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A sergipanidade do Agreste


Publicado em 07 de junho de 2025
Por Jornal Do Dia Se


O agreste sergipano é único, unido pelo passado, pelo modo de vida, cultura, economia, religião, e pelo futuro

 

* Antonio Samarone

 

Uso no texto o conceito de Luiz Antonio Barreto das três sergipanidades: a do litoral e zona açucareira, a do sertão e a do agreste. Sergipe é pequeno, diverso e múltiplo.
Luiz Antonio Barreto foi o idealizador dos Núcleos Locais de Cultura, usurpado por alguns espertalhões.
No Império, o território de Itabaiana era de 200 léguas (8.000 Km²): ia de Santa Rosa de Lima a Jeremoabo. Hoje, limita-se a 337 Km². Como se deu esse esquartejamento?
A primeira perda significativa foi pela força da economia açucareira. O Povoado dos Pintos foi elevado a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Riachuelo, em 1837. Anos depois, 1874, virou a Villa de Riachuelo. Itabaiana perdeu os engenhos. Malhador foi junto.
A segunda perda se deu pela força do algodão. Na segunda metade do Século Dezenove, o povoado Chã do Jenipapo, derrubou as suas matas para plantar algodão. A riqueza do ouro branco chegou. Em 1890, virou a Vila de Frei Paulo, e se desmembrou de Itabaiana.
A última grande perda, foi Campo do Brito, essa por razões políticas. Em 1845, surgiu a Freguesia de Nossa Senhora da Boa Hora. Em 1891, o padre Francisco Freire de Menezes assumiu a Freguesia. Um homem preparado, político competente, deputado influente, começou a articular a autonomia de Campo do Brito, com uma grande resistência política de Itabaiana.
A oportunidade surgiu em 1912, no Governo de Siqueira de Menezes. Vamos aos fatos:
O chefe político de Itabaiana, Batista Itajay, político ligado aos cabaús de Olímpio Campos, chegou ao auge de sua carreira ao compor como vice a chapa de Rodrigues Doria. Um chapa com dois médicos. Chegaram ao governo em 1908.
Por motivos alegados de doença, o governador Rodrigues Dorea pediu licença e afastou-se do Governo. Em confiança, deixou uma carta de renúncia assinada, e viajou com uma orientação: se eu resolver não voltar, lhe comunico e você entrega a minha renúncia.
Mordido, pela mosca azul, Itajay se apressou e entregou a renúncia antes, por conta própria. Assumiu o Governo por pouco tempo. Rodrigues Dorea, com o apoio do Presidente da República, Nilo Peçanha, voltou e reassumiu.
Batista Itajay retirou-se para a oposição, com a fama de traidor, o que significou o ostracismo político.
O padre Francisco Freire de Menezes, aproveitou-se da conjuntura desfavorável de Itabaiana, e conseguiu, ainda em campanha, o compromisso do futuro governador, General Siqueira de Menezes, o compromisso de desligar o Campo do Brito de Itabaiana.
O padre foi o vigário de Campo do Brito por 40 anos, falecendo em 1929.
Com a queda de Itajay (1909), Itabaiana assistiu impotente a perda de uma grande fatia do seu território. Campo do Brito se desmembrou de Itabaiana em 1912, e ainda levou consigo Macambira e Pedra Mole.
Isso criou um mal-estar na população de Itabaiana, que não tendo força política para reagir, criou uma lenda, para diminuir a importância dos campo-britenses. Campo do Brito virou uma terra de lobisomens.
Uma vingança pueril.
O Campo do Brito, terra do Capitão-Mor Manuel Pestana de Brito, criador de gado na região, se tornou um importante município sergipano. E Itabaiana, com a perda do território, cresceu economicamente, e se tornou a atual Itabaiana Grande.
Todo o agreste foi historicamente desmembrado de Itabaiana. Todos já foram devotos de Santo Antonio. O que justifica a profunda identidade histórica, cultural e religiosa.
O atual vigário da Paróquia de Santo Antonio e Almas, reverendo Marcos Rogério, resolveu inteligentemente comemorar os 350 anos da freguesia, levando o Santo para visitar os demais municípios.
O agreste sergipano é único, unido pelo passado, pelo modo de vida, cultura, economia, religião, e pelo futuro.

 

* Antonio Samarone, secretário de Cultura de Itabaiana.

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