AGRICULTURA SERGIPANA (II)
Publicado em 01 de dezembro de 2018
Por Jornal Do Dia
* Manoel Moacir Costa Macêdo
O "Censo Agropecuário de 2017", patrocinado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, mostrou entre outras informações, a participação de mulheres como responsáveis pelos estabelecimentos rurais. Em 2006 o número de estabelecimentos chefiados somente por mulheres representava 12,7% do total. Em 2017, 18,6% dos estabelecimentos rurais estavam nas mãos, exclusivamente, de mulheres. O Nordeste concentrou a maior participação de estabelecimentos rurais dirigidos exclusivamente por mulheres (23,2%), seguido pelo Norte (19,3%). No Centro-Oeste, Sudeste e Sul, a participação feminina foi abaixo da participação nacional, 16,3%, 14,0% e 12,1%, respectivamente.
Importante, observar o crescimento do acesso à internet nos estabelecimentos rurais brasileiros, de 75.407 em 2006 para 1.425.323 em 2017, aumento de 1.790,17%. A região Nordeste se destaca também pelo aumento nominal de estabelecimentos com acesso à internet. Esse crescimento possibilita o uso de novas tecnologias, acesso aos mercados e melhoria da gestão, incorporação de inovações tecnológicas, além de promover a capacitação do produtor rural e familiares. Outra informação valiosa, trata-se do predomínio de estabelecimentos agropecuários com menos de 100 ha, representando cerca de 91% do total pesquisado. Daí a importância no fortalecimento de políticas públicas para os pequenos empreendimentos rurais, e o desenvolvimento dos munícipios brasileiros. A área irrigada no Brasil, cresceu em dez anos 51,90%. No Estado de Sergipe, a área com irrigação aumentou de 20.521,00 hectares em 2016, para 29.089,00 hectares em 2017. Crescimento de 42%, abaixo da média nacional.
Ademais, em Sergipe, o total dos estabelecimentos rurais, reduziu de 100.607 para 93.333; uma redução de 1.482.437 para 1.456.813 hectares. As terras arrendadas aumentaram de 4,5% para 8,0%. As propriedades de até 10 hectares não sofreram movimentações relevantes. A ocupação de 66,4% da área total por estabelecimentos rurais, coloca o Estado de Sergipe como o primeiro do Nordeste e o sétimo do Brasil. Merece atenção, a informação de que 90,84% dos empreendimentos rurais de até cinco hectares, no Nordeste, não recebem assistência técnica. A idade média do produtor rural de 45 anos, e 23% dos produtores rurais brasileiros são analfabetos. Um campo envelhecido e pouco educado. Triste realidade, reveladora do nosso secular atraso.
As propostas para o desenvolvimento da agricultura sergipana, seguindo o artigo anterior, ultrapassam as responsabilidades exclusivas do Estado de Sergipe. Exigem parcerias e integração com as organizações púbicas e privadas; governamentais e não-governamentais. Algumas em andamento, a exemplo do território estratégico do SEALBA – Sergipe, Alagoas e Sergipe, formulado pela Embrapa Tabuleiros Costeiros e apresentado aos respectivos governos estaduais. Destaques às ações em C,T&I, assistência técnica e fomento, em curso pelo BANESE, COHIDRO, EMDAGRO, FAPITEC e SERGIPETEC, entre outras. Entes federais, estaduais e municipais, devem ser chamados para esse desafio, como EMBRAPA, IBAMA, INCRA, UFS, Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário, da Saúde, Prefeituras, Assembleia Legislativa e Secretarias afins. Imprescindíveis numa coordenada ação política coordenada, com estratégias aglutinadoras de intervenção no desenvolvimento estadual. Prioridade às parcerias público-privadas, com o SENAR, SEBRAE, Federações de Agricultura Patronais e de Trabalhadores, ONG’s, e o setor produtivo em suas várias dimensões e diversidades.
Numa "mudança de época", um novo rural emergiu. As inovações tecnológicas, o protagonismo dos consumidores, a sustentabilidade, e a capacidade empreendedora dos produtores rurais definem o novo padrão da agricultura. O êxito do processo produtivo da cultura do milho no Estado de Sergipe, entre os primeiros no Nordeste, exemplifica esse novo mundo rural. A sua cadeia de valor, onera o erário público apenas na estratégica infraestrutura, nos estímulos políticos, e na legitimidade das suas ações. Os riscos, e são muitos, da "produção ao consumo", estão nos ombros dos agentes produtivos.
Planejar o pujante setor agropecuário numa perspectiva global, exigem competências estabelecidas nos níveis públicos e privados, sob pena de fracassar ou permanecer na histórica dependência dos subsídios públicos generosos, das seletivas anistias, e das patrimoniais políticas estatais que reproduzem a persistente e vergonhosa desigualdade.
* Manoel Moacir Costa Macêdo, Engenheiro Agrônomo, PhD pela University of Sussex, Brigthon, Inglaterra