Fake News histórica (Divulgação)
A propósito do sete de setembro
Publicado em 07 de setembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
.
Entre todas as perversidades no coldre de certo patriotismo, isso de fazer crer em santos de pau oco, heróis de farda e coturno, mitos sem vida pregressa, é certamente a depravação mais perversa. Um sujeito abestalhado com as pinceladas homéricas de Pedro Américo, por exemplo, pode até gozar de alguma sensibilidade artística, admito. Mas sem dúvida nenhuma é uma presa fácil, incapaz de resistir ao canto das sereias, a falsificação da História.
‘O grito do Ipiranga’, um documento visual datado de séculos, não passa de mentira deslavada. Pago regiamente pela coroa brasileira, 66 anos depois da Independência do Brasil, o artista carregou nas tintas, a fim de emprestar a Dom Pedro I uma postura incompatível com a montaria do príncipe regente, perfeitamente coerente com todo o contexto do gesto.
Convenhamos, não há pose que se sustente no dorso de uma mula empacada. Sim, a realeza do império brasileiro se equilibrava sobre o dorso de animais cansados. Isso, os livros didáticos, a serviço de uma versão idealizada da realidade nacional, não relatam. O pintor Pedro Américo, aliás, vivia bem longe do Brasil quando recebeu a encomenda da obra, na Itália. Era, portanto, uma espécie de Diogo Mainard de antanho, um observador distante, um comentarista desinteressado, um privilegiado.
A propósito do sete de setembro, cultivo cismas. Autoridades militares, por exemplo, elas merecem de mim o mesmo desprezo devotado aos volumes de Educação Moral e Cívica. Aos generais aboletados nos palanques de uma cerimônia marcial sem outro propósito, além de emprenhar os olhos e ouvidos alheios com um novo grito do Ipiranga, tão falso quanto o primeiro, portanto, dedico o meu escárnio.
Estou fora! Não bastasse a cafonice do fetiche militarista, a demonstração canhestra de uma força bélica francamente fantasiosa, o sete de setembro também virou palco dos soldados magros da extrema direita. Já não se trata apenas de declarar amor à pátria, um amor infantil, como se exige dos estudantes em calças curtas.Mas de engrossar as fileiras eleitoreirasde fuleiros e otários.