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A VERTICALIZAÇÃO SERIA O CAOS NAS CIDADES?
Publicado em 30 de novembro de 2014
Por Jornal Do Dia
O juiz federal Ronivon Aragão tem se caracterizado por suas decisões exemplares e que o credenciam como um magistrado que não hesita em buscar o caminho legal para as questões mais complexas. Essa liminar que ele concedeu limitando em 12 andares o gabarito permitido em Aracaju, está, todavia, provocando uma ampla controvérsia e fazendo surgir argumentos que, sem dúvidas, devem ser levados em conta. O primeiro deles veio através da afirmação do presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Sergipe, Tarcísio Teixeira. Ele alerta para a possibilidade de um desemprego em massa com a suspensão de projetos e a interrupção de obras já em andamento.
Nas grandes cidades europeias há uma padronização dos edifícios das áreas centrais que não ultrapassam os 6 andares. Em Paris essa limitação e a arquitetura dos pequenos prédios, fazem parte do charme daquela cidade, e ninguém ousaria demoli-los para, em seu lugar, construir torres imensas de mais de 40 andares, tão comuns nas cidades americanas. Quem percorrer a principal avenida de Paris saindo da Praça da Concórdia, depois, ladeado pelos prédios de uma mesma altura, todos, em virtude da Lei Malraux de 1962, sempre com suas fachadas rigorosamente limpas, se for mais longe, até o final dos Champs Eysées, contornando o Arco do Triunfo e seguindo pela Avenue de La Grand Armée, logo terá a sensação de que estaria penetrando em outra cidade em virtude da mudança brusca da paisagem urbana. Surgem os altos edifícios que formam o bairro de La Défense. Aquele bairro, juntamente com os 200 metros da Tour de Montparnasse visível de toda a cidade, resultou de um novo olhar modernizante inspirado pelo arquiteto Le Corbusier. Ha ainda grandes empreendimentos imobiliários, como o Front de Seine, a Place de Italie, que acirraram o debate sobre as transformações na paisagem da cidade. Como tudo em Paris se faz com choque de ideias, cultura, enquanto George Pompidou dizia que era preciso abandonar a estética do atraso, e que não existia arquitetura moderna sem as torres, cresciam as objeções ao modernismo desmedido que desfigurava a cidade. Venceu a ideia de que a verticalização poderia ser feita sem alterar as principais características da cidade. Paris tinha um rigoroso plano diretor, o Schéma Directeur, criado sob o olhar atento de Charles de Gaulle. O Schéma previa, ao lado dos Grands Ensemble (grandes blocos de apartamentos) os Secteurs Sauvegardés, áreas de preservação.
Não vamos nem de longe nos comparar a Paris, mas Aracaju poderia ter um Plano Diretor resultante de um olhar menos particularista sobre a cidade e que compatibilizasse as edificações com a qualidade de vida. Por termos um documento tão inconsistente é que surgem ações como aquela movida pela OAB-Se, que resultou na liminar do juiz Ronivon.
A verticalização em si não representa um atentado à mobilidade urbana, nem contribui para a deterioração ambiental. Bastaria que se aplicassem normas, que se fizesse um zoneamento, determinando onde poderiam ser construídos os grandes edifícios e onde haveria as limitações.
Algo assim, tão radicalmente estabelecido, pode realmente confirmar a preocupante projeção de desemprego em massa desenhada pelo empresário Tarcísio Teixeira.
Os problemas mais urgentes que teremos de resolver para garantir o crescimento da cidade sem que cheguemos a uma situação de caos urbano, são: a mobilidade urbana, o esgotamento sanitário, a ampliação de áreas verdes, a despoluição dos rios que cortam a cidade, a integração das diferentes camadas sociais no espaço urbano, evitando-se o surgimento dos guetos nas periferias, onde se multiplica a criminalidade.