Agosto de 2024: as eleições em Aracaju, as pesquisas induzidas e seus números
Publicado em 28 de setembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Cleverton Costa Silva
Dando sequência ao artigo da edição de 24 de setembro, nesta mesma sessão JD Opinião, contextualiza-se agora um panorama dos resultados das pesquisas eleitorais referentes ao mês de agosto, tendo por requisitos que estas sejam regulares no sistema de registros de pesquisas eleitorais do TSE, o PesqEle, e que vieram a público por TV e/ou internet, com os números das intenções de votos estimuladas / induzidas, por representarem uma situação em que a amostra mais tende a se comportar de forma parecida com o universo, ou seja, do total do eleitorado aracajuano.
Outras regras, já explicitadas no citado artigo do dia 24, valem aqui também: 1. Desconfiar das pesquisas é natural, mas não se deve acusar de serem “falsas” ou “compradas” sem provas; o gráfico segue critério simples de arredondamento (ex.: de 0,5 para 1, ou de 0,4 para 0); as pesquisas devem divulgar os números de todas(os) as(os) candidatas(os), brancos/nulos e indecisos, para que não se despreze margem considerável de votos que possam decidir a eleição, estratégia retórica da qual o marketing da candidata Emília Corrêa vem abusando para aproximar seus números de intenção de votos dos 50% quando enfatiza os “votos válidos”, iludindo-se e induzindo o eleitorado a erro para sonhar com uma vitória no 1º turno.
Vistos os resultados de agosto, com as respectivas barras horizontais distintas por cores, referentes aos oito institutos de pesquisas, identificados por datas de divulgação nos meios, percebeu-se naqueles dias uma campanha ainda morna, marcada pelas datas limite das convenções partidárias (5 de agosto), registro de candidaturas (6 a 15 de agosto), campanha nas ruas (a partir de 16 de agosto), e início da campanha por inserções e programas para veiculação em rádio, TV e internet apenas nos dois últimos dias do mês (a partir de 30 de agosto).
Neste sentido, num aspecto geral as candidatas mais conhecidas, Emília Corrêa e Yandra de André consolidavam na maior parte das sondagens patamares no limite superior do que se registrava até julho em intenções de votos: Emília com 30%, exceto pela primeira pesquisa do mês, da W1 Web TV, que registrou mais de 40%, e IDPS, que registrou 38%, Gadu e Veritá a traziam com intenções acima dos 30%, enquanto Única, Real Time Big Data e IFP atingiam 30%, quando arredondados, enquanto a Quaest registrava 26% em sua primeira pesquisa. Yandra registrava sólidos patamares próximos de 15%, com a Quaest registrando a baixa de 13% e as pesquisas do fim do mês, IDPS e Instituto França registrando um viés de alta, de respectivos 18% e 17%.
Com a confirmação de Fabiano Oliveira como candidato a vice na chapa governista, parte dos seus cerca de 5% ou mais em intenções de votos, que ele cravou em cinco das seis pesquisas pré-eleitorais pareciam “migrar” para a delegada Danielle Garcia, com quem ensaiou conversas para a formação de uma possível chapa, de onde se pode imaginar esta possibilidade de transferência, o que dava a impressão de que a delegada rumava para os 15%, apesar das fortes distorções dos índices, quando comparados os números dos institutos.
Luiz Roberto, mesmo beneficiado com a desistência de Katarina Feitoza, tendo Fabiano em sua chapa e com seu bloco na rua, com os apoios do Prefeito Edvaldo Nogueira e o Governador Fábio Mitidieri sendo ventilados aos quatro cantos há meses, viu as suas intenções de votos baterem os 11% em quatro das oito pesquisas aqui colhidas, 9% em duas outras (Gadu e Quaest) e 13% na pesquisa da Veritá. Na pré-campanha, a pesquisa do Instituto França de 24 de julho, a última colhida naquele período, apontava esses 9%, o maior índice favorável ao candidato governista oficial.
