Academia Literocultural de Sergipe – 1 mês
Publicado em 24 de novembro de 2020
Por Jornal Do Dia
* Raymundo Mello
(publicação de Raymundinho Mello, seu filho)
Há precisamente 1 mês, ou seja, no dia 24 de ou tubro último, "Dia da Sergipanidade", aconte ceu a solenidade de instalação da ALCS – ‘Academia Literocultural de Sergipe’. Na ocasião, a ‘Profa. Dra. Rita de Cácia Santos Souza’ (UFS), cadeira n.º 06 do novo sodalício, pronunciou eloquente discurso em nome de todos os acadêmicos então empossados. Com a sua anuência, publico hoje o texto no nosso artigo de opinião, felicitando todos os membros que compõem aquela valorosa arcádia. Boa leitura pra todos!
Com a palavra, a Profa. Dra. Rita de Cácia Santos Souza!
"Prezada Cris Souza, nossa presidente da ALCS; Prezado Ginaldo de Jesus, nosso vice-presidente; Domingos Pascoal, nosso diretor de comissões; Antônio Camilo, nosso tesoureiro; Marcos André, nosso secretário; Nobres acadêmicos; Meus e nossos familiares, amigos e demais convidados. Representando aqui, os acadêmicos fundadores, agradeço a todos e afirmo o nosso prazer da companhia e a honra da presença de cada um a esta solenidade. É uma alegria poder abrir com vocês a Casa de Manoel Bomfim, a Academia Literocultural de Sergipe – ALCS no dia da Sergipanidade. Casa que, como nos disse nossa presidente Cris Souza hoje, "nasce com o brilho da humildade e vontade de aprender e disseminar valores. Sergipe ganha mais um movimento literocultural para somar com as outras arcádias já existentes com respeito, fraternidade e companheirismo". Hoje, como nunca, sentimos orgulho de ser sergipanos. Se fossemos resumir nossa fala em uma palavra, seria GRATIDÃO!! Nossa gratidão a Deus por tudo!
Segundo etimologista Antenor Nascentes, academia vem de um nome próprio, de pessoa: Academo. A inspiração da nossa academia também tem um nome: Cris Souza. O convite de vocês a cada um de nós, nos encheu de alegria, pois em cada ligação pessoal, pensamos: "alguém olhou para mim e reconheceu a dedicação e zelo pelo que faço". Gratidão!
A comissão e agora presidência da Academia, trabalhou muito, com dedicação, paciência e muito respeito por meses para que hoje pudéssemos estar aqui. Quantas reuniões, esclarecimentos… Gratidão a todos! Somos de diferentes áreas de formação e atuação, mas vocês não pararam nas nossas diferenças e sim no que nos une: o empenho em contribuir com a cultura sergipana. Gratidão!
Sabemos que a sociedade constrói formas de viver, assim como constrói valores para que seja possível viver. Segundo Foucault (1999), mais importante que buscar explicar a cultura, a ciência, as ideias de uma época ou determinada sociedade, é "[…] buscar o que em uma sociedade é rejeitado e excluído. Quais as ideias ou os comportamentos, ou quais as condutas ou os princípios jurídicos ou morais que não são aceitos?" (FOUCAULT, 1999, p. 75) Gratidão ALCS por sua forma de incluir!
O nosso ilustre sergipano Manoel Bomfim, um dos grandes intelectuais de sua época (1868-1932), pedagogo, médico, psicólogo e sociólogo, já compreendia, por exemplo, que era ingênuo acreditar que fossem somente as influências hereditárias recebidas de um determinado povo que impactassem sobremaneira no caráter e intelectualidade de uma determinada população. Durante um longo período, o diferente, a mulher, o negro e o índio foram vistos como seres incapazes, mas para Bomfim, também a passividade e ignorância desses povos eram provenientes das condições sociais à qual pertenciam. Sobre o negro ele disse no seu Livro América latina: […] pensem nas míseras condições (…) jovens, (…) são arrancados do seu meio natural a transportados a granel, nos porões infectos de navios, transportados entre ferros e açoites, a um outro mundo, à escravidão desumana e implacável […] se, hoje, depois de trezentos anos de cativeiro (do cativeiro que aqui existia!), estes homens não são verdadeiros monstros sociais e intelectuais é porque possuíam virtudes notáveis (BOMFIM, 1884, p. 238).
Gratidão Manoel Bomfim! Gratidão ALCS por acolher Manoel Bomfim como Pai! Pessoas de bom senso, pessoas sábias, fazem história, nos sensibilizam e nos mobilizam.
Os patronos incidem sobre nós, aconteceu também comigo, e certamente com muitos. Não havia até o final da década de 1990, quase nenhuma referência sobre diversidade no contexto educacional, essa fala de Manoel Bomfim e a menção ao projeto do Deputado Antonio Carvalho Neto sobre a necessidade de educação dos anormais (terminologia utilizada até o início do século XX para se referir à pessoa com deficiência) em uma nota de rodapé do livro da Professora Thetis Nunes, hoje minha patrona, que vi a viabilidade e importância da pesquisa histórica. E nasceram minha pesquisa de mestrado e doutorado sobre a Educação Especial em Sergipe, incluindo o diferente na historiografia sergipana. Gratidão!
Percebo que a Academia literocultural de Sergipe vem se somar a esses e tantos outros ilustres sergipanos na busca por uma sociedade que valorize cada vez mais a sua cultura, o seu povo, a sua diversidade. Nós queremos corresponder a esse chamado fazendo jus aos nossos patronos e aos princípios da ALCS nos colocando a serviço da sociedade sergipana por uma cultura renovada, uma cultura de unidade na diversidade. Esta nova cultura, denominada Cultura da Unidade, está imbuída de sabedoria, aliás, como sempre diz Chiara Lubich, "é o casamento da sabedoria com as diferentes ciências" (Madrid, 2002), em um encontro profundo e vital. O que não quer dizer unicidade, pelo contrário, devendo ser um discurso multíplice, com todos os pensamentos, ideias, perspectivas, de ontem e de hoje, não somente para confrontar-se, mas para gerar um "produto cultural" inovador.
Senhoras e senhores, bem vindos e bem vindas à Academia Literocultural de Sergipe, à nossa casa, à casa de Manoel Bomfim. Queridos confrades e confreiras, como sempre nos diz nosso ilustre Domingos Pascoal: Avante! Precisamos somar… Vamos em frente, nós temos muito que fazer… Gratidão a tod@s!".
* Raymundo Mello é Memorialistaraymundopmello@yahoo.com.br