O delegado Thiago Leandro e o carro do taxista assassinado: jovens iriam vender o veículo
Adolescentes são acusados de assassinato
Publicado em 07 de março de 2015
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
Dois adolescentes de classe média alta confessaram a autoria do assassinato do taxista Carlos Augusto de Almeida Menezes, 51 anos, cujo corpo foi encontrado em 24 de fevereiro último no "Banho Doce", região da Aruana (zona de expansão de Aracaju). Ambos foram apreendidos ao fim da tarde de anteontem por policiais civis da Divisão de Roubos e Furtos de Veículos (DRFV) e da Divisão de Inteligência e Planejamento Policial (Dipol). O menor mais velho, de 17 anos, apontado como o responsável pelos tiros contra Augusto, estava escondido no sítio do pai, em Itaporanga D’Ajuda (Litoral Sul). Já o mais moço, de 16 anos, foi achado em um apartamento na Atalaia (zona sul), onde mora com a família.
Com eles, foram apreendidas duas armas que podem ter sido usadas no crime: uma faca de caça e um revólver calibre 38 com duas munições – que estava com o rapaz mais velho. Os dois foram identificados a partir de imagens gravadas por câmeras de segurança instaladas na região da Atalaia, ao longo do trajeto que foi percorrido pelo taxista. "Eles pegaram o táxi em frente ao condomínio São Lourenço, na Avenida Melício Machado, e estavam bem vestidos, pois tinham acabado de sair de uma festa. E pediram para ir até aquela parte da Aruana que está bem deserta, com ruas de terra. Lá, eles anunciaram o assalto", disse o delegado Thiago Leandro Oliveira, diretor do DRFV.
O delegado confirma ainda que a dupla queria manter o taxista como refém, até que o táxi dele, um VW Voyage de placa OZB-9013/SE, fosse vendido. "A intenção deles era deixar a vítima amarrada no Banho Doce, em um cativeiro, pra poder ficar com o carro com mais tranquilidade e tentar vendê-lo. Eles achavam que, com a vítima amarrada, seria mais fácil", disse, descrevendo que o plano inicial dos menores mudou durante a captura.
"Logo que eles renderam a vítima, o mais novo passou a dirigir o veículo e o Carlos Augusto foi sentar no banco de trás. Num primeiro momento, ele teria tentado pegar a arma, mas o mais velho deu uma coronhada nele, houve uma breve discussão, mas a situação foi controlada. O taxista chegou a pedir para ir ao caixa eletrônico e tirar um dinheiro para dar aos rapazes, mas eles não quiseram. No momento em que se dirigiram ao Banho Doce, o mais velho ordenou que o taxista descesse do carro e caminhasse até a praia. Foi o momento em que a vítima estava mais desesperada, viu uma oportunidade de fugir e começou a correr. Aí, o mais velho efetuou o disparo que levou a vítima a óbito", descreveu Thiago.
Depois do crime, os adolescentes deixaram o corpo em uma área de matagal e levaram o carro da vítima até o estacionamento do Condomínio Estrela do Mar, na Atalaia, onde arrancaram as placas e toda a plotagem. A dupla admitiu que queria deixar o Voyage escondido para tentar vendê-lo, mas o veículo foi encontrado e apreendido no fim da tarde do dia em que a vítima foi morta. Segundo a polícia, ficou configurado um latrocínio (roubo seguido de morte), pelo qual os menores foram autuados e tiveram a apreensão decretada pelo Juizado da Infância e Juventude de Aracaju.
Fuga – A polícia descobriu nesta semana que os adolescentes tinham planos de fugir de Sergipe para não serem descobertos pela polícia. O mais novo, sem nenhuma passagem pela polícia, pretendia ir morar com o pai biológico em Arapiraca (AL). Por sua parte, o assassino confesso estava prestes a fugir para o norte da Itália, onde a mãe mora atualmente. Ele já foi processado por roubar a pistola da avó, que é agente penitenciária, e morava sozinho em um apartamento na Atalaia, tendo todas as suas despesas bancadas pela mãe.
De acordo com o delegado Leandro, as reações das famílias dos acusados foram diferentes.
"A família do menor que conduziu o veículo é uma família de bem. Em momento algum eles sabiam do crime e nem desconfiavam, Quando nos entramos no apartamento, ele confessou o crime de imediato e foi repudiado pela própria família. O pai, o padrasto e a mãe dele foram bastante firmes. No caso do rapaz que atirou do taxista, os pais são separados e a mãe mora na Itália. Ele teria falado com a mãe e ela teria orientado a ele que ela daria apoio financeiro para que ele fugisse e fosse morar com ela na Itália. O passaporte não foi emitido porque há uma burocracia na Polícia Federal que torna o processo demorado", afirmou Leandro, ressaltando que o pai deste menor mora em Itaporanga e também não sabia do crime.
Mesmo com a apreensão dos adolescentes, o crime contra o taxista continuará a ser investigado. O diretor do DRFV não descarta a possibilidade de que outras pessoas estejam envolvidas no crime, tendo inclusive colaborado com os menores. Uma dúvida ainda existente é sobre qual a real participação de duas passageiras que pegaram o táxi de Carlos Augusto quando ele foi visto pela ultima vez, em um ponto de táxi na Farolândia (zona sul), próximo à Universidade Tiradentes (Unit). O inquérito deve ser concluído nos próximos dias. Os dois aguardam julgamento na Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (Usip), mas, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), só podem ficar detidos até, no máximo, três anos.