Os bem aquinhoados sempre tomam banho (Divulgação)
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A Venezuela no mapa
Publicado em 06 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
A Venezuela voltou ao mapa do mundo. Até outro dia, a ferida aberta ao sul do equador merecia a atenção de todos os brasileiros. Os alinhados à direita alertavam sobre os perigos de vida e morte do populismo. Os partidários da esquerda insistiam na aliança histórica com o chavismo, apontando o dedo gordo para o imperialismo ianque. Alheia a uns e outros, a população governada com mão de ferro perdia peso, morria de fome.
Reminiscências de uma vida passada. Para todos os efeitos, com exceção de uma notícia aqui, outra ali, não havia mais Venezuela. Ninguém dizia uma palavra sobre os abusos cometidos pelo regime de Maduro. Tudo indicava, o País inteiro afundava em petróleo.
A Venezuela era, então, um problema exclusivo dos venezuelanos, gente como o fotógrafo Cao Sanchez, sem outra alternativa além de encarar o fogo cruzado de peito aberto, as mãos erguidas entre o autoritarismo e a carência absoluta de recursos, as prateleiras vazias. Lá, higiene já foi uma questão de classe.
Em uma série de fotografias, Sanchez surpreende os venezuelanos abastados ostentando produtos importados: creme dental, detergente, café em pó. Os venezuelanos bem de vida, profissionais liberais com dinheiro no banco, recorriam a empresas transportadoras com atuação internacional para encher as despensas. A imagem não chocava, como as costelas à mostra de uma criança esquálida. Mas, ainda assim, denunciava o silêncio cúmplice da comunidade internacional. Em qualquer circunstância, os bem aquinhoados tomam banho, uma exigência da paz social.
Não é fato vulgar, um país sumir do mapa, depois emergir, em um passe de mágica. Vinte e oito milhões de pessoas viram e desviram fumaça. Os grandes feitos de Houdini não chegaram a tanto. Sobre o grande vazio cartográfico na cabeceira da América do Sul, sobre o espanto de suaberupção, resta de novo a má consciência do mundo civilizado.