do qual se tornariam burocratas da elite, clérigos,  ou políticos, com a certeza de mandatos que os privilégios sociais lhes assegurariam.

Desde que o rei Dom Sebastião com seu exército de flibusteiros e forçados, foram dizimados nas areias dos desertos marroquinos, pondo fim a um sonho desatinado de conquistas e pilhagens,  Portugal imergiu numa espécie de madorra saudosista, tornada mais densa, ainda, quando o Duque de Alba, chegou com um exército de esfarrapados para anunciar que o novo rei de Espanha  Felipe II, era o novo monarca a quem os portugueses  teriam de render vassalagem.  Tudo isso era a sequencia de capítulos de uma desgraça  , que, além da humilhante derrota, passava pela ausência de um sucessor, após a morte do cardeal Dom Henrique, tio de Dom Sebastião, que sexagenário,  idade limite naquela época, buscara autorização do papa para casar e procriar, a fim de dar herdeiros ao trono. Morreu sem casar nem consumar a ousada tarefa de gerar filhos, e o país facilmente se deixou subjugar.

Surgia o mito do ¨sebastianismo ¨aquela crença de que o rei morto em África retornaria para reviver o tempo de glórias. O esperançoso mito santificava o jovem rei, sem mesmo entender que ele, menino ainda, entrava em transes místicos enquanto sentia o cheiro da carne queimada de judeus ímpios assados nas fogueiras piedosamente expiatórias, acesas em Évora, e se imaginava indo levar a fé cristã em meio a pilhagem de tesouros, a caminho da Terra Santa.

Os sebastianistas, séculos depois, enxergaram em um soturno carola autoritário, a própria figura do rei Sebastião, que nele estaria encarnada. E assim viveram mais uma longa noite, na qual as guerras em Moçambique e Angola geravam milhares de viúvas, que em longos vestidos negros, e densos véus lhes encobrindo as faces, eram vistas entrando e saindo das catedrais e capelas, cumprindo um ritual sem fim, de lamentos e sacrifícios.

Em abril de 1974, finalmente os jovens oficiais cansados daquela madorra eternizada, ao som de Grandola Vila Morena, a musica senha, puseram em marcha os seus tanques e botaram abaixo o que restava do legado sinistro do falecido ditador Oliveira Salazar, um velho que já era decrépito desde a juventude.

Portugal trocou  a lamuria do fado por musicas menos enfadonhas, e mudou de cara, mas o fez em tumulto, numa desordem de revolução sem rumo. Restabelecida a sensatez, houve a adesão à Comunidade Europeia, e o país pobre, em parte ainda arrastando uma herança feudal, recebeu o alento de projetos transformadores. A euforia acabou quando surgiu a crise a quebradeira,  mas ai, o ¨sebastianismo¨ ou o mito do homem rei salvador, já fazia parte de uma historia sem nexo.

Depois de 2011, quando houve o colapso, e tudo parecia perdido, buscava-se uma saída para a crise, e a comunidade europeia hesitava em ajudar um país que parecia imitar o insucesso permanente da Grécia, igualmente falida. Então, a vitória nas eleições parlamentares de um bloco socialista, fez surgir o Primeiro Ministro Antônio Costa. Desapegado dos modelos excludentes de fazer politica, lançando  uns contra outros, numa luta sem fim e sem vencedores, ele, sensatamente, proclamou: ¨A chave para o futuro é a capacidade de identificar entre os interesses  contraditórios, a base comum para descortinar o futuro europeu, e essa base é a capacidade para construir pontes entre diferentes famílias políticas. Portugal tem duas alternativas claras,  a nossa e a da direita e isso é bom para a democracia. Temos de falar com todos, sem que ninguém perca sua identidade ¨

. O primeiro ministro deu fim a autofagia que dizimava a política e gerava antagonismos inconciliáveis.

Ao completar 500 dias do governo  Antônio Costa, o salário mínimo que era de 505 euros passou para 580,  e no próximo ano será de 600 euros. O índice de desemprego em 2013,  era de 16. 2 %, agora é de 8. 9 %. Os servidores na  ativa e aposentados tiveram os salários descongelados, a produtividade crescendo, permitiu que fossem acrescentados ao tempo de lazer mais quatro dias feriados. Foram reduzidos impostos e o país se prepara para receber empresas inglesas, na maioria start-ups, que fogem das incertezas do Brexit, a saída do Reino Unido da comunidade europeia. E já criaram um slogan:  ¨Portugal a segunda casa  dos britânicos.¨

Portugal pela primeira vez cresce mais do que o resto da Europa, e o Primeiro Ministro explica a sua fórmula de sucesso: ¨Definimos uma alternativa política centrada em mais crescimento, mais e melhor emprego, mais igualdade¨.

Enquanto isso, aqui,  no  país recolonizado pela incompetência política que chega ao clímax, com essa quadrilha no poder, acumulamos desastres, escândalos, decepções, desespero e revolta.

E  os brasileiros que podem, refazem com esperanças, todavia forçosamente o caminho rumo a Portugal, visto agora como a ¨metrópole¨ que deu certo, e até faz inveja aos   que por aqui assistimos, inermes,  ao desmonte de um grande país,    que  renuncia covardemente à sua vocação de grandeza, para ser uma colônia dominada por bucaneiros.

