A Questão da Desigualdade Social Brasileira em Tempos de covid-19
Publicado em 27 de junho de 2020
Por Jornal Do Dia
* Jussara Carvalho Batista Esteves
O Brasil ocupa o nono lugar do país mais desigual do mundo. A concentração de renda no país é um dado alarmante, sabe-se que 10% dos mais ricos concentram 41,9% da renda total entre os brasileiros. De acordo os dados da PNAD (2020), o primeiro trimestre deste ano apresentou12,9 milhões de brasileiros vivendo em situação de extrema pobreza, com a COVID-19 esse número tende ser exponencialmente maior. Os números apontam que o desemprego nas pessoas que se declararam pretas e pardas avançou respectivamente de 13,5% e 12,6% do quarto trimestre para 15,2% e 14%, enquanto o das brancas subiu de 8,7% para 9,8%. No caso das mulheres, apesar de possuírem melhores indicadores de educação e longevidade, a renda delas é 41,5% menor, em comparação aos homens, além disso a taxa de desocupação foi estimada em 10,4% para homens e 14,5% para mulheres (PNAD,2020).
Desse modo, vamos contextualizar a partir de indicadores,o abismo da desigualdade social brasileira e seus agravantes em tempos de pandemia.
O ABISMO DA DESIGUALDADE SOCIAL
A maior parte da população brasileira é composta de pretos e pardos 55,8%, porém, é justamente esse grupo que possui maior taxa de analfabetismo, menores salários e sofrem mais com a violência e o desemprego. No que se refere a educação, apesar de melhorias dos indicadores com implantação de políticas afirmativas a exemplo do sistema de cotas, a desvantagem da população preta e parda em relação a branca continua evidente. Em 2018, 3,9% da população branca com 15 anos ou mais eram de analfabetos, percentual que se eleva para 9,1% entre pessoas de cor preta e parda. No grupo etário de pessoas com 60 anos ou mais, esse mesmo indicador evidencia 10,3% da população branca contra 27,5% dos idosos pretos ou pardos (IBGE,2019). Além disso, o abandono escolar de pessoas pretas ou pardas de 18 a 24 anos é de 28%, contra 17% dos brancos. O ensino superior na rede pública, em 2019 chegou a 50,3% da população universitária por causa do sistema de cotas. Porém, o número de brancos nas universidades públicas ainda é superior.
O desemprego e os salários baixos,são outros alarmantes dos indicadores evidentes no país.Somente neste ano, o desemprego das pessoas que se declararam pretas e pardas avançou respectivamente de 13,5% e 12,6% do quarto trimestre para 15,2% e 14%, enquanto o das brancas subiu de 8,7% para 9,8%. Esse número tende a se agravar com a crise econômica no decorrente da COVID-19. No caso das mulheres pretas e pardas, o abismo da desigualdade é ainda maior.No ano passado, elas receberam em média menos da metade do salário dos homens brancos (44,4%), que ocupam o topo da escala de remuneração deste país.Uma pesquisa do IPEA, revelou que 21% das mulheres pretas no Brasil são empregadas domésticas, contra 12,5% das mulheres brancas, outro dado alarmante é que 46, 27% das mulheres negras no Brasil, nunca passaram por um exame clínico de mama.
A taxa de homicídio no Brasil em vez de reduzir ela aumenta. Segundo os dados, a taxa de homicídio entre pessoas pretas e pardas aumentou no período de 2012 a 2017 de 37,2% para 43,4% mortes para cada 100 mil habitantes, enquanto na população branca, esse mesmo índice ficou estável. Esse número é ainda mais assustador nos jovens pretos e pardos, chegando a 98,5 por 100 mil habitantes de 15 a 29 anos, enquanto nos jovens brancos essa taxa é 34 por 100 mil habitantes. Além disso, a população carcerária no país de acordo com IBGE é de 73%, representada pelos pretos e pardos. Todos esses dados tendem a evoluir diante do atual momento. Um estudo do Banco Mundial, aponta que com a COVID-19 lançara no país, mais de 5,4 milhões de brasileiros vivendo na extrema pobreza. Casos e confirme, serão mais de 14,5 milhões de brasileiros vivendo com US$ 1,9 por dia. Mais de 75% dessa população de pobres no Brasil são de pretos e pardos.
O racismo estrutural no Brasil, se reflete exatamente nos dados apontados acima. A desigualdade de renda, de acesso a bens e serviços e de ativos de oportunidades,contribui para que os pobres não consigam apropriar-se dos frutos do crescimento econômico. É importante cada vez mais políticas, nas quais tais desigualdades citadas acima sejam reduzidas.Em tempos de pandemia todos os dados tendem a se agravar. Nesse sentido, faz-se necessário criar oportunidades para todos no acesso a escola de qualidade, melhores serviços e políticas que venham promover a redução da violência, melhores condições de vida da população como um todo.
* Jussara Carvalho Batista Esteves, economista. M. Sc. Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico Regional (UFS). Analista em Desenvolvimento Regional – Economista CODEVASF 4ªSR- Unidade de Finanças 4ªGRA/UFN. Elaborado 20.04.2020