Quinta, 23 De Janeiro De 2025
       
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AÉCIO, O INVERSO DO AVÔ TANCREDO


Publicado em 07 de dezembro de 2014
Por Jornal Do Dia


Tancredo Neves era um político sereno, comedido,  capaz de muito tolerar desde que a tolerância não se confundisse com tibieza. Tancredo viveu momentos decisivos da vida política brasileira, e era para ele que se voltavam todos nos momentos em que o diálogo político acabava,  sendo substituído pela virulência da linguagem, e as divergências ameaçavam degenerar em conflitos. Poucas vezes Tancredo ergueu a voz além dos decibéis permitidos pela civilidade, mas ele, um ser político até a medula,  sabia quando a indignação deveria sair boca a fora.
Ministro da Justiça do presidente Getúlio Vargas, em 1954, quando oficiais da Aeronáutica rebelados criaram a chamada República do Galeão e ameaçavam invadir o Palácio do Catete para prender o presidente, numa tensa reunião em que os ministros militares davam sinais de fraqueza, Tancredo, quando usou a palavra, falou mais alto do que todos e deu a sua sugestão para acabar o motim: ¨general Zenóbio, coloque na rua as tropas da Vila Militar, ponha na cadeia o Brigadeiro Eduardo Gomes e o General Juarez Távora¨.

O Ministro da Guerra Zenóbio da Costa nada fez.
Um sergipano que se dedica ao estudo daqueles dias tensos do mês de agosto de 54, o procurador aposentado Darcilo de Melo Costa , diz, que embora pertencendo a uma família de udenistas, desde a sua juventude, quando ocorreu o episódio da morte do major -aviador Rubens Vaz, no atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, sempre enxergou na exacerbação  do ódio que então ocorreu,  a origem de todas as crises institucionais que atravessaríamos, minando as instituições até o desfecho final do golpe de 64.
O neto Aécio, vivendo em outra época, beneficiando-se de uma democracia consolidada que o avô Tancredo tanto ajudou a construir, age, criando a suspeita de que estaria interessado na ruptura da legalidade. Sabendo que os quartéis estão  pacificados e profissionalmente distantes dos embates partidários, Aécio cumpre o papel desprezível de radicalizar o clima político para fazer surgir a ideia do impeachment da presidente Dilma,  jogo arriscado e aventureiro que somente o inconformismo irresponsável de um derrotado nas urnas poderia estimular. O impeachment, como assinalou o respeitado senador do PSDB paulista Aloísio Nunes Ferreira, somente pode ocorrer quando existem provas insofismáveis de atos indignos cometidos pelo governante e, mais ainda, que esses atos o tenham levado a uma desmoralização pública que gerasse o clima para o seu julgamento por crime de responsabilidade. Assinala o senador que esse clima hoje não existe, tal como sucedeu uma única vez na nossa história republicana quando se fez o julgamento do presidente Collor. Passado o tempo se verifica que muito mais do que uma atitude saneadora, o impeachment de Collor foi  ato meramente político,  somente não gerando maiores consequências porque o presidente carecia de uma base social de sustentação, e se comportou  quase como um resignado .
Aécio, o neto de Tancredo radicaliza, diz que foi ¨derrotado por uma quadrilha¨, aí, desastradamente, incluindo todos os brasileiros que nele não votaram, e nisso ganha o espaço que lhe é concedido por uma mídia com tradição golpista, como o grupo Marinho da Globo, o Grupo Mesquita de O Estado de S. Paulo, acolitados  por outros onde se inclui o Grupo dos Chivita, ramo da máfia italiana. Quando se procura partidarizar a apuração conduzida pelo juiz Sérgio Moro daquela ladroeira monumental ocorrida na Petrobras, atrapalha-se o caminho de uma ação correta, inicialmente na estatal petroleira, mas, que poderá ampliar-se  alcançando todos os setores empresariais e públicos onde o roubo  faz parte da rotina. Toda a esperança despertada pela ação conjunta da Policia Federal, do Ministério Público e da Justiça corre o risco de se desfazer no tumulto que um grupelho fascistoide promove, ululando nas ruas  a raiva revanchista  e a ambição voltada para o ano de 2018, ou até  conspirando para antecipá-lo.
Partidarizar as apurações que agora se fazem em clima de segurança jurídica e estabilidade democrática, é o mesmo que tentar reeditar, ampliando e dando consequências graves a aquele gesto imbecil e arrogante do ex-ministro petista José Dirceu. Ele, destituído de qualquer sentimento de vergonha entrou na cadeia como se fosse um herói injustiçado levantando o punho em sinal de desafio às instituições, que  funcionaram , apesar  do vedetismo de alguns e das deformações midiáticas tantas vezes registradas.

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