No campo das esquerdas, a dinâmica dos números de agosto deu significativa demonstração de sinalização positiva para a viabilidade das candidaturas do PT e do PSOL. Se estes partidos tivessem conseguido um acordo para chapa única, o agregado das pesquisas mostra que alguns números poderiam romper a barreira dos 10% ainda naquele mês de campanha morna. Somados os números de Candisse de Lula (PT) e Niully Campos (PSOL), as duas primeiras pesquisas de agosto, W1 e Única, com as amostras colhidas ainda no período do registro das candidaturas, registravam Candisse com 4% e Niully com 1%, totalizando 5%.
Com a divulgação das pesquisas Gadu e Quaest, nos primeiros dias de campanhas nas ruas, Candisse e o PT deram mostras de que a candidatura já se mostrava competitiva, pois em ambos os casos os números da candidata se aproximavam dos 10%, tendência confirmada também pela pesquisa Veritá. As últimas pesquisas de agosto, IDPS e Instituto França, deram a impressão de que o ritmo de crescimento da candidatura petista refluía um pouco, para o patamar dos 6%. Assim, o mês de agosto foi a prova de que a candidatura petista estava no páreo, na cola de Luiz Roberto e Danielle Garcia.
Quanto à candidata do PSOL, as pesquisas mostram uma pequena, porém consistente, subida progressiva em agosto, indo de 1 para 3%, com exceção da pesquisa IFP, que a coloca com 1% novamente. Tal desempenho pode apontar como tendência o que ocorreu nas eleições de 2020, onde ao final do 1º turno Alexis Pedrão conseguia 3,18% dos votos válidos, quando candidato pelo PSOL.
Resta à chapa psolista lutar para que a campanha de 2024 seja mais bem sucedida, embora maior parte dos números em setembro, a serem comentados em outro artigo, não tenham sido animadores.
As candidaturas do NOVO e do Partido da Causa Operária – PCO podem ser tratadas, de uma forma generalizante, e até grosseira, como “candidaturas dos extremos”, descoladas da realidade aracajuana. O candidato Felipe Vilanova, um professor, inscreveu-se no fim do prazo de registro, com um panfleto como Plano de Governo, possivelmente padronizado pela direção nacional do PCO, partido mais preocupado com a imagem de Neymar do que com as próprias bandeiras da esquerda brasileira, sob o domínio do controverso Rui Costa Pimenta, que oscila entre comentários e denúncias contundentes dos crimes de guerra e terror que Israel comete contra o povo palestino e repentinamente descamba para o reducionismo, quando trata a diversidade de pautas de minorias sociais como “identitarismo”.
Porém, a candidatura de José Paulo, do NOVO, apresenta-se como a face de extrema direita que Emília reluta em revelar. Em debates promovidos por canais locais hospedados no Youtube e entrevistas, foi possível saber que José Paulo é Procurador do Estado, foi assessor de Damares Alves, e se utiliza de sua posição pública para defender retrocessos como o fim das faixas exclusivas para ônibus, e causas reacionárias como o “estado mínimo”, discurso que só serve para castigar a população carente de políticas sociais. Este candidato mal pontua nas pesquisas, prega o ódio que Emília tem vergonha de assumir, mas aparentemente é a própria Emília quem acaba agregando as intenções de voto e o apoio de vereadores(as) bolsonaristas.
Por fim, os números das pesquisas para as pessoas que declararam intenções de votar branco ou nulo, assim como os indecisos, mostraram-se ainda mais divergentes. Quando agregadas as intenções de votos brancos ou nulos, esta faixa varia de 5 a 14%, o que é um número significativo, embora apenas duas das oito pesquisas registrem mais de 10% de nulos e brancos. Aqueles que não sabem ou não responderam, ou seja, os indecisos, apresentam-se com uma variação semelhante, que oscila entre 7 e 15%, sendo esta uma importante parcela do eleitorado em disputa.
Na próxima semana, serão apresentados os principais resultados das pesquisas induzidas de setembro, e a dinâmica que se desenha na reta final do 1º turno.
* Cleverton Costa Silva é pesquisador