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A TOUPEIRA E O TAPA-BURACO


Publicado em 05 de novembro de 2021
Por Jornal Do Dia


Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos

Eu cresci ouvindo de meus pais uma história que me deu uma primeira noção do que é exercer a cidadania e a exata medida de um homem público. O então prefeito de Lagarto, Dionísio de Araújo Machado (1958-1962 e 1970-1974), tinha o hábito de acordar cedo e percorrer a cidade para saber, in loco, as necessidades estruturais e as demandas correntes, como a troca de uma lâmpada num poste ou algo do tipo.

Aquele comportamento remete, em grande medida, só que ao nível da coisa pública, à passagem bíblica que diz: “O zelo da tua casa me consome (Sl 68,10)”. E assim sempre entendi qual deva ser a função de qualquer pessoa que se investe de poder pela via democrática: cuidar da cidade e de seu povo. Notadamente, aos que estão na condição de gestores públicos.

Meu ideal de vida pública flerta constantemente com a minha utopia de morar em um lugar que tenha as condições básicas e necessárias para se ter uma vida digna. Em que pesem a saúde, a educação e a segurança serem um tripé fundamental e a este se somente ainda as oportunidades reais de emprego, renda e prosperidade, uma cidade ou uma municipalidade precisa oferecer as condições infraestruturais para seu povo.

No nosso tempo, é inconcebível que ainda existam esgotos a céu aberto. Propagador de doenças as mais sérias, eles infestam as cidades do país denunciando o descaso e falta de compromisso da maioria de nossos gestores. Ao contrário do que disse nosso maior mandatário no início da pandemia de COVID-19, brincar no esgoto não dá ao brasileiro uma condição de ser estudado como algo extraordinário, imune, naturalmente, a doenças, por exemplo.

As praças se tornaram hoje um lugar muito frequentado por pessoas de todas as faixas etárias. Com a prática crescente das atividades físicas, então. Assim, faz-se necessários que para além de belas, elas estejam constantemente preparadas para acolher, com parques devidamente conservados, calçamentos e estruturas intactas e limpas, devidamente arborizadas, arejadas e seguras.

Por falar em arborização, o concreto invade cada vez mais a paisagem de nossas cidades. Fui de uma época que os jardins eram cuidados, floridos, o gramado espesso, as ruas e lugarejos repletos de todo tipo de árvore, inclusive frutíferas. Nesse sentido, sou fã de Salvador, notadamente do Corredor da Vitória. Está aí uma cidade em cujo exemplo os gestores deveriam mirar-se no que diz respeito à convivência saudável entre o estrutural, o estruturante e o natural.

A iluminação garante segurança? Via de regra, sim. Bons calçamentos evitam acidentes desnecessário e proporciona acessibilidade? Devem! Prédios públicos sendo devidamente utilizados para o bem-comum, com espaços limpos, banheiros e condições sanitárias ajudam em alguma coisa? Mais do que óbvio, é um dever! Já está mais do que passado da hora de deixar de encarar a coisa pública como algo de segunda categoria. Os altos impostos cobrados deveriam servir para proporcionar dignidade aos bens que não são dos gestores, mas da sociedade como um todo.

Via de regra, se não há o zelo pela casa do povo o que impera pode ser muito bem representado pelo que vimos e vivemos constantemente nas cidades brasileiras: operações tapa-buracos, em todos o sentidos que não somente no que diz respeito a “improvisar” o que um acidente natural causou ou empresas de fornecimento de água em sua vocação toupeira. Improvisar está longe de administrar e de cuidar.

E as pessoas? Essas são as mais importantes! A cidade deve ser planejada, zelada e bem cuidada em função delas. Cidades bem-estruturadas implicam em povo desenvolvido, combate à miséria, à fome e à pobreza. Melhorar as condições estruturais das cidades, com racionalidade, inteligência, dedicação, desprendimento, ética, compromisso e seriedade é garantir às pessoas aquilo que elas merecem: vida digna, feliz, abundante, saudável e próspera.

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