 

DE VESPÚCIO A MICHEL E  ATERRA SEM  PROVEITO

Américo Vespúcio, como se sabe foi um grande navegador, um mareante tão famoso cujo nome serviu para dar identidade às novas terras que Colombo e Cabral haviam encontrado.   Nascido em Florença, e de  família aristocrática, viveu no exuberante tempo  dos Medicis,  e a eles serviu como um burocrata ilustrado, calculando muito bem os juros cobrados pelos financiadores do comércio que se expandia, e da aventura pelos mares em busca das novas terras. Já era velho, para os padrões da longevidade naquele tempo, quando decidiu  fazer-se ao mar. Mais do que um simples aventureiro, ele  figura entre os navegadores que se armaram com o conhecimento para ultrapassar as fronteiras do desconhecido. Espírito pragmático, ao percorrer as costas daquela terra imensa a que davam o nome de Terra dos Papagaios, Vespúcio, diante da prodigalidade tropical que tanto encantara o escrivão da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha, não se perdeu em devaneios e encantamentos, foi seco, até ríspido, ao traduzir o seu pessimismo equivocado, quando escreveu numa descrição das suas viagens que logo correria a Europa a respeito das terras descobertas por  Cabral: ¨Pode-se dizer que nelas não encontra-se nada de proveito ¨. 

Logo  depois, o próprio Vespúcio desfazia o desesperançado engano, e aderia aos que já antecipavam a vastidão dos lucros que teriam com aquela árvore de madeira vermelha, a ibirapitanga dos índios, o pau em brasa, ou brasilis, que terminou dando nome à terra, e dela sendo a primeira riqueza extraída.

O mareante Vespúcio equivocou – se quando imaginou que daquela terra não se poderia tirar proveito. Ao longo de quinhentos anos,  tirar proveito é exatamente o que fazem aqueles que de uma forma ou outra se assenhoreiam  da terra que é, aliás, prodigamente dadivosa, principalmente para os que se tornaram  através da história seus reincidentes saqueadores.

 

O CAMARÃO, UMA NOVA ECONOMIA QUE SURGE

Avançando pelo estuário encolhido do São Francisco em agonia, penetra o mar, as águas salgadas do oceano. Agora, onde existiam várzeas ocupadas pelo cultivo  do arroz, surgem criatórios de camarões.  O camarão tem  alto valor agregado, e é produto avidamente procurado pelo mercado, com margem  ilimitada de demanda, desde que bem prospectadas as oportunidades. Ou seja,  trata-se de um bom negócio,  e na região, definida como a mais pobre do estado, é uma perspectiva nova que se abre na acanhada economia do baixo São  Francisco, que ainda mais capengou desde que o autoritarismo dominante ( década dos setenta )  decidiu enfiar goela  abaixo  da sofrida e paupérrima população ribeirinha um ambicioso projeto de irrigação, destinado à rizicultura. O projeto nunca alcançou pleno sucesso, e se  desmancha ainda mais com a precária e rotativa  gerência da estatal CODEVASF, palco ambicionado para a encenação sempre calamitosa de variados grupos políticos que  ali se revezam.
O camarão é uma esperança de dinamização para uma economia quase estagnada, também em consequência da deterioração das águas do Velho Chico, antes psicosas,  agora  quase sem vida.
A carcinocultura, nome horroroso para uma atividade tão promissora, começou antes  de ter sido reduzida a vazão do rio. Em Brejo Grande existiam muitas salinas, aquela forma primitiva, todavia quase a única para a obtenção do sal com o represamento da água salgada do mar, formando a ¨água mãe¨ que evaporando-se ao sol tropical vai deixando depósitos de sal, que são recolhidos e amontoados, numa faina que era, além do mais, uma agressão ao ser humano trabalhando em condições tão precárias. Ao que se diz na região, as salinas desapareceram durante o governo do general presidente Garrastazu Médici, por força de uma determinação  férrea e sem remédio. Foram então os imensos tanques inservíveis, transformadas pelos seus proprietários em viveiros para a criação de peixes. Esses viveiros que só permitem uma despesca por ano, durante a Semana Santa, se tornaram antieconômicos, e um politico e advogado da região, o ex-prefeito de Brejo Grande, Carlos Augusto Ferreira – Carlinhos – foi ao Rio Grande do Norte verificar como ali se produzia camarão em cativeiro. Voltou com a ideia de transformar os viveiros e salinas que existiam numa das propriedades do pai, em criatórios de camarão. Usou  as técnicas recomendadas,  e teve sucesso. O que fez então foi incentivar outros proprietários a seguirem o mesmo caminho, e a carcinocultura se expandiu , ganhou estatura, importância, e poderá crescer muito mais.
O governador Belivaldo já visitou várias vezes a região, dialogou com os camaroneiros e já tem um projeto para incentivar a produção ,e ampliá-la por outros estuários de Sergipe. Sergipe com  estuários de águas organicamente ricas, em virtude dos manguezais, temperatura ideal, e baixa poluição, poderá transformar-se   num grande polo camaroneiro.
A criação de ostras é outra atividade que começa a se expandir. Na região de Pacatuba principalmente. Ao contrário do camarão, a ostra não precisa ser alimentada com ração especial, e isso reduz  consideravelmente os custos. Mas a ostra faz grandes exigências. Requer águas limpas, ou seja, sem poluição, e também ricas em matéria orgânica, e a temperatura que exatamente é a que temos. Existem águas assim, ainda limpas, ao longo do  canal do Pomonga, em partes do rio Sergipe  em Santo Amaro, ou Socorro, em áreas do amplo estuário da Barra da Estancia, e também onde já se pratica, nas proximidades da foz do São Francisco.
Camarão e ostra, um bom cardápio para alimentar a nossa economia.

 

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